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Militares falam ao ouvido de Bolsonaro.
Militares falam ao ouvido de Bolsonaro: desta vez, conselhos ao presidente vieram por carta.| Foto: Fernando Souza/AFP

Em carta aberta que circula em grupos de WhatsApp e redes de militares da reserva, o general de brigada Reinaldo Minati defende o fim da reeleição, diz que um presidente da República deve dar atenção especial às palavras e que precisa dialogar sem abrir mão de suas convicções. Também afirma que o comandante do país tem de resistir à tentação de governar por decretos e medidas provisórias e que os avanços do país são resultado dos trabalhos não só do governo, mas também do Congresso e da Justiça.

Minati divulgou a carta – intitulada "O Cadete Presidente" – dizendo que, se durante o período em que comandou a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), um cadete “com potencial para ser o Presidente da República” lhe perguntasse como deveria agir no exercício do cargo, sua resposta conteria as “ideias”contidas na carta.

Minati foi chefe de gabinete do comandante do Exército, general Francisco Albuquerque (2003-2007), e comandou a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) entre 2001 e 2002. Bolsonaro cursou a Academia das Agulhas Negras.

O texto traz uma série de "conselhos" a Bolsonaro que, em maior ou menor grau, refletem a opinião dos oficiais da reserva sobre os primeiros seis meses do governo.

“Há coisas que a gente pensa, mas não fala; fala, mas não escreve; escreve, mas não assina”, recomenda o general Minati. "Resista à tentação de governar por decretos e medidas provisórias, atendo-se à edição mínima indispensável. Dialogue sempre que necessário, sem abrir mão de suas convicções. Proponha o fim da reeleição nos três níveis da administração pública. O instituto da reeleição fez mal ao Brasil e acumulou uma conta salgada a ser paga pelos brasileiros. Os avanços da República Federativa do Brasil lastreiam-se em um triplo sustentáculo: poderes Executivo, Legislativo e Judiciário", diz outro trecho da carta.

Nas últimas semanas, em conversas reservadas e nos bastidores, oficiais da reserva têm sido enfáticos nas críticas ao clima de tensão com que Bolsonaro governa o país. Também ficaram especialmente incomodados com as críticas dirigidas publicamente pelo Twitter, por Carlos Bolsonaro, ao porta-voz da presidência da República, o general Otávio de Rêgo Barros. “Atente para os “grupos” que se fazem presentes em qualquer governo: econômico, regional, militar, setorial, ideológico, religioso, ambiental, produtivo, familiar, cultural e outros mais”, diz a carta.

Colegas de Minati elogiaram as posições do ex-comandante das Agulhas Negras Entre eles, o general da reserva Paulo Chagas. "No contexto geral, nós todos, concordamos com o pensamento dele", disse Chagas à Gazeta do Povo.

Ex-comandante das Agulhas Negras: a íntegra da carta

O Cadete Presidente

Se durante o meu comando na AMAN algum cadete com potencial para ser o Presidente da República me perguntasse como ele deveria agir no exercício do cargo, a minha resposta conteria, dentre outras, as ideias descritas a seguir.

Seja autêntico. Seja você mesmo. Tenha orgulho de mostrar as suas qualidades e humildade para reconhecer as suas limitações.

Quem não faz não erra, tampouco acerta. Sempre que possível, o erro identificado deve ser corrigido de imediato, sem qualquer burocracia ouação protelatória.

As palavras devem receber uma atenção especial. Há coisas que a gente pensa, mas não fala; fala, mas não escreve; escreve, mas não assina.

Há outras que a gente pensa, fala, escreve, assina e, se preciso for, reconhece a firma da assinatura.

Resista à tentação de governar por decretos e medidas provisórias, atendo-se à edição mínima indispensável.

Dialogue sempre que necessário, sem abrir mão de suas convicções.

Proponha o fim da reeleição nos três níveis da administração pública. O instituto da reeleição fez mal ao Brasil e acumulou uma conta salgada a ser paga pelos brasileiros.

Os avanços da República Federativa do Brasil lastreiam-se em um triplo sustentáculo: poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Não credite só ao governo os sucessos alcançados, nem debite só ao governo os insucessos que ocorrerem. Cada poder deve arcar com a cota que lhe diz respeito.

Em última instância, quem perde ou ganha é o país; é o povo brasileiro.

Atente para os “grupos” que se fazem presentes em qualquer governo: econômico, regional, militar, setorial, ideológico, religioso, ambiental, produtivo, familiar, cultural e outros mais.

Todos têm muito a contribuir para o bem do país. Saiba catalisar o potencial de cada um, formando a sinergia do seu governo.

Mantenha-se fiel às promessas de campanha e procure implementá-las ao longo dos quatro anos de mandato. A corrida é de fundo e não prova rápida como querem muitos.

Dose as energias para obter bom desempenho.

Em sua prece diária, peça a Deus que lhe dê saúde e sabedoria para conduzir os destinos do Brasil.

General-de-Brigada Reinaldo Cayres Minati

Comandante da AMAN 2001/2002

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