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O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não se pronunciou oficialmente sobre o ato do ditador venezuelano Nicolás Maduro de promulgar a lei unilateral que anexa a região do Essequibo que pertence à Guiana, na última quarta (3).
Lula é o principal fiador da reinserção da Venezuela na geopolítica internacional, mas começou a ensaiar uma mudança de tom na semana passada após a Corte eleitoral do país impedir a inscrição da opositora Corina Yoris à disputa presidencial deste ano.
Nem Lula e nem o Ministério das Relações Exteriores se pronunciaram sobre a polêmica anexação de Essequibo através de uma detalhada lei que impediria qualquer movimento de contestação, permitindo inclusive “todo o poder nacional e militar da pátria” para isso, como disse o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López.
O silêncio também contrasta com a posição que vinha sendo adotada pelo Brasil de ser um moderador das negociações entre Nicolás Maduro e o presidente guianense, Irfaan Ali, e ter patrocinado o encontro de ambos em São Vicente e Granadinas, no final do ano passado.
Na ocasião, Maduro e Ali assinaram um acordo se comprometendo a não usar a força militar um contra o outro e a não intensificar o discurso sobre a disputa pelo Essequibo.
Apesar do silêncio por parte do governo, o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, disse que vê a ação de Maduro mais como um “gesto simbólico” perante a “política interna”. Mas, descartou que evolua para algo mais grave.
“O gesto é simbólico, obviamente tem seu peso, mas vou arriscar uma opinião de que isso tem a ver com a política interna. É simbólico, pode ter algum efeito, mas não creio que vá haver alguma consequência grave”, disse em entrevista ao jornal O Globo.
Amorim ainda reafirmou o compromisso do Brasil com a paz na região e expressou confiança no acordo entre Guiana e Venezuela. Ele ressaltou que o Brasil “é testemunha desse acordo” e destacou a importância de reforçar o diálogo entre os países envolvidos.
“O acordo assinado, autorizado pelo próprio Maduro, prevê que é essencial reafirmar a região como área de paz e diz que as partes renunciam a qualquer possibilidade de uso de força armada”, pontuou reafirmando que o Brasil deve fazer um “reforço no diálogo” com os países envolvidos.
A criação do estado da “Guiana Essequiba” é resultado de um referendo unilateral realizado em dezembro por Maduro. A região do Essequibo é uma área rica em petróleo e recursos naturais e tem sido alvo de disputa entre Venezuela e Guiana por mais de um século.
Segundo o texto da lei promulgada por Maduro, o estado da “Guiana Essequiba” seria governado a partir da cidade de Tumeremo, no estado venezuelano de Bolívar, e prevê medidas contra aqueles que “favoreçam” a causa da Guiana.