Presidente Jair Bolsonaro em teleconferência com o primeiro-ministro de Israel: falhas na comunicação institucional expõem o governo em plena pandemia.| Foto: Marcos Correa/PR
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Com o Brasil batendo recordes de mortes diárias por coronavírus, o governo do presidente Jair Bolsonaro traçou uma estratégia para enfrentar o pior momento da pandemia de Covid-19 no país e a turbulência política decorrente dele: melhorar a comunicação institucional.

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A ideia é "contra-atacar" com dados e informações sobre o que está sendo feito para combater a doença. “O governo se comunica mal e vem se comunicando mal na crise da pandemia”, diz um interlocutor do Palácio do Planalto à Gazeta do Povo.

O governo Bolsonaro sustenta que está trabalhando em outras frentes de combate à pandemia e a seus efeitos na economia, mas que são setores em que há outros atores envolvidos.

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Por exemplo: o Planalto argumenta que está ampliando a oferta de vacinas contra a Covid-19, mas que há uma escassez de imunizantes no mercado mundial que freia o ritmo de compra de doses. Também assegura que mobiliza sua base no Congresso a acelerar a discussão de pautas prioritárias de enfrentamento da Covid-19 e de seus efeitos na economia, tais como os projetos para agilizar a compra de vacinas e para renovar o auxílio emergencial. Mas esses projetos dependem dos parlamentares.

Diante de tudo isso, a comunicação é uma área de responsabilidade exclusiva do governo na qual o Planalto vê possibilidade de melhoria. E ministros já alertaram Bolsonaro de que a comunicação do governo não funciona da forma considerada por eles como a ideal, principalmente no que se refere à pandemia. “O governo toma as medidas, mas a forma e o que está acontecendo não chega à população”, afirma um interlocutor do Planalto.

Mas, ao mesmo tempo em que pretende melhorar a comunicação, há uma disputa interna dentro do governo pela área que pode atrapalhar os objetivos do Planalto.

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Demissão de Fábio Wajngarten, da Secom, vem sendo estudada

No Planalto, uma mudança vem sendo estudada: a demissão do titular da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Fábio Wajngarten. Os mais críticos a Wajngarten dentro do governo alegam que ele adota uma gestão equivocada, centrada essencialmente na comunicação personalista de Bolsonaro.

“O Wajngarten acha que a comunicação do governo é para conseguir espaço para o presidente no [apresentador José Luiz] Datena [da TV Bandeirantes] e em outros canais de televisão onde ele [o titular da Secom] tem amizades em São Paulo, alguns acessos. E acha que comunicação se resume a isso”, diz um dos assessores.

A avaliação feita por parte dos assessores palacianos, por ministros e outros conselheiros de Bolsonaro no Planalto – sobretudo os da chamada “ala militar” – é que a comunicação precisa ser profissionalizada. Técnicos palacianos citam como exemplo de profissionalização mais investimentos em publicidade e o fim da “guerra com setores da imprensa”.

O grupo do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e outros ministros palacianos defendem que Bolsonaro tenha uma assessoria pessoal para definir sua comunicação personalista com os apoiadores e deixe a Secom com funções mais estratégicas e institucionais.

“Independentemente de você gostar ou não da imprensa, de ter dificuldades com determinados veículos, ela [a Secom] tem que agir de forma profissional, direta, tem muita coisa para ser feita”, diz um assessor. “O governo não faz boa publicidade no meio da pandemia, esclarecendo as ações que têm que ser tomadas e comunicando o que o governo vem fazendo na aquisição de vacinas. Era para ter publicidade disso em todas as redes de televisão”, desabafa outro.

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Pessoas próximas ao ministro Pazuello dizem que ele culpa Wajngarten pelas cobranças públicas sobre seu trabalho, que diz considerar excessivas. Um indicativo das discordâncias em relação às estratégias de comunicação do secretário da Secom é que Pazuello, para melhorar a imagem do ministério, contratou o marqueteiro Marcos Eraldo Arnoud, conhecido como Markinhos Show, como seu assessor especial.

Por sua vez, aliados de Wajngarten dizem que ele culpa Pazuello por toda a atual turbulência política. O chefe da Secom, apesar da pressão pela sua demissão, conta com o apoio de integrantes da chamada "ala ideológica" do governo e de parlamentares "bolsonaristas".

“Acho um grande equívoco tirar o Wajngarten da Secom, porque o problema não reside ali. O próprio Fábio é um grande crítico da comunicação do Pazuello e do Ministério da Saúde. O problema da comunicação da pandemia não é da Secom. É uma falha interna da pasta, que não dialoga nem com a Secom, nem com a imprensa, com os governadores e prefeitos da maneira correta”, diz um deputado “bolsonarista”.

