O ex-ministro Aldo Rebelo, que ocupou ministérios dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT), classificou como “fantasia” a alegação de que os atos de 8 de janeiro de 2023 visavam um golpe de Estado. A narrativa criada pelos petistas é contestada por um dos mais destacados militantes da esquerda brasileira, que diz que a teoria nada mais é do que um motivo para “legitimar” o sentimento de polarização atribuído ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo Rebelo, essa alegação serve apenas para manter viva essa suposta polarização política e dar tração a uma aliança entre o executivo e o Judiciário para se contrapor ao Legislativo. Para ele, atribuir o que foi um ato de um “bando de baderneiros” é desmoralizar a “instituição do golpe de Estado”.
“Faz bem à polarização atribuir ao antigo governo a tentativa de dar um golpe. Criou-se uma fantasia para legitimar esse sentimento que tem norteado a política nos últimos anos. É óbvio que aquela baderna foi um ato irresponsável e precisa de punição exemplar para os envolvidos. Mas atribuir uma tentativa de golpe a aquele bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do golpe de Estado”, disse em entrevista ao Poder 360 publicada nesta segunda (8).
O ex-ministro comparou os atos de 8 de janeiro de 2023 aos ataques do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) à Câmara dos Deputados em 2006, quando presidia a Casa. Nesse contexto, ele enfatiza que a atitude foi tratada como baderna, não como tentativa de golpe. “Eu dei voz de prisão a todos. A policia os recolheu e eu tratei como o que eles de fato eram: baderneiros. Não foi uma tentativa de golpe. E o que houve em 8 de janeiro é o mesmo”, completou.
Rebelo questionou a ideia de que Lula e o STF são responsáveis por salvar a democracia, sugerindo que essa narrativa atende a uma aliança entre Executivo e Judiciário contra o Legislativo. Ele aponta as dificuldades enfrentadas por Lula no Congresso e o movimento para reduzir o poder do Judiciário como motivadores dessa aliança.
“Atribuir ao STF a responsabilidade de protetor da democracia é dar à Corte uma função que ela não tem nem de forma institucional, nem politica. Isso atende às necessidades do momento [...] é uma compensação”, disse.
Apesar de sua trajetória na esquerda, com militância contra a ditadura militar e filiação ao PC do B, Rebelo hoje se distancia da política partidária, tendo seu último cargo em 2018 como secretário-chefe da Casa Civil do governo de Márcio França, em São Paulo.
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