O depoimento do ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (10), foi visto com preocupação por integrantes das Forças Armadas. O general foi convidado para falar sobre o episódio envolvendo o sargento Manuel Silva Rodrigues, preso em Sevilha (Espanha) com 39 quilos de cocaína ao desembarcar de uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB).
Embora Heleno tenha conseguido dar respostas às questões dos parlamentares, inclusive pelo fato de o inquérito estar sob sigilo de Justiça, militares que preferem falar na condição de anonimato afirmam que o ministro sofreu mais um desgaste desnecessário.
General Heleno é tido como um dos mais próximos e influentes auxiliares do presidente Jair Bolsonaro e a inquietação dos militares reside no fato de ele ser considerado um dos pilares do governo, junto com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sergio Moro. “Heleno deveria ser preservado e se preservar, mas isso não está acontecendo”, comentou um desses militares.
Comprando briga com Carlos Bolsonaro
Na opinião desses oficiais, tanto o GSI quanto a FAB – que enviou dois representantes à Comissão – deveriam ter negociado para adiar o convite até que as investigações sobre o caso estivessem em um estágio mais avançado, permitindo esclarecimentos mais detalhados. Da mesma forma, consideram que o general Heleno correu risco de ter criado um novo conflito com Carlos Bolsonaro, filho do presidente, ao dizer que o vereador ficou “traumatizado” após a tentativa de assassinato do pai, em um ato público ainda na campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG).
"Eu conheço Carlos. Ele é extremamente traumatizado pelo atentado que buscou mudar a realidade política do Brasil, o atentado a faca que o presidente recebeu. Naquela situação Bolsonaro estava sob cuidado da PF", disse o ministro na comissão.
O temor desses militares, de que o comentário estimulasse uma resposta do vereador, se confirmou poucas horas depois. Carlos usou o Twitter para responder a Heleno: "Sou tremendamente traumatizado com o que pode acontecer com um presidente honesto em uma nação historicamente administrada por bandidos e seus fiéis acessórios", escreveu.
Para militares, cansaço e estresse são visíveis
A declaração de Heleno a respeito de Carlos também reflete uma situação que vem preocupando o generalato. “O ministro está visivelmente cansado e estressado. Suas atribuições demandam quase que trabalho em tempo integral”, observa um oficial ouvido pela Gazeta.
Os militares acreditam que Heleno deve dispensar todos os esforços necessários para não entrar em confronto com o filho do presidente Jair Bolsonaro. Dos três filhos, Carlos é o mais ligado ao pai e foi o responsável pela campanha nas redes sociais.
Em seis meses de governo, todas as disputas travadas com o vereador foram perdidas pelos seus oponentes. Foi assim com o ex-secretário geral da Presidência, Gustavo Bebianno, e mais recentemente, com o general Santos Cruz, ministro chefe da Secretaria de Governo que foi abatido pela artilharia de Carlos.
Os ataques contra Heleno começaram uma semana depois do incidente da cocaína e, desde então, crescem os rumores de que o ministro seria “a bola da vez”. Na ocasião, Carlos explicou as razões pelas quais dispensa a segurança do GSI que, entre suas funções, tem a tarefa de proteger o presidente e seus familiares.
"Por que acha que não ando com seguranças? Principalmente aqueles oferecidos pelo GSI? Sua grande maioria podem (sic) ser até homens bem intencionados e acredito que seja, mas estão subordinados a algo que não acredito. Tenho gritado em vão há meses internamente e infelizmente sou ignorado".
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