Witzel foi afastado do cargo por suspeita de desvio de recursos da saúde durante a pandemia de coronavírus.| Foto: Rogerio Santana/Governo do RJ
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Na denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), tornada pública com a deflagração da Operação Tris in Idem, na sexta-feira (29), os investigadores detalham o suposto esquema de loteamento de contratos e cargos comandado pelo próprio chefe do Executivo fluminense.

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No documento de 403 páginas, a subprocuradora Lindôra Araújo, responsável pela investigação em curso desde maio, aponta a existência de três grupos ocultos instalados na máquina pública. Eles seriam coordenados pelo empresário Mário Peixoto; pelo presidente do PSC Pastor Everaldo, um dos 17 presos na operação de ontem; e pelo também empresário José Carlos de Melo.

Enquanto os dois primeiros são conhecidos do público – Peixoto notadamente pela prisão na Lava Jato e Pastor Everaldo pela carreira como líder religioso e pelos episódios caricatos na política, como o batismo de Jair Bolsonaro no Rio Jordão –, o nome de José Carlos de Melo não emplacou tantas manchetes.

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Menos conhecido nos noticiários, Melo é descrito na denúncia como uma "pessoa de expressivo poder econômico". Ele atuaria nos bastidores como "agenciador" de empresas de diferentes setores interessadas em integrar o suposto esquema de pagamento de propinas em troca de contratos com o governo.

Na representação do Ministério Público Federal, são citados exemplos recentes de negócios firmados na Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) e no Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

“Além de possuir dinheiro em espécie em volume e facilidade, ter o domínio sobre empresas contratadas pelo Poder Público, José Carlos de Melo conta com fortes relações com policiais federais e adota rotina de troca constante de números de telefone", diz um trecho do documento. Os contatos na PF teriam vazado informações sobre a Operação Favorito, que investigou suspeitas de irregularidades em contratos da Saúde do Rio.

As informações sobre a atuação do empresário foram obtidas pelos investigadores a partir da delação premiada firmada com o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, que sintetizou ainda a "carreira" de Melo nos esquemas. Ele teria começado como parceiro de Mário Peixoto e ganhado autonomia com a ascensão de Witzel.

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“O colaborador esclarece que o relacionamento de José Carlos de Melo com o empresário Mário Peixoto já existia no passado. Com a assunção de Wilson Witzel ao governo do Estado do Rio de Janeiro José Carlos de Melo ampliou seu poder dentro da organização, passando a liderar um grupo próprio de negócios ilícitos", registra o MPF.

O empresário pagaria "mesadas" de R$ 300 mil a Edmar Santos, que confessou os recebimentos em espécie, e de R$ 150 mil ao Secretário de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues, em troca da obtenção de contratos para empresas "representadas" por ele.

Pelo menos 162 movimentações financeiras de "grandes volumes de dinheiro em espécie", frequentemente superiores a R$ 100 mil, foram identificadas em relatórios da Unidade de Inteligência Financeira (UIF), o antigo Coaf, e, segundo o MPF, eram feitas pessoalmente ou por meio de familiares e funcionários.

Os investigadores suspeitam que o empresário tenha usado a Universidade Nova Iguaçu, onde exerce o cargo de pró-reitor administrativo, e o Centro de Assistência Profissional e Educacional, associação privada responsável pela gestão da Associação de Ensino Superior de Nova Iguaçu (SESNI), para "inúmeras movimentações suspeitas", entre junho de 2016 e janeiro de 2020, que chegam à casa de R$ 1 bilhão.

Outro lado

A reportagem busca contato com a defesa do empresário José Carlos de Melo.

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Em nota, o governador afastado afirmou: “A defesa do governador Wilson Witzel recebe com grande surpresa a decisão, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade. Os advogados aguardam o acesso ao conteúdo da decisão para tomar as medidas cabíveis". Em pronunciamento o governador afastado se disse "indignado" e "vítima de perseguição política".

O Pastor Everaldo informou que, no dia 19 de agosto, encaminhou petição ao STJ solicitando para ser ouvido. E que foi surpreendido com sua prisão e com a busca e apreensão realizadas em seus endereços. "Após ser preso, o Pastor Everaldo pediu para ser ouvido ainda hoje [sexta]. O depoimento, no entanto, só deve acontecer na próxima segunda-feira, dia 31. O Pastor Everaldo reitera sua confiança na Justiça", afirmou o presidente do PSC.