Crise de Bolsonaro com o PSL aumenta dependência dele de partidos da velha política.| Foto: Marcos Brandão/Agência Senado

O racha no PSL, que teve como uma das consequências práticas a substituição da deputada federal Joice Hasselmann como líder do governo no Congresso, aumentou o poder do MDB na articulação política. Se já tinha o líder do governo no Senado (Fernando Bezerra), o partido passa, agora, a liderar as articulações de Bolsonaro no Congresso, com Eduardo Gomes (MDB-TO).

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Ao PSL, restou apenas a liderança do governo na Câmara, exercida pelo deputado Major Vitor Hugo (GO). Com as presidências das duas casas legislativas exercidas pelo DEM, com Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, eleitos com o apoio de Bolsonaro, o governo dependerá dos partidos da “velha política” para pautar e articular as votações dos temas que lhes interessa no Legislativo.

Eleito pelo Solidariedade, o senador mais votado do Tocantins Eduardo Gomes trocou de partido dias antes da posse, ingressando no MDB, a convite de Renan Calheiros (AL). Em seu primeiro mandato, Gomes já havia sido deputado federal por três mandatos, sendo filiado, também, ao PSB e PSDB.

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Na eleição para a presidência do Senado, neste ano, foi um dos que encampou a candidatura de Calheiros e, com a retirada do nome do emedebista, quando já havia certeza de maioria formada em favor de Alcolumbre, foi indicado para a Segunda Secretaria da Mesa Diretora.

Em julho, Gomes licenciou-se do cargo de senador para assumir como secretário de Governo de Tocantins, a convite do governador Mauro Carlesse (DEM). Um mês depois, pediu exoneração e voltou para o Senado. A ausência, na verdade, foi uma maneira de homenagear o suplente Siqueira Campos, ex-governador do Tocantins, que assumiu o mandato temporário para ser laureado no Senado por sua carreira política.

No Senado, Gomes vinha votando seguindo orientação do líder bolsonarista na casa, seu correligionário Fernando Bezerra, uma escolha surpreendente de Bolsonaro – pelo fato do senador pernambucano ter sido ministro da Integração Nacional da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) –, mas pragmática, uma vez que enquanto tem a segunda maior bancada da Câmara (com 53 deputados, atrás apenas do PT, que tem 54) o PSL tem apenas três senadores e o presidente precisou, assim, acenar à maior bancada (o MDB tem 13 senadores).

A posição de Bezerra como líder do governo no Senado foi ainda mais contestada por integrantes do PSL pelo fato de ele ser alvo da Operação Lava Jato, acusado de ter, quando secretário de Estado, em Pernambuco, cobrado vantagens indevidas de construtoras como Queiroz Galvão, OAS e Camargo Corrêa, por conta das obras da Refinaria de Abreu e Lima.

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Em maio, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) determinou o bloqueio R$ 40 milhões em bens do senador. No último dia 19 de setembro, o gabinete e imóveis do senador foram alvo de busca e apreensão da Polícia Federal em uma outra fase da operação, que apura suspeitas de desvios em obras públicas do Ministério da Integração Nacional. No mesmo dia, o senador colocou seu cargo de líder do governo à disposição, mas, um mês depois, não foi substituído por Bolsonaro.

Fusão do PSL com DEM?

A guerra interna no PSL pode produzir outro efeito político curioso: a fusão de parte da legenda com o Democratas de Maia e Alcolumbre. O assunto chegou a ser discutido à boca miúda em um churrasco com parlamentares na casa de Rodrigo Maia, nesta semana. A negociação foi alvo de reclamações de alguns deputados do PSL no áudio vazado à imprensa na quinta-feira (17), em que o líder Delegado Waldir fala em "implodir Jair Bolsonaro".

A ironia aqui é a seguinte: o DEM pode se unir justamente à ala do PSL que passou a fazer oposição a Bolsonaro nos últimos dias, por causa dos desentendimentos com o presidente da sigla, o deputado Luciano Bivar (PE). E o governo Bolsonaro tem no DEM um aliado informal de primeira hora – o partido tem três ministros: Casa Civil, Agricultura e Saúde.

Já o destino dos cerca de 20 deputados bolsonaristas que desejam abandonar o PSL é incerto. Eles aguardam uma definição do próprio presidente da República, que estuda uma maneira jurídica de impedir que os aliados percam o mandato por infidelidade partidária. Essa ala do PSL negocia entrar no Patriota ou mesmo no Republicanos, o antigo PRB, partido associado à Igreja Universal do Reino de Deus.