O presidente Lula chamou Bolsonaro de “covardão” por ter “fugido” para os EUA na “expectativa de que um golpe poderia acontecer”.| Foto: Reprodução/Canal Gov
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Após quedas nos índices de aprovação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo identificou que tem um problema de comunicação e planeja uma mudança de estratégia para melhorar a percepção da população sobre o trabalho do presidente. Alguns pontos foram discutidos na segunda-feira (18) em uma reunião ministerial no Palácio do Planalto, como a cobrança do petista por uma maior participação de seus ministros nas redes sociais.

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Apesar disso, analistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que uma característica da comunicação do governo deve continuar: os discursos divisivos de Lula e a aposta do presidente em continuar rivalizando com Jair Bolsonaro (PL).

O próprio presidente deixou claro que não está disposto a abandonar os discursos radicais ao se referir ao ex-presidente Jair Bolsonaro como "covardão", por supostamente ter cogitado mas não colocado em prática a ideia de intervir no resultado das eleições. A fala aconteceu antes da reunião ministerial na segunda-feira em um evento que, em tese, deveria ser focado nas ações do terceiro mandato. As críticas a Bolsonaro acabaram repercutindo mais do que o balanço do governo.

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O comportamento do petista é de estimular a polarização e falar somente para o público de esquerda em temas que vão desde economia a relações internacionais. A atitude vem sendo apontada por analistas políticos como um dos fatores responsáveis para a queda de popularidade de Lula, captada em três pesquisas de opinião divulgadas no começo de março (veja mais sobre elas abaixo).

Uma delas, da consultoria Genial/Quaest (*veja metodologia abaixo), mostrou a terceira queda consecutiva na avaliação do governo Lula. O levantamento indicou que 46% desaprovam o governo e 38% acreditam que a economia piorou. Já as críticas de Lula ao governo de Israel foram consideradas exageradas para 60% dos entrevistados. Para especialistas, as falas de Lula sobre Israel, as interferências na Petrobras e na Vale e o aumento no preço dos alimentos foram determinantes para as recentes percepções da população.

"Lula sempre teve um discurso mais voltado para a esquerda, mas ainda assim ele falava para o mercado, por exemplo, acenava para esses setores mais de direita tentando conquistar esses setores. Agora não estamos vendo isso. Estamos vendo um Lula muito mais irredutível com o seu discurso de esquerda e isso deve ser mantido”, pontua a doutora em Ciências Políticas Deysi Cioccari.

Segundo ela, há uma diferença clara entre os dois primeiros governos de Lula e o atual. "Nos dois primeiros, a gente tinha uma política partidária muito mais forte, mas agora a gente vê uma polarização mesmo entre personagens”, diz Cioccari. De acordo com ela, Lula continua se apoiando em discursos que conversam apenas com seu eleitorado de esquerda tradicional.

"A gente observa que constantemente ele coloca como assuntos do "inimigo" pautas que dialogam com a direita, como as críticas a Israel ou ao mercado, que recentemente ele chamou de 'dinossauro feroz'”, analisa Cioccari, que também é especialista em análise de discurso.

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Segundo o analista político Leandro Gabiati, da consultoria Dominium, a queda de popularidade de Lula pode ser explicada pela insatisfação de um eleitorado mais moderado que “quer um pouco de paz, mas não vê que isso seja uma meta do governo”. Essa parte da população fica incomodada por exemplo com o apoio de Lula aos ditadores Nicolas Maduro, da Venezuela, e Vladimir Putin, da Rússia, e com o hábito do presidente de se comparar constantemente com Bolsonaro.

"As pesquisas apontam que Lula está no rumo errado, ou seja, manter a polarização, trazer constantemente o Bolsonaro à tona não beneficia ele”, disse Gabiati no programa Assunto Capital da Gazeta do Povo. Veja aqui a íntegra do programa.

Governo minimiza queda de popularidade de Lula

Publicamente, o governo minimiza as pesquisas, dizendo que "oscilações de avaliação são naturais" e que "não há nenhuma preocupação adicional", segundo o ministro da Casa Civil, Rui Costa. O Planalto, porém, vai se movimentar para mudar a percepção dos brasileiros.

Uma das cobranças de Lula é a maior participação de seus auxiliares nas redes sociais. "[Ele pediu] que a gente procure agregar em indicadores que sejam compreendidos pela população, como os resultados do governo, da economia e das coisas que estamos fazendo", afirmou Costa em entrevista coletiva.

O Ministério das Comunicações também vai contratar quatro empresas de comunicação para impulsionar as atividades do governo nas redes e mudar a estratégia digital do Planalto. "Hoje eu não consigo pegar essa informação [mais específica] e levar para quem eu quero. Então [com a nova estratégia] nós vamos fazer isso", informou Paulo Pimenta, ministro das Comunicações, a jornalistas no Palácio do Planalto, após a reunião com Lula.

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Costa e Pimenta disseram que as informações do governo têm sido "pulverizadas" e não são aproveitadas por quem deveria, situação que, de acordo com os ministros, gera sensação de inércia do governo. Ambos alegam ainda que os "resultados do governo existem", citando como exemplo o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, mas que a população não foi impactada por eles.

O problema da esquerda com as redes sociais

Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam que a dificuldade do governo de se comunicar com a população está relacionada ao fato de que a esquerda ainda não saber utilizar as plataformas digitais de forma eficiente.

