O procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes anunciou nesta sexta-feira (4) que está deixando a força-tarefa da Operação Greenfield por "insatisfação com a insuficiência de dotação de uma estrutura adequada de trabalho". À frente da operação desde o começo, em 2016, ele enviou um memorando à Procuradoria do Ministério Público Federal no Distrito Federal para oficializar sua saída.
Lopes era o único procurador da Greenfield com dedicação exclusiva — no início, a investigação chegou a ter cinco integrantes que se dedicavam somente à operação. Entre outros, o grupo apurou fraudes em fundos de pensão públicos, como Petros, Funcef e Postalis, e atuou em investigações como a do bunker de R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Ao divulgar prestação de contas nesta sexta, a força-tarefa Greenfield confirmou o afastamento de Anselmo Lopes e afirmou que enfrenta um "cenário de grave deficiência estrutural e dificuldades junto à Procuradoria-Geral da República". Cláudio Drewes, procurador-chefe do MPF do DF, vai assumir o lugar de Lopes. A mudança começa a valer na próxima terça-feira (8). Anselmo era o procurador natural do caso.
Juntamente com o relatório das atividades da chamada "terceira etapa" da força-tarefa, a Procuradoria da República no Distrito Federal divulgou uma carta aberta escrita por Lopes explicando sua decisão de se afastar dos trabalhos da Greenfield.
"Hoje, a Greenfield é um universo imenso de casos e investigações, que envolve cifras bilionárias (ou trilionárias, considerando que temos dados bancários que somam cerca de três trilhões de reais, ao todo, em casos de nosso Simba), sendo de grande relevância e impondo enorme responsabilidade, não sendo possível que um só procurador da República se dedique com exclusividade a esse complexo investigativo. Por maior que seja o espírito público e a vontade de lutar pela Justiça, permanecer como único membro de dedicação exclusiva à força-tarefa pareceu-me inaceitável", afirmou.
A mudança da Greenfield se dá em meio a um período delicado para diferentes forças-tarefa do país. Na última terça-feira (1º), o procurador Deltan Dallagnol anunciou sua saída do comando da Lava Jato em Curitiba para cuidar da saúde da filha. No dia seguinte, os procuradores da força-tarefa da Lava Jato paulista pediram demissão em massa por "incompatibilidades insolúveis" com a procuradora natural do ofício ao qual o grupo é ligado.
No relatório das atividades realizadas pela equipe entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Greenfield aponta ainda que o período foi "marcado por reduções na força de trabalho e por dificuldades na prorrogação da FT pela Procuradoria-Geral da República".
A força-tarefa diz que solicitou a prorrogação dos trabalhos por sucessivas vezes, tendo o procurador-geral da República, Augusto Aras, autorizado a continuidade das atividades no último dia de prazo previsto, mas deixando apenas um procurador dedicado às investigações.
"Assim, desde o dia 1º de julho deste ano, a força de trabalho da FT, que já era bastante aquém do necessário (como reiteradamente comunicado à Procuradoria-Geral) para alcançar seus objetivos de maneira eficaz e eficiente, em prazo razoável (afastando-se o risco de prescrição), sofreu grave prejuízo, considerando que todos os membros da FT Greenfield, com exceção apenas do procurador natural, passaram a acumular os trabalhos da FT com o trabalho ordinário de suas lotações de origem", registrou a força-tarefa.
Segundo os procuradores, a estrutura proporcionada pela última decisão da PGR incrementa o risco de prescrição das metas ainda não cumpridas, já que o prazo para alcançá-las no cenário definido pelo órgão passou para setembro de 2042.
Os números da Greenfield
No ofício em que prestam as contas sobre os trabalhos do último ano, os procuradores destacam os números alcançados pela força-tarefa e também alertam sobre a "imensidão de informações a serem apuradas e a evidente necessidade de que os trabalhos sejam continuados".
Além dos crimes financeiros relacionados a fraudes nos maiores fundos de pensão do país, a força-tarefa também atua nas Operações Sépsis, Circus Maximus, Conclave, Tesouro Perdido, Patmos, Cui Bono —no esquema conhecido como quadrilhão do MDB — e Skala — relacionada ao inquérito dos portos que investigou o ex-presidente Michel Temer. A Greenfield é responsável por 48 ações penais e 27 de improbidade. Faz a gestão de acordos de leniência, de colaboração e de reparação envolvendo o pagamento de mais de R$ 11,8 bilhões.
O plano de ação da força-tarefa possui atualmente 188 metas, das quais 78 foram cumpridas. Os procuradores precisam analisar ainda dados de 435 investigados e quase R$3 trilhões em movimentações financeiras a crédito e a débito já com sigilo bancário afastado e incluídas no Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias, o Simba.
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