O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez seu discurso em resposta ao ex-ministro Sergio Moro, nesta sexta-feira (24), ladeado do primeiro escalão de seu governo. O vice-presidente General Mourão, os ministros palacianos Braga Netto (Casa Civil) e General Heleno (Segurança Institucional), Abraham Weintraub (Educação), Paulo Guedes (Economia) e o recém-chegado Nelson Teich (Saúde) compuseram o cenário da fala de Bolsonaro no Palácio do Planalto.
A presença da cúpula da gestão ao lado de Bolsonaro foi um indicativo da mensagem que o presidente e sua equipe procurarão passar nas próximas semanas. A ideia é de sugerir aliança entre os diferentes segmentos do governo, que passou por duas baixas recentes.
Antes de Moro, a última exoneração havia sido a de Luiz Henrique Mandetta, que comandava a Saúde, e caiu no dia 6. Nos dois casos, a queda dos ministros arranhou a imagem do presidente. Moro acumulava índices de popularidade superiores ao de Bolsonaro, que se explicavam também pela sua atuação como juiz da operação Lava Jato, em que trabalhou até aceitar o convite de integrar o governo.
Já Mandetta recebia elogios públicos pela condução do combate à pandemia de coronavírus. Mas para Bolsonaro e outros integrantes do governo, além de adotar diretrizes em desacordo das desejadas pelo presidente, Mandetta não tratava a gestão do enfrentamento à covid-19 como um assunto que merecia ações de todo o Executivo, e sim apenas de seu ministério.
Convocação e mudança de planos
A presença dos ministros junto a Bolsonaro durante o pronunciamento começou a ser articulada pouco após Moro concluir a sua fala no Ministério da Justiça. Por ter ocorrido em uma sexta-feira, dia em que muitos ministros retornam às suas cidades de origem, a convocação não evitou algumas baixas – como a dos titulares do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do Turismo, Marcelo Alvaro Antonio.
"Infelizmente não pude estar ao seu lado na coletiva, pois estou a caminho de BH de carro por conta da falta de opções de voos neste momento, mas o senhor sabe que pode contar comigo nesta batalha. Sempre juntos, capitão! Pelo Brasil!", escreveu Antonio em seu perfil no Twitter
O pronunciamento desta sexta não estava na agenda de Bolsonaro e nem dos demais ministros. Acabou incluído posteriormente na relação de compromissos do presidente, como "coletiva à imprensa", ainda que não tenha incluído perguntas dos jornalistas.
A necessidade do comparecimento ao Planalto frustrou a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que planejava anunciar, nesta sexta, um conjunto de políticas para a população idosa ao lado dos ministros Teich e Onyx Lorenzoni (Casa Civil).
"Vamos trabalhar. Nós estamos no meio de uma pandemia. Vamos cuidar do nosso povo. Temos muita coisa pra fazer. Justamente hoje que nós íamos anunciar para o Brasil, eu, o ministro Onyx, e o ministro da Saúde, o ministro Nelson, todas as ações para a população idosa, a gente não pôde anunciar porque tinha o pronunciamento do presidente. Mas acompanhem o nosso trabalho, nos nossos sites, no site dos ministérios, vejam quanta coisa nós estamos fazendo para a população idosa. Presidente Bolsonaro, fique firme. Estamos todo mundo junto com o'senhor. Vamos trabalhar, cuidar do nosso país", afirmou Alves, em vídeo postado por ela nas redes sociais.
Guedes, da guerra à paz com Bolsonaro
O ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve ao lado de Bolsonaro durante o pronunciamento – e foi o único dos presentes no púlpito a utilizar máscara de proteção contra o coronavírus. Horas depois, ele foi elogiado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente: "A extrema imprensa, sem qualquer pudor, segue trabalhando no seu rodízio de intrigas contra ministros. Vejo neste momento suas energias focando contra o Ministro Paulo Guedes. Para que não haja dúvida: PG segue tendo nosso total apoio!", postou o parlamentar em seu perfil no Twitter.
A participação de Guedes e o elogio de Eduardo soam como uma resposta a especulações que o haviam apontado também como um demissionário do governo. Algumas decisões recentes de Bolsonaro e outros ministros estariam desagradando o titular da Economia. Uma delas foi o anúncio do programa Pró-Brasil, feito pelo ministro Braga Netto na quarta-feira (22). A divulgação do projeto não contou com Guedes e ele, nos bastidores, teria criticado a iniciativa – ele fez comparativos entre o projeto e o PAC, que marcou os governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Guedes também estaria insatisfeito com a aproximação de Bolsonaro com integrantes do chamado Centrão, porque a movimentação poderia levar a um fatiamento do Ministério da Economia. A pasta poderia ser dividida em três: Fazenda, Planejamento e Trabalho, com o controle deste último segmento sendo distribuído a partidos aliados.
Na opinião de um deputado da base aliada, com trânsito com Bolsonaro, a saída de Guedes seria inevitável caso o governo queira "trocar de linha" na economia. "Para um cara como o Paulo Guedes, uma proposta como o Pró-Brasil é cavar ainda mais o buraco. É algo que não tem nenhuma ligação com o que ele pensa para o país. Se o governo realmente for por esse caminho, será difícil ele continuar", afirmou o parlamentar.
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