"A comunicação tradicional feita por TV, jornais e rádios ainda é eficiente, mas não pode ser a única forma de fazer informação ou de repassá-la ao público", avalia o advogado e cientista político Valdir Pucci.

Diferente de seu opositor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula não consegue bons desempenhos nas redes sociais. As lives semanais do petista, estratégia que rendia a Bolsonaro milhares de espectadores nas redes, não funcionou com Lula e as transmissões foram encerradas.

Discursos radicais de Lula se destinam a antagonizar com "mito político"de Bolsonaro

O chefe do Executivo brasileiro tem adotado discursos divisivos ao se posicionar sobre os mais diversos temas. Um exemplo disso foi a postura adotada pelo petista sobre os conflitos entre Rússia e Ucrânia, e entre Israel e Hamas.

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O petista recebeu uma série de críticas, no Brasil e no exterior, por dizer que a Ucrânia era tão responsável pela guerra quanto a Rússia, o país invasor.

Além disso, Lula comparou os ataques de Israel ao grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza ao Holocausto, política de extermínio de judeus implementada pelo ditador alemão Adolf Hitler. A fala repercutiu em todo o mundo e trouxe consequências ao petista. Ele foi considerado persona non grata em Israel, ou seja, não é mais bem-vindo naquele país, e também viu sua popularidade cair no Brasil, especialmente dentro do segmento evangélico.

Na política nacional, críticas constantes de Lula ao seu principal opositor e minaram a tentativa de "reconciliação nacional", a qual chegou a ser mencionada pelo petista durante a campanha e após a vitória nas eleições 2022.

“Aquele discurso da campanha, de que ele seria capaz de acabar a polarização, de esquecer e enterrar o Bolsonaro, ele desenterra toda vez. Desenterra quando ele fala para convertidos, quando deixa uma parcela da população de lado, quando deixa uma centro-direita e uma direita de lado… Ele [Lula] acaba fortalecendo a polarização”, pontua Cioccari.

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Apesar do que Lula pregou em sua campanha, de que a polarização teria um fim, as estratégias do petista à frente do Executivo tiveram o efeito inverso. No final do ano passado, o Governo Federal ainda chegou a lançar a campanha “O Brasil é um só povo” com o objetivo de “mobilizar os brasileiros para a consolidação da reconstrução do país”, mas os discursos de Lula vão na direção oposta da campanha.

"Politicamente, parece que o Lula quer fazer um aceno a esse núcleo mais duro do PT e para essa base mais acirrada dele. Isso acaba fortalecendo apenas aquela parte da população que o elegeu. Lula não lembra que nem todo mundo que votou no Bolsonaro é de extrema direita, às vezes votou apenas por uma questão de antipetismo moderado. Isso poderia ser resolvido com um discurso mais conciliador”, avalia Deysi Cioccari.

A cientista política avalia que a polarização é uma consequência e também uma causa para a postura radical adotada pelo petista. "O que fez o Lula mudar foi que pela primeira vez, desde que ele saiu da presidência da República, ele encontrou um personagem político à sua altura", afirma a cientista política.

"Na política se fala muito sobre mitos políticos e, desde a abertura democrática, o Brasil sempre teve um mito político que era o Lula. O líder capaz de mobilizar massas e arrastar multidões. Tivemos presidentes como FHC, que foi reeleito, mas nunca [foi] considerado um mito político capaz de arrastar multidões. Agora a gente tem Bolsonaro. Eu acho que o maior antagonista dele faz com que ele reaja dessa forma, que fale para convertidos e nem pense em tentar ir para outro campo", avalia Cioccari.

Polarização que divide o Brasil deve chegar às eleições de 2026

Enquanto Lula reforça o discurso da esquerda radical e afasta os eleitores da oposição, a população também se sente dividida. Um recorte também feito pela Genial/Quaest mostra o aumento dessa percepção entre os brasileiros. "Saltou de 64% para 83% quem acha que o país está mais dividido. Percentual parecido com o observado logo após o 8/1 do ano passado", disse o diretor do instituto Quaest e especialista em pesquisa de opinião, Felipe Nunes, em sua conta no X (antigo Twitter).

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Os analistas ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam ainda que essa sensação deve perdurar ao menos até as próximas eleições. "Também é interesse para o presidente Lula fomentar a polarização política. Não a ruptura institucional. Mas sim uma polarização entre Lula versus Bolsonaro, entre esquerda e direita, porque ele acredita que é interessante para as eleições de 2024 que essa polarização continue. É como uma forma até mesmo de medir forças com a direita no Brasil. É isso o que mais pesa nos discursos do Lula", diz o cientista político Valdir Pucci.

O cenário eleitoral para 2026 não deve ser diferente. "Essa polarização deve ser sentida, pelo menos, até as próximas eleições presidenciais. Se não for com Bolsonaro, será com alguém muito parecido com ele e esse cenário já está se desenhando", afirma também a cientista política Deysi Cioccari.

Metodologia

*O levantamento foi realizado pelos institutos Genial e Quaest e ouviu, em formato presencial, duas mil pessoas, entre os dias 25 a 27 de fevereiro de 2024. As entrevistas foram feitas em 120 cidades de todas as regiões do país. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o nível de confiabilidade é de 95%.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]