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Eleições 2022

Forças policiais colocam em xeque apoio à reeleição de Bolsonaro

Bolsonaro condecora policial
Bolsonaro condecora policial: forças de segurança reavaliam apoio ao presidente. (Foto: Isac Nóbrega/PR)

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Até então uma das principais categorias de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro, as forças policiais vivem hoje o pior momento da relação com o chefe do Executivo desde as eleições de 2018. Recentemente o grupo chegou a pressionar o Palácio do Planalto para que não fosse incluído no congelamento de salários do funcionalismo público previsto na PEC Emergencial aprovada pelo Congresso. No entanto, a pressão não surtiu efeito.

A proposta, que entre outras medidas possibilita a retomada do auxílio emergencial, prevê que estados e municípios acionem cortes de gastos quando as despesas obrigatórias chegarem a 95% das receitas correntes. No caso da União, os gatilhos serão acionados quando as despesas obrigatórias superarem 95% de todas as despesas.

O acionamento dessas medidas nos estados e municípios é opcional, mas há incentivos para que ele seja feito. A União, por exemplo, não poderá ser fiadora de empréstimos de estados que não acionarem os gatilhos depois de superarem o patamar de gastos obrigatórios definido pela PEC.

Um levantamento do jornal O Estado de S. Paulo apontou que 14 estados já poderiam acionar os gatilhos assim que a PEC Emergencial fosse promulgada. Ou seja, mais da metade das unidades federativas podem congelar salários de servidores já a partir de 2021. A expectativa dentro do governo é que a União possa acionar esses cortes com relação aos servidores federais em 2024 ou 2025.

As três "traições" de Bolsonaro, segundo os policiais

Durante a tramitação da PEC, parlamentares da Frente Parlamentar da Segurança Pública, a chamada Bancada da Bala, tentaram retirar as forças policiais desses gatilhos. Mas o Ministério da Economia acabou articulando para que a desidratação não ocorresse.

Agora, entidades que representam delegados, peritos, agentes da Polícia Federal, policiais rodoviários federais e outras 20 carreiras da segurança pública alegam que a inclusão da classe na PEC foi a terceira “traição” de Bolsonaro. Segundo elas, a primeira foi a reforma da Previdência e a segunda foi a Lei Complementar 173, que também trouxe vedações à categoria.

Como forma de retaliar o governo, os representantes dessas categorias já começam a se mobilizar contra o projeto de reeleição do presidente Bolsonaro em 2022. Segundo Luis Antônio Boudens, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), as forças de segurança estão cansadas da “estratégia do governo de fazer um discurso público e nos bastidores fazer outra coisa”. “Nós, que apoiamos o presidente, estamos sendo alvos. Para os policiais que ainda não acordaram, acordem”, alega Boudens.

Na mesma linha, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) sustentou que as ações de Bolsonaro não são compatíveis com o discurso que o elegeu em 2018.

Mais enfático, o presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF) e um dos líderes da União de Policiais do Brasil, Dovercino Neto alega que hoje nenhum policial de segurança pública civil tem motivo para apoiar Bolsonaro.

"Fiz campanha, falei para os meus amigos e família votarem no Bolsonaro porque ele ajudaria nossa categoria, seria a favor da segurança e contra a corrupção. A gente se mobilizou, buscou voto. Tudo isso caiu porque ele não nos enxergou depois de eleito, não nos considerou. Para ele, a gente não existe”, admitiu Neto à BBC News.

Já Anderson Valentim, presidente da Associação de Apoio ao Agente da Segurança e Ex-policiais do Brasil (Apasepol), afirmou que o descontentamento da categoria pode influenciar milhões de pessoas nas eleições do ano que vem. “Para 2022, se continuar nessa bagunça aí, a tropa não vai apoiar. Isso é no Brasil todo. Somos mais de 400 mil policiais no Brasil. Se multiplicar a influência, você chega a milhões”, disse Valentim à revista Época.

Bancada da bala tenta evitar desembarque

Temendo um desembarque das forças de segurança da base de apoio do presidente Bolsonaro, integrantes da Bancada da Bala têm atuado nos bastidores para conter a crise. Os parlamentares temem uma pulverização da categoria e uma desmobilização no pleito de 2022.

“Com toda essa repercussão, a gente agora tem que buscar contornar a crise para que a categoria não se desmobilize e embarque em outra candidatura presidencial no ano que vem. Como parlamentar representante da categoria, eu tenho sido cobrado e tenho buscado passar esse descontentamento ao presidente Bolsonaro”, admitiu à Gazeta do Povo um deputado da Bancada da Bala e apoiador do presidente Bolsonaro.

Ainda assim, outros integrantes da frente parlamentar afirmam que, apesar do descontentamento, a categoria não irá abandonar o projeto de Bolsonaro. “No caso dos policiais militares, bombeiros e delegados civis, a cobrança deveria ser sobre os governadores, pois eles têm autonomia para aderir ou não aos gatilhos da PEC [Emergencial]. Vivemos um momento atípico e sabemos das demandas da categoria, mas vamos trabalhar para que o apoio ao presidente Bolsonaro seja mantido para 2022”, alega outro deputado da bancada.

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