Uma declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, incendiou Brasília, nesta sexta-feira (7), e criou um clima hostil para a aprovação no Congresso da reforma administrativa. Guedes disse que o funcionalismo público é um “parasita” que vem matando o “hospedeiro”, o governo, durante palestra no seminário Pacto Federativo, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
A fala passou longe de ser despretensiosa – Guedes tenta sensibilizar a opinião pública da importância de mudar as regras do jogo no serviço público federal. Havia, portanto, um cálculo político. O ministro só não esperava inflamar aqueles que fazem oposição ao projeto de lei. O Ministério da Economia chegou a distribuir uma nota para acalmar os ânimos em que exalta a qualidade do servidor público brasileiro e atribui à imprensa o mal entendido. Mas o estrago já estava feito.
Guedes disse, no seminário, que o governo brasileiro está quebrado porque gasta 90% da sua receita com o funcionalismo. Por isso, afirmou ser urgente a aprovação da reforma administrativa, para que o dinheiro deixe de ser carimbado e chegue onde realmente faz falta.
"O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo. O hospedeiro está morrendo. O cara [funcionário público] virou um parasita e o dinheiro não está chegando no povo", disse Guedes, sendo muito aplaudido pelos presentes.
Segundo ele, os funcionários públicos querem aumento automático enquanto "80% da população brasileira é a favor inclusive de demissão do funcionário publico, estão muito na frente da gente", completou.
Continuando a defesa da reforma administrativa, que encontra resistência no Congresso, Guedes deu como exemplo os Estados Unidos, que ficam "quatro, cinco anos sem ajustar o salário do funcionalismo" e, quando concedem o aumento, têm reconhecimento público. "Aqui o cara é obrigado a dar e ainda leva xingamento", afirmou.
De acordo com Guedes, a reforma administrativa deve chegar ao Congresso na próxima semana. Pelo que já foi divulgado, haverá redução no número de carreiras do funcionalismo e também no salário inicial das carreiras, além de mudanças na chamada estabilidade que, na prática, impede que os servidores sejam demitidos.
Chamar servidor de parasita é "assédio institucional", diz sindicato
O presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, disse que o sindicato estuda recorrer à Justiça contra o que chamou de "assédio institucional". "Empresa nenhuma vai bem se o dirigente agride constantemente seus empregados", afirmou. "Somos 12 milhões de servidores públicos que servimos à população nas áreas que mais carecem. Não admitimos que alguém que ocupa temporariamente o cargo agrida um conjunto de trabalhadores", disse.
A Fonacate representa 200 mil servidores públicos. Para Marques, as "agressões" do ministro da Economia fazem parte de um "plano orquestrado" para privatizar fatias do serviço público. "Se tem alguém parasitando o Estado brasileiro são operadores de mercado que ganham dinheiro em vez de se preocupar com a população."
Ele disse que os servidores públicos não rejeitam uma reforma administrativa, mas que é preciso "dialogar" sobre as mudanças. "Infelizmente, o ministro aposta no conflito enquanto o país precisa de unidade para enfrentar a crise pela qual está passando".
A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) divulgou nota em que "repudia veementemente" a declaração de Guedes. "Se partilhássemos da descompostura do Ministro, poderíamos compará-lo a um serviçal do mercado, que promove a falência do Estado em detrimento do povo brasileiro. Falta não só elegância ao ministro Guedes, como patriotismo."
Para a associação, "o assédio institucional que vem sendo praticado pelo Sr. Paulo Guedes em relação aos servidores públicos já ultrapassa os limites legais e merece reação à altura".
O presidente da Associação dos Funcionários do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Arthur Koblitz, disse ter achado curiosa a declaração de Guedes. "O ministro fez toda a sua vida no mercado financeiro, curioso ele falar isso, porque quem tem essa fama de parasita é o mercado financeiro", afirmou.
Segundo o presidente da AFBNDES, todo o setor público brasileiro é concursado e portanto selecionado por mérito. "No caso do BNDES é quase uma unanimidade a qualidade de seus funcionários", disse.
A Fenadepol, que reúne sindicatos de delegados da Polícia Federal, também reagiu com indignação à declaração de Paulo Guedes que chamou servidores de parasitas. “Estamos certos que a população brasileira não nos vê como parasitas e não por outro motivo considera a Polícia Federal uma instituição de alta credibilidade”, informou.
A entidade disse esperar que o pensamento do ministro “não seja o fundamento de alardeada reforma administrativa” e que ela sirva para valorizar os servidores “que contribuem para o desenvolvimento”.
No Twitter, críticas de todo lado
A declaração do ministro da Economia de que o funcionalismo é um "parasita" repercutiu mal entre parlamentares e atraiu críticas públicas até de políticos que apoiam o governo. O deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) foi ao Twitter dizer que ele e seu partido são "favoráveis à reforma administrativa, mas o ministro Paulo Guedes não pode chamar todos os servidores públicos de 'parasitas'". "Não é por aí", advertiu o parlamentar. "Há bons e maus em todo lugar, até mesmo na equipe do Guedes. Ou ele acha que está tudo indo muito bem, obrigado?", tuitou o político.
Outro parlamentar apoiador das pautas do governo, o senador Major Olimpio (PSL-SP) disse no Twitter que o ministro da Economia "quer matar a vaca para acabar com o carrapato" e ressaltou que "parasita é uma expressão ingrata e irresponsável para se referir àqueles que na ponta da linha prestam serviços para a população".
Já a oposição subiu o tom nas críticas a Guedes. Talíria Petrone (Psol-RJ) perguntou a seus seguidores se seria adequado chamar o ministro de "verme". Correligionário de Talíria, Ivan Valente (SP) disse que Guedes "sempre foi banqueiro, símbolo maior dos que vivem da agiotagem legalizada que suga metade do Orçamento da União", em referência ao custo da dívida interna.
Leia na íntegra a nota do Ministério da Economia
"O Ministério da Economia esclarece que, após reconhecer a elevada qualidade do quadro de servidores, o ministro Paulo Guedes, analisou situações específicas de estados e municípios que têm o orçamento comprometido com a folha de pagamento. Durante evento no Rio de Janeiro, ele falou sobre entes da Federação que estão com despesas acima do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Nessa situação extrema, não sobram recursos para gastos essenciais em áreas fundamentais como saúde, educação e saneamento.
O ministro argumentou que o país não pode mais continuar com políticas antigas de reajustes sistemáticos. Isso faz com que os recursos dos pagadores de impostos sejam usados para manter a máquina pública em vez de servir à população: o principal motivo da existência do serviço público. O ministro defendeu uma reforma administrativa que corrija distorções sem tirar direitos constitucionais dos atuais servidores.
O ministro lamenta profundamente que sua fala tenha sido retirada de contexto pela imprensa, desviando o foco do que é realmente importante no momento: transformar o Estado brasileiro para prestar melhores serviços ao cidadão."
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