O presidente Jair Bolsonaro usou o Twitter, no domingo (21), para chamar o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva de “melancia” e, sem saber, cometeu uma injustiça. A intenção era usar o termo de forma pejorativa, acusando o militar de ser um ativista de esquerda disfarçado, verde por fora e vermelho por dentro.
O tuíte foi uma resposta a Rocha Paiva, que chamou de “antipatrióticos” e “incoerentes” os comentários do presidente sobre os governadores do Nordeste. Uma das várias críticas do general dedicadas à família Bolsonaro.
"Sem querer descobrimos um melancia, defensor da Guerrilha do Araguaia, em pleno século XXI", Bolsonaro tuitou na sequência.
Rocha Paiva está longe de ser alinhado com a esquerda, pelo contrário, sempre fez críticas em entrevistas e artigos publicados na internet. O general já disse duvidar que a ex-presidente Dilma Rousseff tenha sido torturada durante a ditadura militar, ao jornal O Globo, em 2012. Também questionou a utilidade da Comissão da Verdade, que passou a limpo o passado de perseguições políticas durante a ditadura, e até mesmo relativizou o atentado no Riocentro, em 1981, alegando que não havia provas suficientes para culpar militares pelo ocorrido.
"Acusação descabida"
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo e que deixou o governo Bolsonaro em junho, afirmou que Rocha Paiva é um homem “extremamente culto, com altíssimo nível de responsabilidade, de hombridade de assumir a responsabilidade do que ele fala e do que faz". O ex-ministro relembrou que o colega sempre defendeu publicamente o que classifica como "processo revolucionário de 1964 a 1985", período em que durou o regime militar no Brasil.
"Classificar o Rocha Paiva como ‘melancia’, vamos dizer assim, é uma acusação descabida e que mostra o completo desconhecimento sobre a pessoa do general Rocha Paiva e sobre a qualidade profissional dele”, completou Santos Cruz.
Admirador de Ustra, o herói de Bolsonaro
Entre alguns de seus feitos, Rocha Paiva fez o prefácio da 9.ª edição do livro “A verdade sufocada”, de Carlos Alberto Brilhante Ustra, em que termina elogiando o coronel: “Parabéns Cel Ustra! Os valorosos não se dobram. O senhor personifica virtudes de coragem moral e física, perseverança, patriotismo e é um exemplo de chefe militar”. Chefe do antigo DOI-CODI, órgão de repressão da ditadura militar, Ustra foi reconhecido formalmente pela Justiça como um torturador. E exaltado – várias vezes – pela família Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro construiu sua carreira apoiado nos militares e só mais recentemente passou a ouvir o “guru” da ala ideológica, Olavo de Carvalho, influenciado pelos filhos. Dois mundos que entram em colisão com frequência tanto dentro do próprio governo, quanto nas redes sociais, o campo de batalha preferido da gestão. O general Santos Cruz foi uma das vítimas desse embate.
Em maio último, Rocha Paiva publicou um artigo em que defendia o presidente e afirmava que o Legislativo e o Judiciário agiam no sentido de desestabilizar o governo para manter privilégios. No mesmo artigo, criticou Olavo de Carvalho, políticos do Centrão e ministros do STF.
Filhos de Bolsonaro são ponto de discórdia
Mas como um general que defende ideias parecidas com a do presidente se tornou alvo de crítica dele? Talvez a explicação esteja além das farpas gerais, no acúmulo de críticas de Rocha Paiva direcionadas aos filhos de Bolsonaro. “Uma irresponsabilidade política indesculpável”, foi como o general classificou a possível indicação do deputado Eduardo Bolsonaro para a assumir a embaixada do Brasil nos EUA, em Washington, em entrevista à Época.
Rocha Paiva também já chamou Carlos Bolsonaro de “imaturo, irresponsável”, em reportagem do UOL, após o filho "02" criticar o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A crítica de Bolsonaro a Rocha Paiva aprofunda o desgaste com militares, principalmente após a demissão do general Santos Cruz.
O general Sérgio Etchegoyen, ex-chefe do GSI no governo Temer, saiu em defesa de Rocha Paiva. Segundo o UOL, em mensagem que circulou pelo WhatsApp, Etchegoyen disse que, apesar de a publicação que chamou o general de "melancia" estar na conta oficial de Bolsonaro, isso pode ter sido postado por outra pessoa. “Alguém opera aquele Twitter”, afirmou.
Quem é o general Rocha Paiva
Luiz Eduardo Rocha Paiva passou para a reserva do Exército em 2007. Esteve no comando da Escola do Comando do Estado Maior do Exército, e foi secretário-geral do Comando do Exército. É doutor em em Aplicações, Planejamento e Estudos Militares na Escola de Comando e Estado–Maior do Exército.
O general faz parte da Comissão da Anistia, composta por 27 membros, subordinada ao Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos. A comissão foi criada em 2002, para analisar pedidos de reparação de pessoas que foram vítimas de perseguição política.
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