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O acordo militar assinado entre Brasil e Estados Unidos no domingo (8) é mais uma etapa da aproximação entre os governos Trump e Bolsonaro no campo militar. No ano passado, o Brasil foi designado aliado extra-Otan dos EUA, em julho, e firmou um acordo com os americanos para uso da base de Alcântara, em março. Mas o primeiro gesto nesse sentido se deu logo em fevereiro de 2019, quando o Exército nomeou um general brasileiro para um importante cargo nas Forças Armadas americanas.
O general-de-brigada Alcides Valeriano de Faria Júnior é, há cerca de um ano, subcomandante para interoperabilidade do Exército Sul dos Estados Unidos. O cargo é um dos três postos mais altos da unidade, que coordena os interesses estratégicos e militares dos EUA para América do Sul, América Central e Caribe.
Já havia oficiais superiores brasileiros no Exército Sul, mas Valeriano é o primeiro general do país a assumir posto nesse comando. Com 53 anos de idade, ele já tem 38 de carreira militar. Antes de ser designado para a função, chefiava a 5.ª Brigada de Cavalaria Blindada de Ponta Grossa (PR).
General do Brasil nos EUA não tem a ver com intervenção na Venezuela
À época da nomeação do general Alcides Valeriano, alguns analistas interpretaram o fato como um gesto do governo brasileiro para abrir caminho para uma possível intervenção militar na Venezuela, que vive sob a ditadura de Nicolás Maduro. O Exército e o Ministério da Defesa sempre negaram a veracidade dessa insinuação.
Parte dos rumores se deve aos posicionamentos firmes do chefe do Comando Sul, o almirante Craig Faller, contra regimes comunistas, o que inclui ataques frequentes a Maduro e insinuações de que a China estaria planejando obter maior controle geopolítico da América Latina por meio de parcerias comerciais e no campo de infraestrutura.
Porém, a negociação para a chegada de um general brasileiro a um alto cargo no Exército Sul dos EUA começou no governo Michel Temer, antes de que o Brasil tivesse um governo claramente alinhado às visões geopolíticas de Donald Trump. Quando, em janeiro de 2019, o general chinelo Edmundo Villarroel deixou o cargo, abriu caminho para a nomeação do general Alcides Valeriano.
Troca de experiências e aprimoramento do Exército brasileiro são objetivos principais
Segundo o Exército, a presença de um general brasileiro no Exército dos EUA é uma “oportunidade de obter e de compartilhar assuntos militares de interesse comum, principalmente relacionados à interoperabilidade entre o Exército americano e os países da América do Sul, Central e Caribe”.
Como exemplo dessa troca de experiências, o Exército cita o planejamento do exercício militar Culminating, que prevê o envio de uma tropa brasileira ao Joint Readiness Training Center, centro de treinamento militar nos Estados Unidos, para participar de um exercício militar com o Exército americano. O treinamento deverá ocorrer no começo de 2021, em Fort Polk, no estado da Louisiana. Os militares brasileiros serão enquadrados em um batalhão da 82.ª Airborne Division, uma tropa de elite do Exército dos EUA.
Além disso, o Exército considera que a escolha do general Alcides Valeriano para um alto cargo no Comando Sul reflete “o reconhecimento do Exército brasileiro por parte dos EUA” e a visão de que o Brasil, “por seu tamanho, sua importância e pela capacidade de seu Exército, requer uma atenção diferenciada e é visto como um importante parceiro estratégico e prioritário”.