Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro deixa a Polícia Federal, em Juiz de Fora, após interrogatório em 6 de setembro de 2018: ele diz ter agido sozinho.| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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Quem mandou matar Bolsonaro? A pergunta voltou a figurar nos trending topics do Twitter, nesta segunda-feira (11), após o advogado Frederick Wassef afirmar em entrevista à Band TV que uma nova testemunha do crime acusa o PT de pagar Adélio Bispo de Oliveira para esfaquear o presidente Jair Bolsonaro. O atentado contra o então candidato ocorreu durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018. Wassef é advogado da família Bolsonaro e responsável pela estratégia de defesa do senador Flávio Bolsonaro no caso Queiroz.

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Segundo Wassef, a testemunha ainda anônima foi responsável por segurar e conduzir Adélio Bispo para um prédio logo após a facada que ele desferiu em Bolsonaro. “Fui procurado por esta pessoa, que é quem detém Adélio. Há uma testemunha que o detém e o conduz até um prédio e ali eles ficam por um tempo. Sim, essa pessoa esteve por um tempo a sós com Adélio e tem gravação disso, vou levar à Procuradoria-Geral e à Polícia Federal”, disse o advogado, durante o programa Aqui na Band. Wassef evitou dar mais detalhes: "não estou imputando nada a ninguém, apenas relatando fatos", afirmou.

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O caso voltou à tona após a demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. O presidente da República nunca se conformou com o resultado das investigações, de que Adélio agiu sozinho, e voltou a citar o assunto em tom de insatisfação no pronunciamento que fez após Moro pedir demissão. “Foi um lobo solitário. Como pode um lobo solitário com três advogados? Quatro celulares? Inclusive, andando pelo Brasil”, questionou.

O ex-ministro saiu do governo acusando Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal, fato que ele reforçou em depoimento à PF em um inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar as acusações. Para Bolsonaro, sob a condução de Moro, a PF estava “mais preocupada” em desvendar o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (Psol) do que em tentar descobrir quem mandou matar “seu chefe supremo”, se referindo ao episódio da facada.

A Polícia Federal deve divulgar nos próximos dias um relatório parcial das investigações de um segundo inquérito, aberto para apurar a existência ou não de um mandante do atentado a faca sofrido pelo presidente. Não está claro se a polêmica declaração do advogado de Bolsonaro pode atrasar ou complementar o relatório da PF.

Adélio Bispo foi identificado como autor da facada no mesmo dia e preso em flagrante. No ano passado, a Justiça Federal considerou o acusado inimputável por transtorno mental, e a defesa do presidente da República não recorreu da decisão. Ele foi diagnosticado com transtorno delirante persistente e cumpre internação no Hospital Psiquiátrico de Custódia Jorge Vaz, em Barbacena (MG).

No dia seguinte da saída de Moro, Bolsonaro disse que o caso Adélio “foi negligenciado” e que a apuração seria “reaberta” com o novo comando da PF. "Jair Messias Bolsonaro foi vítima de um atentado terrorista orquestrado por uma organização criminosa", garantiu Wasseff à Band TV. "Existem outras testemunhas apavoradas e com medo de serem assassinadas”, disse.

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PF ainda não fechou inquérito que apura suposto mandante do atentado

A Polícia Federal ainda tem aberto um segundo inquérito para apurar se Adélio realmente agiu sozinho ou se há um mandante por trás do crime. Nesta investigação, a PF analisou as informações bancárias de Adélio, os registros telefônicos e e-mails, além das publicações em redes sociais. A perícia nestes elementos de provas não encontrou, até agora, indícios de participação de terceiros na tentativa de assassinato de Bolsonaro.

Dois dias depois da demissão de Moro e das novas cobranças de Bolsonaro, em carta aberta ao presidente, a Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF) disse que o inquérito do caso foi conduzido com prioridade e atendendo aos protocolos.

"O inquérito recebeu total atenção da PF, e seguiu em caráter prioritário em razão de ser um crime contra a segurança nacional e a própria democracia”, diz o texto. “As linhas investigativas continuam sendo exauridas para que, ao final, a sociedade tenha a certeza absoluta de que a verdade foi alcançada ou foram esgotadas todas as possibilidades de apuração", continua.

Na nota, a ADPF afirmou ainda que "não é possível produzir em uma investigação um resultado específico desejado. As atividades da Polícia Federal seguem a legislação e protocolos pré-estabelecidos e estão sob os controles da Corregedoria, do Ministério Público, do Judiciário, da Controladoria Geral da União, do Tribunal de Contas da União, das defesas e, em última análise, da sociedade organizada".

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Moro falou sobre investigação em depoimento

Em seu depoimento à PF no dia 2 de abril, Moro falou sobre as investigações envolvendo o atentado. O ex-ministro afirmou que antes do final das investigações não é possível concluir se Adélio agiu ou não sozinho no atentado contra o presidente durante a campanha eleitoral de 2018.

Moro reiterou que, ao contrário do que foi dito por Bolsonaro, jamais obstruiu a investigação e teria pedido a Advocacia-Geral da União para defender o acesso ao celular do advogado de Adélio, “não pelo interesse pessoal do Presidente, mas também pelas questões relacionadas à Segurança Nacional”, disse o ex-ministro.

Moro também defendeu a investigação da PF. “A Polícia Federal de Minas Gerais fez um amplo trabalho de investigação e isso foi mostrado ao Presidente ainda no primeiro semestre do ano de 2019, numa reunião ocorrida no Palácio do Planalto” disse.

A apresentação da investigação ao presidente, segundo Moro, decorreu “da sua condição de vítima e ainda por questão de Segurança Nacional, entendendo o Declarante que não havia sigilo legal oponível ao Presidente pelas circunstâncias especiais”. Moro destacou ainda que a investigação sobre possível mandante para o crime ainda não foi finalizada.

Investigação foi feita com imparcialidade, diz delegado que presidiu primeiro inquérito

O advogado Frederick Wassef questiona o tempo de investigação do primeiro inquérito (30 dias), que concluiu não haver um mandante do crime. “O delegado da Polícia Federal disse que tinha prazo para terminar o inquérito, 30 dias, mas 99,9% dos inquéritos levam mais de anos para serem concluídos. Então, o delegado, usando da justificativa dos 30 dias, encerra o documento. A polícia de Juiz de Fora não investigou, desmembrou o inquérito. Ao invés de apurar a verdade e chegar aos mandantes, isolam o Adélio dizendo que ele é um louco”, acusou o defensor de Bolsonaro.

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Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o delegado da Polícia Federal Rodrigo Teixeira, ex-superintendente da PF em Minas Gerais e que presidiu o primeiro inquérito, explicou que a curta duração do procedimento inicial se deve ao fato de ter havido uma prisão em flagrante. Teixeira disse que toda a apuração foi conduzida de forma isenta e profissional, e não vê razão para que se duvide do trabalho executado pela PF na investigação.

"Foi feito um trabalho com toda dedicação, toda imparcialidade, cumprindo todas as formalidades legais. A instituição Polícia Federal merece, no mínimo, respeito de qualquer cidadão, desde o cargo mais humilde da República”, afirmou o delegado, que foi exonerado do cargo na PF de Minas, em fevereiro do ano passado, por, segundo ele, contrariar o desejo do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos de encontrar um mandante do crime.

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