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Relações internacionais

Financiamento anunciado por Haddad para Argentina não tem acordo fechado

Brasil - Argentina - Lula - Haddad - Sérgio Massa
Brasil anuncia financiamento de US$ 600 milhões em exportações para Argentina. Mas acordo não está claro. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O financiamento em exportações anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de US$ 600 milhões (R$ 2,9 bilhões) para a Argentina ainda não está fechado. Conforme apurou a Gazeta do Povo com fontes da pasta, o país vizinho, a partir de agora, é o responsável por apresentar uma proposta de modelagem para o acordo.

Na segunda-feira (28), Haddad e o ministro da Economia da Argentina, Sérgio Massa, anunciaram quem haviam chegado a um "acordo de garantias" para manter as exportações brasileiras para o país. O que aconteceu, porém, foi que as negociações ganharam um novo garantidor, o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF).

Ou seja, a Argentina ainda tem que deixar claro como pretende pagar o financiamento. A hipótese de usar sua reserva da moeda chinesa yuan perdeu força, mas não foi completamente descartada.

Sem muitos detalhes, os ministros afirmaram na segunda-feira que a quantia seria disponibilizada por meio de uma cooperação entre o Programa de Financiamento às Exportações (Proex) do Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF).

A inclusão do CAF nas tratativas possibilitou que o montante tivesse um aumento de US$ 140 milhões (R$ 680 milhões) para os US$ 600 milhões (R$ 2,9 bilhões) anunciados por Massa e Haddad. A garantia do CAF também possibilita que a Argentina possa negociar com o Brasil sem comprometer suas reservas de dólares ou yuans, apontam especialistas.

O esforço para fechar um acordo com os argentinos visa por um lado preservar mercado consumidor para produtos brasileiros. Mas também pode ser entendida como um esforço ideológico do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de apoiar o presidente peronista (esquerdista) da Argentina, Alberto Fernández. Não está claro se o empenho brasileiro continuará se a direita vencer as eleições na Argentina no fim de outubro.

Proposta precisa ser bem definida para não prejudicar cofres brasileiros

Conforme apurou a reportagem, os detalhes deste acordo devem ser negociados pela Argentina, que deve apresentar um mecanismo de pagamento para o CAF. A princípio, o país tem até o dia 14 do próximo mês para mostrar como pretende pagar o financiamento.

Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Victor Gomes, esse mecanismo de pagamento a ser feito pela Argentina precisa ser muito bem amarrado para que o Brasil não acabe subsidiando exportações para o país vizinho.

"Várias dessas operações financeiras fazem várias tribulações, mas quem é que vai estar colocando o dinheiro como a garantia? Vai ser o Brasil, vai ser a Argentina ou um capital que já está lá no CAF? Além disso, há contas de equalização de juros internacionais, um subsídio, isso vai estar na conta de quem? Se tiver na nossa conta, a gente vai estar subsidiando exportação para a Argentina e, se for assim, a questão é se fazer isso vale a pena", explica.

Para Gomes, o melhor cenário para esse financiamento é aquele em que o Brasil não utiliza recursos do Tesouro Nacional para subsidiar o aporte oferecido à Argentina. Ou seja, que os cofres nacionais não paguem pelo financiamento.

Oferta inicial feita pelo Brasil poderia prejudicar comércio da Argentina com a China

Desde o início do ano, o governo brasileiro, com iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), buscava alternativas para ajudar a Argentina a superar a profunda crise econômica que enfrenta. Uma das tratativas em avanço era a possibilidade do Brasil oferecer financiamentos para o país por meio de bens e serviços.

Os esforços, contudo, parecem ter se voltado para o comércio bilateral. Sem querer perder a demanda de mercado argentina, Haddad chegou a anunciar que negociava com o país vizinho a possibilidade de que exportações de empresas brasileiras fossem pagas em yuans, para que a baixa reserva de dólares do país não ficasse ainda mais comprometida.

De acordo com o ministro, haveria garantia do Banco do Brasil para o câmbio. "Para as exportadoras brasileiras será uma boa notícia, se a Argentina concordar, porque podem ter seu fluxo de venda dos seus produtos com 100% de garantia, e para o Brasil, sem problemas, porque o câmbio será feito do yuan para o real, e isso tranquiliza também o Tesouro Nacional", disse.

Dessa forma, o exportador brasileiro seria pago pelo Banco do Brasil e a instituição financeira seria paga em yuans pelo governo argentino. Essa possibilidade, contudo, não animou muito o país vizinho.

Conforme relembra o professor de relações exteriores da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Argentina Pedro Feliú, esse já é um tipo de negociação comum para o país. "A Argentina já exporta da China usando a moeda chinesa, mas fazer isso com o Brasil pode restringir seu mercado com a China", explica.

De acordo com o especialista, pagar exportações brasileiras com yuan poderia comprometer as reservas que a Argentina tem da moeda e, consequentemente, restringir seu mercado com a China — o que não é muito estratégico, já que o país asiático é o principal parceiro comercial argentino. Tal situação levou a Argentina a buscar um novo mecanismo.

Ainda tentando criar um cenário que fosse amistoso para todas as partes, Massa e Haddad anunciaram que o CAF faria parte das negociações. Com a instituição integrando o processo, o governo argentino pode negociar um mecanismo que não envolve nem dólares e nem yuans para pagar o financiamento.

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