Escolhido para comandar interinamente o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ricardo Cappelli acelerou nos últimos dias as trocas de servidores do órgão. Cappelli - que é ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), e um dos homens de confiança do ministro da Justiça, Flavio Dino (PSB) - assumiu a pasta depois que o general Gonçalves Dias pediu demissão após a divulgação das imagens do dia 8 de janeiro. Os vídeos mostram que o ex-ministro-chefe e outros integrantes do GSI estavam dentro do Palácio do Planalto e não atuaram para conter os vândalos que invadiram e depredaram a sede do Executivo.
Oficialmente, Cappelli ocupa o cargo de secretário-executivo do Ministério da Justiça, mas atuou como interventor da segurança no Distrito Federal depois dos atos de vandalismo. À frente do GSI, ele já promoveu a troca de pelo menos 35% dos militares que estavam atuando na pasta desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 1º de janeiro. Ele, porém, não especificou a quantos servidores do GSI essa porcentagem equivale. "Já foram substituídos 35% dos servidores que trabalhavam no GSI. Isso é absolutamente natural. Quando há troca de governo, é natural que se troque a maior parte do quadro funcional, faz parte da normalidade, e a gente vai acelerar esse processo", afirmou.
Nesta quarta-feira (26), por exemplo, Cappelli assinou 29 exonerações. A lista é formada por quadros em cargos de direção dentro do GSI, e conta com oficiais-generais das três forças armadas. Entre os 29 nomes anunciados, 26 retornam às forças de origem.
Um deles é o coronel da reserva do Exército Jorge Henrique Luz Fontes, que chefiava o gabinete da secretaria-executiva do órgão. De acordo com o Portal da Transparência, Fontes ocupava o cargo desde fevereiro de 2022, último ano do governo de Jair Bolsonaro. A secretaria-executiva do GSI até a semana passada era comandada pelo general Ricardo José Nigri.
Além disso, na noite desta quarta-feira (26), outros oito nomes de militares exonerados e oito dispensados do GSI do grupo citado foram publicados em edição extra do Diário Oficial da União.
Não é possível saber, porém, quantos desses militares tomaram a iniciativa de pedir exoneração. Uma parte deles não concorda com as medidas tomadas pelo governo Lula e pelo ex-presidente da UNE colocado à frente do GSI. Fontes ligadas à pasta disseram à reportagem que muitos oficiais preferiram voltar às suas forças do que seguir sob o comando direto dos petistas.
“Há uma determinação do presidente da República para que a gente acelere a renovação dos quadros funcionais. É um esforço claro de coletar dados e informações, para que eu possa apresentar um raio-x ao presidente Lula, quando ele voltar na próxima semana", disse Cappeli na segunda-feira (24).
A expectativa é de que o interino apresente ao presidente uma avaliação sobre a estrutura de funcionamento do GSI. A previsão é que Lula receba um relatório sobre o tema na volta da viagem à Espanha. A partir daí, o petista vai fazer uma avaliação sobre o formato e uma possível continuidade ou extinção do GSI.
O órgão, que em governos anteriores era responsável pela segurança da Presidência e dos palácios do Planalto e Alvorada, teve suas funções esvaziadas na gestão petista com a divulgação do vídeo em que o agora ex-ministro Gonçalves Dias e funcionários do GSI aparecem circulando entre os invasores do Planalto. Integrantes do PT defendem que haja a extinção do órgão.
Aliados de Lula afirmam que Cappelli está promovendo um "raio-x" para levantar quais militares do GSI ainda estão em sintonia com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A ideia é fazer uma nova leva de dispensa de militares nos próximos dias.
“Ao convidá-lo para assumir interinamente o GSI, uma das coisas que ele [Lula] solicitou é, sim, fazer um raio-x, uma avaliação de qualquer pessoa que tenha tido qualquer participação nos atos terroristas do dia 8 de janeiro”, afirmou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Militar da reserva é cotado por Lula para assumir o GSI
Paralelamente ao trabalho de Cappelli, Lula tem buscado alternativas para a nova estrutura do GSI. Após a demissão de Gonçalves Dias, o petista conversou com o general da reserva Marcos Antônio Amaro dos Santos, um dos cotados para eventualmente assumir o órgão.
O general Amaro dos Santos foi chefe do GSI no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e é tido como pessoa de confiança por integrantes do PT. Lula se reuniu com Amaro ainda na semana passada e, segundo assessores do Planalto, o petista indicou que ainda não definiu o futuro do órgão. Se for mantido, porém, será com uma estrutura híbrida, com a presença também de civis.
Amaro, no entanto, chegou a defender que o GSI mantenha o status de ministério e volte a coordenar a segurança da Presidência e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Atualmente, a segurança de Lula é feita pela Polícia Federal e a Abin foi transferida para o guarda-chuva da Casa Civil depois dos atos do 8 de janeiro.
Nesta quinta-feira (27), antes de um novo encontro com Amaro, Lula pretende discutir o tema com os ministros José Múcio Monteiro Filho (Defesa), Flávio Dino (Justiça) e Rui Costa (Casa Civil), além do interino Ricardo Cappelli. A defesa nas Forças Armadas, compartilhada pelo ministro Múcio Monteiro, é de que a estrutura siga no primeiro escalão da Esplanada dos Ministérios.
Janja e integrantes do PT defendem a desmilitarização do Gabinete de Segurança
Em outra frente, integrantes do PT e a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, têm defendido nos bastidores que Lula indique um civil para comandar o GSI. Os governistas defendem, por exemplo, o nome do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para o posto. O ministro da Justiça, Flávio Dino, a quem Rodrigues está subordinado, também apoia a ideia.
Nos últimos dias, o delegado federal Alexsander Castro de Oliveira, que comanda a secretaria Extraordinária de Segurança Imediata e foi indicado por Andrei Rodrigues, passou a articular dentro do Palácio do Planalto a indicação de um civil para substituir Gonçalves Dias. A secretaria comandada por Oliveira foi criada por Lula para assumir as funções de proteção do chefe do Executivo, que tradicionalmente ficavam a cargo do GSI.
A nova estrutura, formada predominantemente por policiais federais, atuaria até 30 de junho, enquanto o governo conclui o que afirma ser a “despolitização” do Gabinete de Segurança Institucional. Alegando desconfiança com os militares, Janja e líderes do PT no Congresso defendem que Lula opte por um civil para o órgão.
No início do ano, logo após os atos de 8 de janeiro, aproximadamente 60 militares do GSI foram dispensados da Presidência da República. Eles eram de patentes mais baixas, como soldados, cabos e sargentos. A maioria dos integrantes do GSI são militares das Forças Armadas, que devem voltar para suas funções.
“O secretário-executivo Ricardo Cappelli está lá transitoriamente, por determinação do presidente Lula, entre outros motivos, para fazer essa análise. E o presidente da República, quando retornar da viagem internacional que está fazendo, vai tomar a decisão final sobre a natureza do GSI, se ele continua, em que termos, e como será essa eventual nova estruturação", defendeu Flávio Dino.
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