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Pelo menos seis ex-ministros dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT) e de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assinaram um manifesto em que ataca o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e prega o isolamento do que chamam de “direita autoritária e da extrema direita” nas eleições gerais de 2026.
O documento intitulado “Carta em Defesa da Democracia e da República: Juntos em Frente” é assinada pelos ex-ministros Tarso Genro, Cristovam Buarque (governo Lula), Aloysio Nunes Ferreira (FHC), José Eduardo Cardozo, Renato Janine Ribeiro (Dilma) e Nelson Jobim (que serviu aos três governos), além de outros políticos, cientistas políticos, pesquisadores, advogados, jornalistas, economistas, entre outros, e já conta com 83 adesões.
A Carta propõe um “amplo movimento cívico descentralizado, com iniciativas locais, regionais, nacional” para uma alegada defesa do “futuro da democracia no país”.
“A herança do governo anterior, com um déficit fiscal de R$ 782 bilhões, desmanche de instituições e políticas públicas, negação retrógada da inteligência científica universal, propagação da violência miliciana e o culto da morte – erigidos como política de Segurança Pública – também são um legado perverso do qual devemos defender o país”, diz trecho em que ataca o governo de Bolsonaro, divulgada pela Folha de S. Paulo nesta quinta (16) (veja na íntegra mais abaixo).
O manifesto propõe que os “objetivos” propostos sejam levados em consideração já a partir do primeiro turno das eleições gerais do ano que vem, ou “alternativamente” no segundo. O pleito elegerá, entre outros cargos, novos deputados federais e senadores.
“Afirmamos, primeiro, que a solução é mais democracia, não menos; e que isso só será possível com o suporte de um campo político unificado, capaz de mostrar diferenças: entre democracia e ditadura; entre frentes políticas eleitorais sem princípios e frentes eleitorais baseadas em princípios mínimos, tanto voltados para a restauração da dignidade da política, como da preservação dos Poderes da República”, pontuam os signatários.
Para isso, diz a Carta, é preciso evitar que partidos vistos pelo grupo como democráticos firmem alianças com aqueles que “proponham ditaduras de qualquer natureza nos processos eleitorais”.
“Compromisso de não firmar alianças com setores de partidos ou partidos, da direita autoritária e da extrema direita, ou de quaisquer organizações partidárias que proponham ditaduras de qualquer natureza nos processos eleitorais em curso no ano vindouro”, apontam.
O grupo segue e afirma que “estas novas frentes denunciarão tentativas golpistas, defenderão a identidade laica do Estado, defenderão a profissionalização das Forças Armadas e seus proponentes envidarão esforços desde agora – autônomos, comuns ou associados em rede – para proporcionar múltiplas manifestações e novos manifestos pautados pelos objetivos ora concertados”.
Além da defesa pelo isolamento de partidos da direita, o manifesto também critica o Congresso Nacional pelo que seria uma “extorsão orçamentária” com a crescente reserva de recursos para emendas parlamentares com pagamento obrigatório, que afirmam subverter a relação institucional entre os poderes.
Tarso Genro (PT) diz que o objetivo é “reconstruir a dignidade perdida do Congresso Nacional”. No trecho da Carta sobre isso, o grupo afirma que é preciso “bloquear a influência no Congresso Nacional, de bancadas oligárquicas e fisiológicas, que se dedicam a extorquir, para proveito próprio, os orçamentos públicos”.
“É um chamado ao amplo espectro das instituições que defendem a democracia em busca de uma saída consensual e negociada para a situação em que estamos”, emendou o petista destacando que o grupo “não tem ambição de interferir nos partidos, mas, sim, no pensamento político dos eleitores”.
Segundo o ex-ministro, o manifesto foi articulado nos últimos quatro meses e terá um site lançado em breve para ampliar a campanha de adesão.
Veja abaixo a íntegra da Carta do grupo a que a Folha de S. Paulo teve acesso antes do lançamento do site:
CARTA EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DA REPÚBLICA: JUNTOS EM FRENTE
Esta carta é dirigida a todos os que professam a democracia e defendem a paz e a ordem republicana do Estado Social da Constituição de 1988. E é um manifesto em defesa do Brasil, como país soberano, do trabalho como valor fundamental, da construção da nação como comunidade de destino, do empreendedorismo inovador -em todos os níveis- baseado na inteligência cientifica universal.
As guerras das grandes potencias militares com seus interesses estratégicos estão transformando o planeta inteiro num catastrófico teatro de ações políticas e operações militares, que já ameaçam as condições naturais mínimas para a sobrevivência dos humanos e a soberania das nações. As guerras, em geral, são propagadoras da barbárie e alimentadoras do autoritarismo e das ditaduras.
Esta Carta propõe que aqui no Brasil, a partir da sociedade civil, propaguemos um amplo movimento cívico descentralizado, com iniciativas locais, regionais, nacional -idênticas ou análogas - para defender o futuro da democracia no país. A herança do governo anterior, com um déficit fiscal de 782 bilhões, desmanche de instituições e políticas públicas, negação retrógada da inteligência científica universal, propagação da violência miliciana e o culto da morte - erigidos como política de Segurança Pública -também são um legado perverso do qual devemos defender o país.
Afirmamos, primeiro, que a solução é mais democracia, não menos; e que isso só será possível com o suporte de um campo político unificado, capaz de mostrar diferenças: entre democracia e ditadura; entre frentes políticas eleitorais sem princípios e frentes eleitorais baseadas em princípios mínimos, tanto voltados para a restauração da dignidade da política, como da preservação dos Poderes da República.
Esta Carta, portanto, propõe que é possível estabelecer uma comunicação entre as múltiplas visões democráticas - nos Estados e na própria União - para buscar pontos de unidade em direção a novas Frentes políticas, com suas especificidades regionais, já no1º turno ou, alternativamente, no 2º turno das eleições de 2026, pautando-se pelos seguintes objetivos:
1. Bloquear a influência no Congresso Nacional, de bancadas oligárquicas e fisiológicas, que se dedicam a extorquir, para proveito próprio, os orçamentos públicos, assim subvertendo a relação institucional entre os poderes da União;
2. Defesa dos princípios do Estado de Direito da Constituição de 88 e da preservação dos seus poderes constitucionais;
3. Defesa de uma política interna e externa, que unifique o país na transição climática, para uma potente política de prevenção de catástrofes e de redução das desigualdades sociais e regionais;
4. Compromisso de não firmar alianças com setores de partidos ou partidos, da direita autoritária e da extrema direita, ou de quaisquer organizações partidárias que proponham ditaduras de qualquer natureza nos processos eleitorais em curso no ano vindouro.
Estas novas frentes denunciarão tentativas golpistas, defenderão a identidade laica do Estado, defenderão a profissionalização das Forças Armadas e seus proponentes envidarão esforços desde agora - autônomos, comuns ou associados em rede – para proporcionar múltiplas manifestações e novos manifestos pautados pelos objetivos ora concertados.