A revelação, na última quinta-feira (2), de que o cantor sertanejo Gusttavo Lima, 35 anos, considera lançar-se como candidato à Presidência da República em 2026 continua repercutindo intensamente nas redes sociais e no meio político, em especial no campo da direita. Ao lado do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e do empresário Pablo Marçal (PRTB), Lima emerge como mais um possível presidenciável com conexões em Goiás, gerando especulações tanto em grupos governistas quanto de oposição.
Os aliados mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostraram até agora reações diversas: enquanto alguns criticam a decisão de Lima, outros a felicitaram. Há quem avalie que o movimento do cantor possa fortalecer, num segundo momento, o projeto político de Caiado, que precisa ampliar a projeção nacional, ou, por outro lado, fragmentar o campo conservador, oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nos últimos anos, Gusttavo Lima enfrentou investigações referentes a contratos milionários com prefeituras e chegou a ser acusado de lavagem de dinheiro por meio de apostas online. Essas denúncias levaram à emissão de uma ordem de prisão preventiva em setembro de 2024, posteriormente revogada antes de ser cumprida. Em outubro, o Ministério Público de Pernambuco emitiu parecer afirmando não ter encontrado provas de ilegalidade nas operações financeiras do artista.
Logo após a notícia da pré-candidatura, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou um vídeo no qual ironiza a ideia de Lima ser uma opção viável para a direita caso a inelegibilidade de Bolsonaro, em vigor até 2030, não seja revertida. “Que cachaça é essa que o Gusttavo Lima tomou?”, brincou Ferreira. Apesar disso, ele acabou elogiando a coragem do cantor em “dar a cara a tapa” para migrar do estrelato para a política.
Em outro vídeo, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) manifestou apoio irrestrito a Lima em qualquer disputa eleitoral, destacando a necessidade de “mais pessoas de fora da política, que não sejam bandidos nem ladrões” participando do processo político. Marçal ligou para Lima e o cumprimentou pelo anúncio de candidatura, classificando-o como "nova safra de políticos" dispostos a "servir o povo".
Já os deputados Capitão Alberto Neto (PL-AM) e José Medeiros (PL-MT), próximos de Bolsonaro, refutaram a ideia da candidatura do “embaixador” — apelido de Lima no universo musical sertanejo. Em 2022, o cantor apoiou a tentativa de reeleição do ex-presidente, e, no ano passado, fez campanha por Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo.
Ronaldo Caiado, que se diz “amigo pessoal” do cantor, declarou enxergar com naturalidade a possível candidatura de Lima a presidente, algo plausível num primeiro turno da próxima eleição. “Da minha parte, terá todo o meu respeito”, afirmou à CNN Brasil. Em um show realizado em setembro, Lima chegou a se referir a Caiado como “nosso futuro presidente”.
Até 2024, as conversas entre Lima, Caiado e Bolsonaro giravam em torno da possibilidade de o artista disputar uma vaga no Senado. No final de 2024, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Goiás surpreendeu ao condenar Caiado inelegível por oito anos por abuso de poder político, medida contra a qual irá recorrer.
Gusttavo Lima promete desburocratizar o país e recuperar poder de compra do povo
Ainda sem filiação partidária, pré-requisito para oficializar uma candidatura, Lima contou ao portal Metrópoles que conversa com políticos alinhados sobre seus objetivos. Embora nunca tenha ocupado cargo público, ele se define como “empreendedor” e diz saber como “fazer a roda girar”.
“A gente precisa desburocratizar o país. Os pobres estão sem poder de compra, e o agronegócio não aguenta mais pagar impostos sem contrapartidas que incentivem os negócios”, ressaltou o cantor.
Nos bastidores, tanto apoiadores de Bolsonaro quanto do governo veem na movimentação do sertanejo uma articulação do grupo político de Caiado para avançar em seu projeto eleitoral. A hipótese é de que a primeira-dama de Goiás, Gracinha Caiado, e o próprio Gusttavo Lima se candidatem em dobradinha ao Senado, enquanto Caiado receberia do cantor o apoio na corrida ao Palácio do Planalto, à qual ele então renunciaria.
Para aliados de Bolsonaro, essa articulação soa como traição e levanta o temor de fragmentar o campo da direita. Embora as ambições políticas de Lima ainda sejam incipientes, a declaração inicial dele já desperta dúvidas sobre o método de viabilizar suas futuras propostas. Assim como outros nomes famosos que no passado sinalizaram interesse na Presidência — a exemplo de Luciano Huck e Roberto Justus —, Gusttavo Lima aposta na vontade popular de renovar os quadros políticos, mas, de igual forma, ainda carece de alianças partidárias sólidas.
Segundo analistas, as prováveis pré-candidaturas de Lima (nascido em Minas Gerais mas radicado em Goiás), Caiado e Marçal (nascido em Goiás e radicado em São Paulo), reforçam a influência das redes sociais (especialmente no caso do cantor e do empresário) e ilustram o fenômeno da “voz do Brasil profundo”, ancorado no agronegócio e com representatividade fora dos grandes centros urbanos.
Com uma base de fãs expressiva e forte presença nas plataformas digitais, Gusttavo Lima pode vir a desempenhar um papel eleitoral relevante, tal qual Marçal já demonstrou. Resta, entretanto, confirmar preparo suficiente para encarar uma campanha presidencial e convencer o eleitorado de ser capaz de assumir a missão de governar o país.
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