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O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou falhas em uma iniciativa do governo federal para melhorar os índices de resolução de homicídios. A falta de metas e indicadores adequados, segundo o órgão, "compromete a eficiência da ação estratégica", que está prevista no Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSP).
Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a avaliação do TCU será usada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para pressionar estados e municípios a apoiarem a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do SUS da Segurança Pública, que tem como um dos objetivos padronizar protocolos, informações e dados estatísticos. O tribunal deu ao Ministério da Justiça 180 dias para fazer as adequações
A PEC do SUS da Segurança Pública foi apresentada pelo governo Lula em outubro e causou uma série de reações negativas de governadores diante do risco de centralização de poderes e decisões no governo federal, tirando competências sobre a segurança pública dos Executivos estaduais. A União, porém, diz que a proposta é apenas uma versão inicial e vai colher sugestões e apontamentos dos entes federados para aprimorá-la. A reportagem solicitou manifestação do Ministério da Justiça sobre os apontamentos do TCU e se isso deve ser considerado na PEC da Segurança Pública, mas até a publicação da reportagem não obteve retorno.
O Plano Nacional de Segurança Pública foi implementado ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2021, e se estende até 2030. Na fase atual, propõe melhorar os índices de resolução de crimes violentos letais intencionais, como homicídios, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Para ser estruturado, é necessária uma estrutura de parceria para integração de medidas e compilação de dados entre União, estados e municípios. Contudo, segundo o TCU, o plano não possui metas e indicadores adequados para medir a eficiência da ação, e a falta de uma linha de base torna difícil avaliar o seu impacto.
Para Sérgio Gomes, especialista em segurança pública, os pontos elencados pelo Tribunal de Contas podem servir para o governo federal acelerar, com estados e municípios, a tramitação da PEC do SUS da Segurança Pública, avaliando que os dados precisam ser melhor compilados diante do prazo estipulado à União para as adequações.
“A PEC já vem numa proposta, ao que tudo indica, de centralização de poder, ações e coordenação do Ministério da Justiça tirando espaço e atuação dos estados. Os apontamentos do Tribunal podem estimular o governo para que pressione a tramitação da PEC e assim ficar em "conformidade" com as determinações”, avalia.
O TCU também destacou outros pontos críticos que precisam ser melhorados pelo Ministério da Justiça. Entre as falhas estão:
- Ausência de metas e indicadores adequados: As metas e os indicadores não estão relacionados ao aumento das taxas de resolução dos crimes e carecem de uma linha de base para medir sua eficácia e eficiência. A falta dessas informações prejudica a avaliação da ação estratégica.
- Implementação do Sinaped: O Sistema Nacional de Acompanhamento e Avaliação das Políticas de Segurança Pública e Defesa Social (Sinaped), previsto pela Lei 13.675/2018, ainda não foi implementado. Esse sistema deveria ser utilizado para realizar análises anuais do plano nacional de segurança, mas até o momento não houve avaliação.
- Deficiência de dados estatísticos: O TCU identificou a falta de dados essenciais para diagnosticar a situação dos crimes violentos no Brasil. O Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), criado para integrar dados e apoiar a execução e acompanhamento das políticas públicas, também apresenta falhas, pois não possui normas ou ferramentas adequadas para garantir a integridade e a confiabilidade dos dados recebidos de estados e municípios.
O advogado Alex Erno Breunig, especialista em Direito Penal, lembra que já existem leis, decretos e portarias que tratam desses pontos, como a lei do SUS da Segurança Pública. Ele avalia, porém, que, mesmo assim, os apontamentos do TCU podem contribuir à aceleração da tramitação da PEC do SUS da Segurança.
TCU pede revisão de plano para que metas e ações à segurança pública sejam cumpridas
O Tribunal de Contas da União recomendou que o ministério revise o Plano Nacional de Segurança Pública vigente para garantir que todas as ações estratégicas da segurança pública contemplem metas e indicadores adequados, permitindo a avaliação da efetividade.
O TCU também sugeriu que o Ministério da Justiça estabeleça uma meta nacional para a resolução dos crimes violentos contra a vida, desenvolva estratégias para redução desses crimes, publique periodicamente estudos sobre a criminalidade e a resolução desses crimes e disponibilize dados para elaboração de políticas públicas mais eficazes à segurança pública.
"A importância do tema decorre das altas taxas de homicídio verificadas no Brasil. O Mapa da Segurança Pública de 2024, estudo publicado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, apontou o registro de mais de 120 mil crimes violentos letais intencionais entre os anos de 2020 e 2022”, destacou o relator do processo no TCU, ministro Benjamin Zymler.
Para o advogado Alex Erno Breunig, melhorias nos índices de segurança pública poderiam ser asseguradas dando mais liberdade a estados para legislar sobre o tema.
“A Constituição teria que ser alterada para dar mais autonomia aos estados, não para diminuir a autonomia deles. Questões como porte de arma e cumprimento de penas deveriam ser competência legislativa dos estados. Da mesma forma, padrões de procedimentos têm que respeitar as características da população local e as especificidades do crime, que em determinadas regiões é extremamente violento”, opina.
O advogado Márcio Nunes, especialista em Direito Penal, também acredita que o relatório do TCU pode ser usado pelo governo para pressionar a aprovação da PEC do SUS da Segurança Pública, mas faz ressalvas sobre proposta do governo Lula.
“É necessária uma ação focada do Ministério da Justiça para o enfrentamento das organizações criminosas, mas em parcerias com os estados, que é onde essas organizações atuam mais fortemente e, sobretudo, em regiões de fronteira”, diz Nunes.
Pelos prazos estipulados pelo TCU, o Ministério da Justiça e Segurança Pública deverá apresentar as adequações ao Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social até o fim do primeiro semestre de 2025.