O encontro entre os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) causou desconforto dentro do PSDB. Caciques tucanos avaliam que a associação entre os dois antigos adversários políticos enfraquece a tentativa de lançar uma candidatura de centro em 2022. A notícia de que Lula e FHC almoçaram juntos, na semana passada, na casa do ex-ministro Nelson Jobim, provocou um mal-estar no partido.
Bruno Araújo, presidente da Executiva Nacional do PSDB resumiu o incômodo ao fazer um apelo para que o partido evite "passar sinais trocados" a seus eleitores.
"Esse encontro ajuda a derrotar Bolsonaro, mas não faz bem a um potencial candidato do PSDB. Nossa característica é saber dialogar, inclusive com adversários políticos. De toda forma, precisamos evitar sinais trocados aos nossos eleitores. O partido segue firme na construção de uma candidatura distante dos extremos que se estabeleceram na democracia brasileira", afirmou Araújo.
"Depois de o petismo rotular seu governo de 'herança maldita', parece mais que estão em busca de votos do que um reconhecimento da gestão de FHC."
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), ex-presidente do partido, reagiu assim sobre o encontro: "O PSDB deve continuar a busca de uma candidatura ao centro, e há sinais claros de que além dos nomes colocados até aqui, o senador Tasso (Jereissati) começa a considerar realmente uma candidatura. Lula nunca foi, e não acredito que será uma opção para o PSDB", afirmou.
Aécio foi o candidato do PSDB ao Planalto em 2014 e perdeu no segundo turno para Dilma Rousseff (PT) por uma margem apertada de votos.
Apesar de criticar a aproximação com Lula, o mineiro afirmou que o ex-presidente FHC pode conversar com quem quiser. "O presidente Fernando Henrique, aos 90 anos, tem o direito de almoçar, jantar e tomar seu vinhozinho com quem ele escolher. E é uma felicidade pros seus amigos ver que ele faz isso com frequência e invejável disposição", declarou.
Um dos nomes cotados pelo PSDB como pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse que não se pode negar o passado ao ser indagado sobre uma possível aliança com o petista.
"Num país democrático é natural que dois ex-presidentes possam conversar sobre política. Mas num país democrático também é natural que não se esqueça da história e nem se negue o passado. Conversar com todos é premissa de quem deseja o fim do 'nós contra eles' (algo que foi, inclusive, muito incentivado pelo PT), mas eu não aceito que o Brasil ande pra trás. Confio que FHC também não", disse Leite.
Ao se aproximar de tucano, Lula reforça estratégia do diálogo
Lula divulgou o almoço com Fernando Henrique nesta sexta-feira (21), por meio de suas redes sociais. O encontro foi promovido pelo ex-ministro Nelson Jobim, que atuou tanto no governo do petista, como ministro do Supremo Tribunal Federal, quanto no do tucano, como ministro da Justiça. O almoço ocorreu na casa de Jobim e durou cerca de 3 horas.
A aproximação com o tucano faz parte da estratégia do petista de se apresentar como um pré-candidato moderado e atrair lideranças do centro político. No início do mês, Lula esteve em Brasília e se reuniu com nomes como o do também ex-presidente José Sarney (MDB), o ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD, e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Na contramão da maioria dos tucanos, o ex-prefeito de Manaus (AM) Arthur Virgílio disse ao portal O Antagonista que não vê problema algum em FHC almoçar com Lula. “ Dialogar sempre foi a marca dele. A conversa com o Lula é natural", disse.
Virgílio não concorda que o encontro possa ser interpretado como “apoio político” ao petista. "Por que não dialogar com Lula? Por que manter distância do Lula, se está todo mundo conversando com ele? É tempestade em copo d’água o que estão fazendo. Não vejo nada demais, não é bicho de sete cabeças conversar com as pessoas. Todos devem conversar. Temos um país em que adversário é confundido com inimigo toda hora”, afirmou.
FHC diz apoiar candidato tucano em 2022
À coluna Direto da Fonte do Estdão, FHC afirmou que continua buscando uma terceira via entre Bolsonaro e Lula. Se possível, no PSDB. "Se essa não acontecer, não vou deixar meu voto em branco". Em entrevistas ao jornal Valor Econômico na semana passada e à Rádio Eldorado nesta semana, o tucano afirmou que, num eventual segundo turno entre Bolsonaro e Lula, votaria no petista.
O tucano também tuitou sobre o assunto: "Reafirmo, para evitar más interpretações: PSDB deve lançar candidato e o apoiarei; se não o levarmos ao segundo turno, neste caso não apoiarei o atual mandante, mas quem a ele se oponha, mesmo o Lula."
Grupos de mensagens do PSDB reprovam encontro
A reportagem apurou que os grupos de WhatsApp do PSDB reagiram de forma fortemente contrária ao encontro. O timing também foi considerado inadequado. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) havia participado na quinta-feira (20), de um encontro com mulheres do partido e demonstrou empolgação em ser candidato ao Planalto pela legenda.
O PSDB marcou para outubro deste ano um processo de prévias para definir a candidatura presidencial tucana. Além de Tasso e Leite concorrem os governadores João Doria (SP) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.
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