Representantes da ala ideológica criticam, por exemplo, as negociações de Pazuello para a compra de vacinas. “Claro que a Pfizer fez pedidos 'incumpríveis', afinal, ela vai pedir tudo para chegar a um meio termo melhor para ela. Mas Pazuello não chegou a um acordo e deixou isso a cargo do Congresso”, critica um deputado.

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Wajngarten tem o apoio da família de Bolsonaro

A ala do Planalto que defende a saída de Wajngarten já tem um favorito para ocupar a Secom: o almirante Flávio Rocha, titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). No Planalto, a informação é de que ele exerceria as duas funções, SAE e Secom, simultaneamente. “[A substituição] está encaminhada. Só falta o presidente bater o martelo”, diz uma fonte do Planalto.

A mudança na Secom dependeria apenas de se encontrar alguma função alternativa para Wajngarten dentro do governo. Bolsonaro não quer exonerá-lo sem garantir ao secretário algum órgão para chefiar. O escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em São Paulo é cogitado.

Mas a mudança na Secom ainda está num impasse. Aliados do governo de fora do Planalto apostam que a troca não vai acontecer.

A Gazeta do Povo ouviu aliados “bolsonaristas” sobre a demissão. Para eles, Wajngarten pode permanecer à frente da Secom. “O movimento de retirada dele se esfriou. Na última semana e no fim de semana, havia um movimento muito forte de bastidores, mas isso perdeu força, tanto que ele não saiu até agora”, diz um parlamentar com acesso direto a Bolsonaro.

A suspeita entre os “bolsonaristas” é de que o movimento de demissão de Wajngarten esfriou por atuação dos filhos do presidente e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O titular da Secom é próximo do vereador fluminense Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). “O Fábio tem respaldo dos três”, diz um congressista aliado do presidente da República e dos filhos.

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Wajngarten se aproximou dos filhos, principalmente de Carlos, após o atentado contra Bolsonaro, em 2018, em Juiz de Fora (MG). “Desde então, os filhos nutrem uma amizade e gratidão muito grande ao Fábio”, diz o aliado. “O Fábio também tem uma boa relação com a primeira-dama. Ele a ajuda muito nas atividades dela [Michelle é presidente do conselho Pátria Voluntária]. Estão sempre conversando. A família do presidente gosta dele e não tenho dúvidas de que isso pesa a favor”, acrescenta.

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Governo Bolsonaro conta com Congresso para aprovar projetos

Paralelamente à tentativa de melhorar a comunicação, o Planalto aposta na aprovação de projetos de enfrentamento à Covid-19 no Congresso Nacional para também dar respostas à população. E argumenta que isso já está sendo feito.

Aprovada no Senado, a proposta de emenda à Constituição (PEC) 186/19, a chamada “PEC Emergencial”, permite a retomada do pagamento do auxílio emergencial para pessoas afetadas pela crise econômica causada pela pandemia. A PEC deve ser votada na semana que vem pela Câmara.

O Congresso também aprovou o projeto de lei (PL) n.º 534/21, que autoriza a União, os estados e municípios a assumirem a responsabilidade de indenizar os cidadãos por eventuais efeitos colaterais provocados pelas vacinas contra a Covid-19 e permite a contratação de seguros privados para constituir garantias. Só após a aprovação do PL 534/21 foi que o Ministério da Saúde confirmou a compra de imunizantes da Pfizer — a empresa era uma das que exigia não ser responsabilizada por eventuais efeitos colaterais de seu imunizante.

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O senador Elmano Férrer (PP-PI), vice-líder do governo e segundo secretário da Mesa Diretora do Senado, assegura que os aliados de Bolsonaro e todo o Congresso darão as respostas que o país precisa para os problemas sociais, sanitários e econômicos. “As duas Casas [Senado e Câmara] estão dando contribuição fantástica à sociedade”, diz ele.

Para Férrer, o governo federal tem desempenhado seu papel e não pode ser inteiramente responsabilizado por todas as mazelas durante a pandemia. “Muitos não aceitaram a vontade da maioria dos eleitores; e sempre nos pomos diante de uma crise [política]. Mas, no meu entendimento, o governo fez a parte dele”, pondera.

Para o vice-líder do governo, o governo atuou bem no socorro a famílias, empresas e aos estados e municípios. “Ajudou seres humanos com esse auxílio emergencial, que atendeu a 68 milhões de pessoas, assistiu às micro e pequenas empresas, distribuiu recursos aos estados para compensar a perda de receitas que todos têm e prorrogou dívidas dos estados e municípios com a União e agentes financeiros”, dz Férrer.

O parlamentar lamentou ainda o cenário de conflito político e em relação à Covid-19. “Lamento que tenha acontecido e continue esse desentendimento entre os entes federados. Isso não nos leva a mais nada. Diante de tudo isso, é fundamental a busca de um entendimento, de diálogo, que pensemos mais nas pessoas e deixemos as questões político-partidárias e ideológicas de lado”, diz Férrer.