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A posse dada pelo presidente Jair Bolsonaro ao cardiologista Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde despertou uma dúvida na Esplanada dos Ministérios: para onde vai o general Eduardo Pazuello, agora oficialmente ex-ministro da pasta. Embora estudada, a alternativa mais recente, a de posicioná-lo no Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), divide opiniões e pode não ser a solução mais viável.
A Gazeta do Povo conversou com interlocutores do Palácio do Planalto sobre o futuro de Pazuello no governo e não ouviu nenhuma resposta assertiva. Ninguém "crava" o destino do ex-ministro, afinal, até a tarde desta terça-feira (23), Bolsonaro não havia batido o martelo. "Ainda não há nada definido", disse um assessor palaciano.
A informação de que Pazuello pode assumir o PPI é confirmada pelas fontes consultadas. Contudo, "resistências" internas dentro do governo ainda seguram a indicação do ex-ministro para o posto. A principal objeção vem do alto escalão do governo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, é contra isso.
Os motivos da resistência de Guedes a mudanças no PPI
Atualmente, o PPI é comandado pela secretária especial Martha Seillier, uma técnica qualificada e reconhecida pelo mercado. O órgão é responsável pela agenda de concessões e privatizações do governo. O PPI já esteve vinculado à Casa Civil, mas hoje está sob o "guarda-chuva" do Ministério da Economia desde janeiro de 2020.
Guedes e outros técnicos do governo sustentam que a exoneração de Martha no PPI para a nomeação de Pazuello transmitiria uma imagem muito negativa aos mercados. Politicamente, o chefe da equipe econômica se sente incomodado com o esvaziamento de poderes em algumas estatais e empresas públicas.
Recentemente, Bolsonaro indicou o general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras e teve influência na renúncia de André Brandão na presidência do Banco do Brasil. Apesar de Guedes ter participado da indicação do novo presidente do banco público, ele ainda se sente incomodado após sucessivas mudanças no comando de áreas estratégicas da política econômica.
"Esse espaço [PPI] está sendo buscado, apesar de que o Guedes não quer perder. Por isso, a resistência", explica um interlocutor do Planalto ao justificar as dificuldades em nomear Pazuello. Uma outra fonte cita, contudo, que é provável que Bolsonaro tentará conter a insatisfação de Guedes.
"Ele é um ministro de quatro ministério: o do Trabalho, Planejamento, Fazenda e o da Indústria [, Comércio Exterior e Serviços, antigo Mdic]. Tem muito [poder] e não quer perder nada. Então, é uma possibilidade dar o PPI ao Pazuello e reduzir esse 'sultanato' do Guedes", diz um assessor.
Sem "Ministério da Amazônia" para Pazuello
Outro destino estudado para Pazuello é entregar a ele um ministério extraordinário para cuidar da Amazônia. A informação, veiculada inicialmente pela CNN Brasil, foi confirmada pela Gazeta do Povo. Contudo, essa possibilidade é vista como remota no Planalto.
O assunto chegou a ser estudado, mas não avançou. "A única coisa que tem lógica nisso é porque o Pazuello é uma pessoa que tem bom conhecimento da Amazônia, inclusive por ter comandado a Operação Acolhida [criada para receber migrantes e refugiados venezuelanos]. Acontece que tem várias hipóteses sendo avaliadas e estão vazando informações analisadas para a imprensa", sustenta um assessor.
O risco de ampliar o desgaste entre Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão foi outro motivo pelo qual a ideia não avançou. Atualmente, Mourão preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal e entregar um ministério a Pazuello esvaziaria seus poderes.
O vice-presidente até chegou a avaliar que, se criado, o novo ministério deveria focar no desenvolvimento da região amazônica. Seria, para ele, uma solução para que Pazuello atuasse de forma complementar às atribuições do Conselho Nacional da Amazônia Legal.
A ideia de entregar a Pazuello um cargo com status de ministro é devolver ao ex-ministro o foro privilegiado. O general responde no Supremo Tribunal Federal (STF) a um inquérito sobre uma suposta omissão na crise da saúde do Amazonas. O comando do PPI, porém, não daria a Pazuello o foro privilegiado.
As alternativas: secretário de Assuntos Estratégicos ou assessor de Bolsonaro
Outros destinos para Pazuello são cogitados. Um deles, o de ser o novo secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. O atual titular do posto é o almirante Flávio Rocha, que, recentemente, assumiu a Secretária Especial de Comunicação (Secom). O almirante comanda simultaneamente os dois órgãos.
Uma outra opção é o de nomear Pazuello como assessor direto de Bolsonaro. Entretanto, essa opção é vista, hoje, como a menos provável. Afinal, é do interesse do presidente da República entregar a seu ex-ministro da Saúde um posto que dê a ele algum status na Esplanada dos Ministérios.
O que se sabe é que Bolsonaro quer definir o futuro de Pazuello o quanto antes. Tamanha é a importância disso que a intenção do presidente da República era empossar Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde apenas quando houvesse definição do futuro do ex-ministro. "O que vinha segurando a nomeação do Queiroga era apenas o rearranjo interno do governo, onde colocar o Pazuello", explica um interlocutor palaciano.