Ouça este conteúdo
A área de segurança pública do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) virou alvo de críticas de um dos políticos mais influentes do partido e que ajudou a fundar a legenda na década de 80. Atual secretário de segurança de Diadema (SP), Benedito Mariano expressou preocupação com a falta de implementação do programa de governo na área de segurança prometido durante a campanha de Lula no ano passado.
Mariano foi um dos coordenadores do programa de governo de Lula durante a eleição de 2022, e diz que muito do que foi proposto ainda não saiu do papel, como a criação de um Ministério da Segurança Pública, separando da atual pasta da Justiça e Cidadania comandada por Flávio Dino – cotado para ser o próximo indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na vaga aberta com a aposentadoria da ministra Rosa Weber.
“O Ministério da Justiça tem que levar em conta o programa que foi aprovado pela população. Grande parte do que está lá eu não vi nesses nove meses”, disse em entrevista à Folha de São Paulo nesta segunda (2). Mariano afirma que conseguiu reduzir significativamente os índices de violência nas últimas três décadas em Diadema (SP), e que tem políticas públicas que teriam evitado a situação de crise vivida na Bahia, por exemplo.
A separação da Segurança Pública da Justiça, segundo ele, daria maior destaque e centralidade à questão, que é sensível e merece uma pasta exclusiva. Mariano enfatizou que essa posição já estava presente antes da especulação sobre a ida de Dino para o STF.
Mariano também criticou a falta de atenção do governo federal a situações críticas, como a elevada letalidade policial na Bahia, um estado governado pelo PT. Ele ressaltou a necessidade de uma abordagem diferente para o policiamento no estado e destacou a importância do policiamento comunitário, algo que, segundo ele, não foi contemplado nas ações propostas pelo ministério.
“Tem que ter uma lógica diferente de policiamento na Bahia. É inaceitável 60 mortes pela polícia em um mês”, afirmou.
O político afirma, ainda, que o novo programa de segurança pública que deve ser lançado nesta segunda (2) não faz referência ao policiamento de proximidade, que ele considera “fundamental” para ajudar a reduzir os índices de criminalidade. Ele torce para que seja uma estratégia “consistente”, embora pouco se saiba sobre o que será efetivamente proposto.
Por outro lado, Mariano não poupou críticas à falta de autocrítica do ministério, especialmente ao secretário-executivo da pasta, Ricardo Cappelli, que bloqueou perfis de ativistas e jornalistas nas redes sociais. Ele também condenou a declaração de Cappelli de que “não se combate o crime com rosas”, considerando essa afirmação “lastimável”, fortalecendo a narrativa que leva à violência sistemática.
Por fim, Benedito Mariano elogiou a possível indicação de Flávio Dino para o STF, embora tenha ressaltado a necessidade de uma política de segurança pública mais clara por parte do governo.