Apesar de o recesso parlamentar ser oficialmente em julho, o Congresso Nacional tem a tradição de diminuir suas atividades em junho, momento em que os parlamentares retornam para os seus estados para comemorar as tradicionais festas juninas, como o São João comemorado na próxima segunda-feira (24).
Em uma espécie de recesso extraoficial na semana que vem, o Senado e a Câmara dos Deputados adotarão o sistema de votação remota, ou seja, não precisarão estar em Brasília para registrar seus votos. "Excepcionalmente, no período de 24 a 28 de junho de 2024, não será exigido o registro biométrico”, diz um ato assinado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na sexta-feira (21).
A importância dessas festividades fica evidenciada nas conversas com os parlamentares sobre votações que podem ficar para o próximo semestre, pois há uma tendência de evitar a apreciação de propostas importantes ou polêmicas durante este período de recesso informal.
Três festas se destacam em junho: as homenagens a Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. Essas datas mobilizam a população nos dias 13, 24 e 29, respectivamente.
As datas possuem grande força no Nordeste, região com 151 deputados federais e 27 senadores, para quem as festas juninas são uma oportunidade para ampliar contato com os eleitores e reforçar as articulações locais, especialmente em anos de eleições. O período permite que o parlamentar foque em desenvolver o relacionamento com suas bases eleitorais, sendo visto em festividades que representam sua região e estado.
Festas ganham maior importância no período eleitoral
Em ano eleitoral, as festas juninas ganham uma importância ainda maior, visto que é o momento em que deputados e senadores buscam alavancar as candidaturas. Na leitura do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), as festividades se tornam um momento em que os políticos prestam contas ao eleitor de suas respectivas regiões.
Na mesma linha, o cientista político Antônio Henrique Lucena, professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), afirmou que os festejos juninos são o momento em que deputados e senadores conseguem capitalizar politicamente atrações culturais.
“As festas juninas são extremamente importantes. Os políticos usam obviamente esse período junino para se capitalizar politicamente, para fazer acordos e discussões. Isso é natural, do ponto de vista político. Esse é o momento em que eles buscam a visibilidade diante dos eleitores, bem como medir o apoio que possuem em suas bases”, disse Lucena.
Esvaziamento do Congresso também é alvo de críticas
Não raro, a diminuição das atividades legislativas por conta dos festejos juninos é vista negativamente por parte da população, bem como por parlamentares do Congresso. Indagados sobre as críticas, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) defendeu que o Congresso deveria ser mais produtivo, principalmente por conta dos benefícios que deputados e senadores possuem. Além disso, ele argumentou que existem pautas importantes no Legislativo que deveriam ser apreciadas.
“Tem muitas pautas importantes. Não vejo com bons olhos isso (a diminuição das atividades legislativas), acho que só faz é apequenar a Casa em um momento em que ela é cobrada pela população com relação à liberdade de expressão, com relação ao respeito da Constituição, aos abusos de ministros do STF [Supremo Tribunal Federal]”, disse Girão. Ele também afirmou que muitas festas juninas ocorrem no final de semana, momento em que naturalmente os parlamentares já se encontram nos estados.
Festa de São João remonta ao Brasil da época colonial
Feita em homenagem a São João Batista, primo de Jesus Cristo, a festa comemorada em 24 de junho remonta ao século XVI, quando foi introduzida pelos portugueses no período colonial. Segundo o historiador João Carlos Nara, assessor de Patrimônio Cultural do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a festa de São João teve fortes influências de antigas tradições pagãs europeias.
“A tradição das fogueiras tem origens ancestrais e está ligada ao solstício de verão no hemisfério norte, que ocorre por volta de 21 de junho. Comunidades rurais pagãs comemoravam essa época como um momento de renovação, realizando rituais para afastar espíritos malignos e pragas, saltando a fogueira para simbolizar prosperidade e proteção contra os males”, disse o historiador.
Após ser cristianizada e chegar ao Brasil, Nara explicou que o festejo caiu no gosto popular e passou a ter mais aderência do que outras festas religiosas.
“Os conquistadores portugueses trouxeram essas tradições ao Brasil, que caíram no gosto dos indígenas. No final do século XVI, o jesuíta Fernão Cardim observou que a festa de São João era uma das celebrações religiosas mais apreciadas por eles. No início do século XVII, Frei Vicente do Salvador constatou a mesma coisa. Por isso, a Festa de São João no Brasil é um exemplo de sincretismo cultural, onde práticas europeias cristianizadas se fundiram com as tradições locais”, acrescentou João Carlos Nara.
Dia de São João é feriado?
Embora não esteja no calendário nacional, o dia de São João, 24 de junho, é feriado em várias cidades que têm o santo como padroeiro. Nos estados de Alagoas e Bahia, a data é feriado estadual, o que significa que serviços públicos e comércios costumam fechar.
Ao todo, cinco capitais adotam o feriado:
- Aracaju (SE)
- João Pessoa (PB)
- Maceió (AL)
- Recife (PE)
- Salvador (BA)
Campina Grande (PB) e Caruaru (PE), que disputam o título de maior festa de São João, também têm o santo como padroeiro.
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