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Depoimento

À CPI da Covid, gerente da Pfizer confirma que oferta de vacinas ao Brasil ficou sem resposta

Carlos Murillo, gerente da Pfizer na CPI da Covid
Carlos Murillo, gerente da Pfizer, na CPI da Covid (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad)

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O gerente-geral da farmacêutica Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, que depõe nesta quinta-feira (13) na CPI da Covid, confirmou que a empresa apresentou ao governo brasileiro no ano passado uma oferta para a comercialização de 70 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, e que a proposta permaneceu sem resposta por cerca de dois meses. O episódio havia sido contado à CPI no dia anterior por Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência da República.

Segundo Murillo, a proposta contemplava a entrega de 1,5 milhão de doses de vacinas ainda nos meses finais de 2020. A oferta foi elaborada pela Pfizer em agosto, enviada ao presidente Jair Bolsonaro, ao vice Hamilton Mourão e a outras autoridades do governo, e só teve algum encaminhamento após Wajngarten ter conhecimento da iniciativa por meio de uma conversa informal com o empresário Marcelo de Carvalho, proprietário da Rede TV!. Murillo relatou que teve uma conversa telefônica com Wajngarten sobre o assunto e que, no mesmo ato, Wajngarten levou o telefone ao gabinete de Bolsonaro, que estava em reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes - e que o assunto foi, então, debatido entre eles.

Murillo disse que a primeira proposta que a Pfizer fez ao Brasil, que tinha o planejamento de entregas apenas até o fim do primeiro semestre de 2021, contemplava 18,5 milhões de doses: 1,5 milhão em 2020, 3 milhões no primeiro trimestre de 2021 e os 14 milhões restantes no segundo trimestre de 2021, o que totaliza 18 milhões de doses.

Ao expor os números, o gerente foi confrontado pelo presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), que resgatou o fato de que o contrato vigente entre a Pfizer e o governo brasileiro prevê a entrega de 14 milhões de doses até o fim do segundo trimestre. Segundo Aziz, as falas indicariam que a falta de resposta do governo federal levou o Brasil a dispor de menos 4,5 milhões de doses do imunizante. Em resposta, Murillo disse que não é possível ter a certeza de que os 18,5 propostos no ano passado seriam entregues, porque na ocasião a vacina ainda não contava com a aprovação definitiva da Anvisa.

O gerente da Pfizer também confirmou uma negativa que a empresa fez em fevereiro em resposta a uma declaração do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Na ocasião, Pazuello disse que a empresa havia ofertado apenas 6 milhões de doses ao Brasil. Murillo relatou que a oferta havia sido de 70 milhões. Outro ponto de discordância entre Pazuello e a empresa, relatado por Murillo, diz respeito às cláusulas do contrato para a compra de vacinas, chamadas de "leoninas" pelo ex-ministro. Murillo disse que não concordava com a avaliação de Pazuello e que o contrato estabelecido pela Pfizer ao Brasil seguia um modelo que a empresa apresenta a todos os países com quem negocia a venda de imunizantes.

A "vacina do jacaré"

Murillo foi perguntado sobre o impacto da declaração de dezembro de Bolsonaro sobre a vacina da Pfizer - na ocasião, contrariado com os termos da negociação do imunizante, o presidente afirmou: "lá no contrato da Pfizer, está bem claro: nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito secundário. Se você virar um jacaré, é problema seu".

O gerente da farmacêutica evitou uma resposta direta à fala de Bolsonaro, mas declarou que a empresa é "baseada em ciência" e não se pauta por declarações. Ele também disse que não ouviu falas com o mesmo teor das pessoas do governo federal com quem empreendeu negociações.

Murillo também disse não ter tratado com uma suposta "assessoria paralela" de Bolsonaro. A expressão ganhou corpo na CPI da Covid desde os primeiros dias da comissão, lançada pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, e se refere a um grupo de pessoas que municiaria o presidente com informações que contrariam as diretrizes das organizações da saúde - e estimulam condutas como o tratamento precoce e o combate ao distanciamento social e ao uso de máscaras.

O gerente da Pfizer declarou que todos os seus encontros com pessoas que trataram em nome do governo federal foram com membros oficiais do governo, como integrantes do Ministério da Saúde e do Palácio do Planalto. Ele também destacou que seu principal interlocutor no Ministério era Élcio Franco, que foi secretário-executivo da pasta durante a gestão de Eduardo Pazuello.

Antes do depoimento, briga na CPI da Covid

A fala de Murillo foi precedida por mais um momento de troca de farpas entre parlamentares governistas e adversários do governo de Jair Bolsonaro na CPI da Covid. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) se queixou do fato de que a comissão não estar abordando denúncias que envolvem governadores e prefeitos, como está no plano inicial de investigações. Os parlamentares também divergiram sobre convocações para depoimentos.

E em sua pergunta inicial para Carlos Murillo, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), recordou o embate que teve na quarta com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e disse que a presença do presidente Bolsonaro em Alagoas nesta quinta era uma "clara provocação a esta comissão".

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