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Esquerda na América Latina

Foro de São Paulo está mais ativo do que nunca. O que esperar para 2022

Foro de São Paulo
Foro de São Paulo reúne integrantes da esquerda na América Latina (Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula)

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“Quero agradecer às pessoas, companheiro Aloizio Mercadante, do Grupo de Puebla. Líderes da América Latina inteira, que foram solidários e confiaram na minha inocência. Quero agradecer ao Foro de São Paulo, que é uma organização da esquerda latino-americana. E quero agradecer a muitos líderes políticos”. Com essas palavras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez questão de mencionar o Foro de São Paulo em seu discurso proferido no último dia 10. Criador da instituição, em 1990, por sugestão do então ditador cubano Fidel Castro, ele colocou novamente o grupo no noticiário. Não que ele tenha deixado de atuar ao longo de 31 anos de existência.

Em ata publicada no site oficial, o grupo de trabalho do Foro apresenta, em espanhol, as principais conclusões de uma reunião por videoconferência realizada em 30 de janeiro para avaliar o impacto da pandemia sobre a América Latina. No documento, que chama Cuba de “nossa querida ilha revolucionária”, lê-se: “Os sistemas de saúde pública, que na maioria dos países se deterioraram por culpa do avanço das políticas neoliberais, se encontram sobrecarregados”.

Os países “onde o neoliberalismo mais havia avançado”, prossegue, “são aqueles que têm padecido com os maiores índices de infecções e mortes”. O documento também culpa os bloqueios comerciais realizados pelo “imperialismo estadunidense” como a causa das crises financeiras de Cuba, Nicarágua e Venezuela.

No cenário político, o grupo comemora: “Tivemos importantes vitórias eleitorais no México (2017) e na Argentina (2018), seguidas por uma estupenda vitória popular na Bolívia em 2020. Em fevereiro de 2021, no Equador, são cada vez reais as chances de uma vitória eleitoral da Revolución Ciudadana, movimento herdeiro do ex-presidente Rafael Correa”.

De fato, Correa apoia o candidato Andrés Arauz, que recebeu 32,68% dos votos e em abril vai disputar o segundo turno com Guillermo Lasso. O texto não menciona o presidente Jair Bolsonaro, mas elogia a ajuda oferecida pelo governo venezuelano à cidade de Manaus (AM).

Encontros frequentes

Fundado durante uma reunião no extinto hotel Danúbio, no centro de São Paulo, realizada entre 2 e 4 de julho de 1990, o Foro de São Paulo ganhou esse nome durante o segundo encontro, realizado na Cidade do México, em 1991.

“Numa conversa que tive com Fidel na época, coincidimos que seria importante analisar esta nova conjuntura e seus impactos para a América Latina e o Caribe e decidimos que o PT poderia convocar um encontro de partidos e de movimentos políticos de nossa região para discutir este tema e as iniciativas que deveríamos adotar”, escreveu Lula, em carta publicada por ocasião do aniversário de 30 anos do grupo.

“Porém, não imaginávamos inicialmente que esse encontro de partidos e movimentos chegasse onde chegou, tornando-se um foro permanente e até uma referência para partidos de esquerda e progressista de todo o mundo, além de sua contribuição para promover mudanças de governos e políticas no continente a partir de 1998”. Atualmente, reúne 123 partidos e grupos de esquerda de 28 países, incluindo o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), do Chile, conhecido pela prática de guerrilha e por ter, em 1989, sequestrado o empresário brasileiro Abílio Diniz.

Com exceção de 1994, 1999, 2004, 2006 e 2020, o grupo se reuniu todos os demais anos desde 1990. Em quatro ocasiões a Cidade do México sediou o evento. São Paulo, Havana, capital cubana, e San Salvador, capital de El Salvador, receberam os líderes de esquerda três vezes cada. Caracas, na Venezuela, foi a sede da última reunião, em 2019. O único chefe de Estado presente foi o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel. E a reunião terminou com uma declaração de apoio ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Entre os principais membros estão o Partido Comunista de Cuba, o Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil, o Partido Socialista Unido da Venezuela e o Partido Socialista do Chile. Há, inclusive, registros de participação das Farc – as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – em conferências realizadas nos primeiros anos de organização.

Além do PT, também integram o grupo as seguintes legendas brasileiras: PDT, PCdoB e PCB. As pautas centrais são a oposição ao neoliberalismo e ao imperialismo, o fortalecimento das lutas sociais, sindicais e populares e a integração dos países em torno de problemas políticos, econômicos e sociais.

Na ata da primeira reunião, o Foro de São Paulo manifestava seus objetivos com clareza. “Nós, organizações políticas reunidas em São Paulo, encontramos um grande alento – para reafirmar nossas concepções e objetivos socialistas, anti-imperialistas e populares – no surgimento e desenvolvimento de vastas forças sociais, democráticas e populares no Continente que se opõem aos mandados do imperialismo e do capitalismo neoliberal, e à sua sequela de sofrimento, miséria, atraso e opressão antidemocrática. Essa realidade confirma a esquerda e o socialismo como alternativas necessárias e emergentes.”

Influência do Foro de São Paulo em 2022

Diante do cenário político latino-americano, em que o Foro de São Paulo se vangloria de ter ajudado a levar ao poder presidentes de esquerda em todo o continente, o que esperar da atuação do grupo para as eleições brasileiras de 2022? Afinal, como já lembrou em entrevista à Gazeta do Povo o ex-deputado federal José Carlos Aleluia (BA), os recentes protestos no Chile sugerem que o grupo continua capaz de conduzir ações com objetivo político. “Naqueles protestos, se via nitidamente que eles tinham uma estruturação feita, algo criado por especialistas de fora do Chile, que tinham como objetivo desestabilizar o governo [de Sebastián Piñera, de direita ou ao menos de centro-direita]”.

“Não é muito claro quem financia essa organização”, afirma o sociólogo Lucas Azambuja, professor no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de Minas Gerais (IBMEC-MG). “Trata-se de uma organização internacional, liderada por chefes de governos não democráticos, como Cuba e Venezuela”.

Na avaliação do professor, há, sim, o risco de líderes de países caracterizados pela falta de transparência influenciem o cenário eleitoral brasileiro. “O Foro de São Paulo é formado por uma série de organizações, incluindo extremistas, que têm interesse declarado em influenciar o cenário político dos países da América Latina”, afirma Azambuja.

“Diante da perspectiva de que as eleições presidenciais do próximo serão extremamente tensas, é preocupante Lula se sentir à vontade em mencionar o grupo, assim que vê seus direitos políticos serem recuperados. Ele sugere que há uma articulação internacional em torno de seu nome”, salienta o professor.

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