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O deputado federal Marcelo Freixo (RJ) anunciou nesta sexta-feira (11) que está de saída do Psol. Em publicação em suas redes sociais, ele disse que a decisão foi tomada devido à necessidade de uma "ampliação do diálogo e a construção de uma aliança com todas as forças políticas". O parlamentar está de malas prontas para o PSB, partido pelo qual deverá se colocar como pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro com apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Freixo é só o primeiro. O PSB deve filiar nos próximos meses outros nomes políticos ligados a Lula. O partido socialista ainda não cravou qual aliança pretende fechar para a disputa presidencial de 2022, mas lideranças admitem nos bastidores que uma composição com o líder petista é o caminho mais provável até o momento. A saída de Freixo do Psol com a bênção de Lula é um indicativo disso.
Outro que deve seguir o mesmo rumo é o governador do Maranhão, Flávio Dino. Com negociações adiantadas, ele deverá migrar do PCdoB para o PSB ainda neste primeiro semestre. Principal entusiasta da candidatura de Lula ao Palácio do Planalto, Dino pretende concorrer a uma cadeira no Senado no ano que vem, e já admitiu que estará no palanque do petista em seu estado.
“Nós temos conversas muito avançadas com o Flávio Dino. Ele tem uma simpatia pelo PSB e nós já demos as boas vindas”, admite o presidente do partido Carlos Siqueira.
Além de Freixo e do governador maranhense, pelo menos outros dois nomes do PCdoB já sinalizaram que pretendem caminhar para o PSB: a ex-deputada Manuela D’Ávila (RS) e o deputado federal Orlando Silva (SP). Ambos devem disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados em 2022.
Diferentemente de Dino, que já vinha negociando a migração para outra legenda há pelo menos dois anos, outros integrantes do PCdoB estão preocupados com o mecanismo da cláusula de barreira, que pode asfixiar a legenda comunista a partir de 2023. A regra exigirá dos partidos no mínimo 2% dos votos em âmbito nacional para que continuem tendo acesso a dinheiro público do fundo eleitoral e ao tempo de TV.
A Executiva Nacional do PCdoB tem buscado alternativas para escapar da regra. Uma delas é a “federação partidária”, modelo em discussão no Congresso que permitirá aos partidos se unirem nas eleições sem que deixem de existir de forma autônoma. Na última quarta-feira (9), a Câmara dos Deputados aprovou regime de urgência para o projeto de lei que tratada da criação da federação partidária. Isso significa que o texto já pode ser votado pelo plenário. Embora agrade ao PCdoB, a ideia estaria encontrando resistências no PSB, que considera o modelo antagônico à “autorreforma” feita pela sigla em 2019.
Uma fusão partidária com o PSB também não é descartada pela direção do PCdoB. Entretanto, o partido pretende aguardar a reforma eleitoral que vem sendo discutida pelo Congresso para cravar uma decisão. Priorizada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a reforma pode salvar partidos nanicos da extinção devido às mudanças previstas pela cláusula.
Por frente ampla no Rio, Freixo deixa o Psol
O deputado Marcelo Freixo confirmou em uma série de postagens no Twitter que vai se desfiliar do Psol após 16 anos de militância. Ele afirmou que "encerra esse ciclo", mas diz confiar que ele e seus antigos correligionários seguirão "na mesma trincheira de defesa da vida, da democracia e dos direitos do povo brasileiro". O destino dele é o PSB.
Próximo de Lula, Freixo tem o apoio do ex-presidente para disputar o governo do Rio de Janeiro em uma composição com partidos de centro. A aliança pode reunir, entre outros, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e o ex-presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A direção do Psol não aceita essa composição e classifica o grupo como “direita liberal”. Com isso, o partido socialista foi escolhido por Freixo para abrigar seu projeto em 2022 e o palanque para Lula no Rio de Janeiro está no balcão de negociações.
Na composição que vem sendo desenhada até o momento, o deputado Alessandro Molon (PSB) seria o candidato do grupo ao Senado. Ambos estiveram com Lula na última quinta-feira (10), em reunião política no Rio de Janeiro. O encontro foi fechado, mas, segundo apurou o jornal O Estado de São Paulo, o petista defendeu a importância de buscar o centro na composição eleitoral de 2022.
Reforço ao nome de Lula enfrenta resistência no clã Campos
Os novos filiados ao PSB pretendem reforçar o apoio para que o partido socialista embarque na candidatura de Lula para a disputa presidencial do ano que vem. Manuela D’Ávila e Orlando Silva já sinalizaram que o ex-presidente é o único nome no campo da esquerda com chances de vencer o presidente Jair Bolsonaro.
A direção do PSB tem mantido conversas também com Ciro Gomes (PDT), mas o retorno de Lula ao xadrez político dividiu as forças na sigla. O atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara, vem sendo apontado como alternativa para compor como vice uma chapa presidencial com o PT.
Recentemente, o governador pernambucano começou a abrigar nomes ligados ao PT na sua gestão — o senador Humberto Costa (PT-PE) tem sido o principal articulador dessa reaproximação. No último dia 22, a esposa do ex-prefeito do Recife João da Costa (PT), Marília Bezerra, foi nomeada para um cargo na Secretaria de Desenvolvimento Social.
Também de saída do PCdoB, mas com filiação acertada para o PT, o deputado estadual João Paulo (PE) entrou nas tratativas para levar o PSB para o bloco. O parlamentar é um dos nomes próximos do governador Paulo Câmara. “O momento é estratégico e o PSB, ao meu ver, pode ser um grande aliado no estado de Pernambuco”, afirmou o deputado em entrevista para a Rádio Clube AM 72.
Na contramão, a família do prefeito de Recife, João Campos (PSB), estaria resistente a uma composição com Lula. Além disso, sua vice-prefeita é a pedetista Isabela de Roldão, que se integrou à campanha em uma articulação feita por Ciro Gomes.
O clã é o mais influente dentro do PSB e tem defendido que uma aliança com o petista com tanta antecedência poderia prejudicar o partido. Em 2020, o filho do ex-governador Eduardo Campos travou uma disputa com a prima Marília Arraes (PT) pela prefeitura da capital de Pernambuco. A disputa marcou um racha entre PSB e petistas no estado, que só se reaproximaram agora com a possibilidade da candidatura de Lula em 2022.
Como plano B, aliados de Lula afirmam que o petista liberou Marília Arraes para rodar o estado pernambucano para avançar nas composições com outras lideranças de esquerda. A estratégia seria neutralizar a força de João Campos, que atualmente estaria concentrada na capital Recife.