A aprovação acelerada de uma acareação entre o ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência Social) e o deputado Luís Miranda (DEM-DF) se justifica por "vários elementos novos" que a CPI da Covid do Senado obteve após quebras de sigilos realizadas pela comissão. A análise é do vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e do relator Renan Calheiros (MDB-AL), que concederam entrevista coletiva após a sessão da CPI desta quarta-feira (11).
Randolfe e Calheiros não citaram quais seriam esses elementos e destacaram que parte das informações precisa permanecer sob sigilo. Eles também mencionaram que a votação inusitada do requerimento de convocação — feita entre uma pergunta e outra na sessão desta quarta — foi parte de um "efeito surpresa" que a comissão quis passar. "O presidente Omar fez como deve ser feito em uma investigação", disse Randolfe, em referência ao presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).
A expectativa é que a acareação entre Miranda e Onyx ocorra na próxima quarta-feira (18). O pedido do encontro foi apresentado à CPI pelo senador Randolfe. A cúpula da CPI, formada por Aziz, Randolfe e Renan, decidiu pautar o pedido de acareação ainda antes da reunião do dia 11.
Onyx e Miranda são personagens de um dos episódios investigados pela CPI, que é a compra das vacinas Covaxin pelo Ministério da Saúde. O irmão do deputado é servidor de carreira da pasta e relatou a Miranda ter identificado um esquema de privilégio à Covaxin e à sua fabricante, a Bharat Biotech, dentro do Ministério. Miranda disse então que levou as acusações ao conhecimento do presidente Jair Bolsonaro.
Quando as denúncias do deputado vieram a público, em junho, Onyx foi o encarregado de rebatê-las. Ele fez um pronunciamento no Palácio do Planalto em que contestou datas e valores mencionados por Miranda em suas acusações. A discrepância entre as versões é o que será exposto na acareação do dia 18.
O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) chamou a acareação de "mais uma pedalada da CPI". Segundo ele, a comissão, que é formada principalmente por senadores que fazem oposição ao governo Bolsonaro, tem se caracterizado por momentos de "espetacularização". "Onyx Lorenzoni sequer foi ouvido pela CPI. A acareação é um instrumento que pode ser utilizado, mas depois de esgotadas as outras ferramentas investigativas", criticou.
Renan sugere indiciamento de Bolsonaro em relatório
O relator a CPI foi questionado sobre a inclusão do indiciamento do presidente Jair Bolsonaro em seu relatório final da comissão. Informações de bastidores indicavam que Calheiros tinha decidido propor o indiciamento de Bolsonaro pelos crimes de curandeirismo, charlatanismo e propaganda enganosa, entre outros. O principal motivo é a defesa feito pelo presidente de medicações que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19, como a cloroquina e a ivermectina.
Na entrevista coletiva, porém, o emedebista não confirmou nem desmentiu a ideia de indiciar Bolsonaro. Ele descreveu que o rol de crimes identificados pela CPI é amplo e que depoimentos como o desta quarta reforçaram uma possível conexão entre membros do governo e práticas ilícitas.
O parlamentar não detalhou os supostos crimes e disse que a relação será explicitada "no momento certo".
"Que Barros esteja preparado com a verdade", diz Randolfe
A CPI recebe na quinta-feira (12) o líder do governo na Câmara, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR). O depoimento dele é um dos mais aguardados pela comissão. Segundo Luís Miranda, o presidente Bolsonaro teria dito a ele que o esquema de corrupção no Ministério da Saúde era "coisa do Ricardo Barros". Desde que a frase veio a público, em junho, a CPI fala em ouvir Barros, e o deputado se colocou à disposição da comissão — mais do que isso, foi ao Judiciário para pedir a antecipação de seu depoimento.
Randolfe disse esperar que Barros "esteja preparado com a verdade". "Se ele estiver dotado da verdade, ele pode sair com um atestado de inocência em relação a tudo", afirmou.
Barros nega as acusações. Bolsonaro não se manifestou diretamente sobre o caso, mas fez declarações positivas sobre Barros depois do ocorrido.
Randolfe e Renan confirmaram também que a previsão da CPI é ouvir no dia 19 o empresário Francisco Maximiano, proprietário da Precisa Medicamentos. A empresa foi a intermediária nas negociações entre o Ministério da Saúde e a Bharat Biotech e teria conexões com as denúncias de superfaturamento e privilégios. Maximiano já teve seu depoimento agendado pela CPI em outras ocasiões, mas conseguiu adiar a oitiva. O senador do Amapá disse que o empresário "já abusou da tolerância" da comissão.
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