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O hacker Walter Delgatti Neto, alvo de três operações policiais, prestou depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) nesta quinta-feira (17) como uma das principais apostas da bancada governista para indiciar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como suposto mentor de um golpe de Estado. Conhecido como “hacker de Araraquara” e também por "hacker da Vaza Jato", Delgatti ganhou notoriedade há quatro anos, por invadir contas de autoridades da Operação Lava Jato.
No depoimento à CPMI, Delgatti afirmou que invadiu o sistema interno do Judiciário, que orientou as Forças Armadas na elaboração do relatório sobre as urnas eletrônicas e que aceitou assumir a responsabilidade de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido de Bolsonaro, com a promessa de receber indulto presidencial caso fosse criminalizado.
Preso em 2 de agosto pela Polícia Federal (PF), ele é acusado agora de envolvimento em um suposto esquema de mandados falsos de prisão do ministro Alexandre de Moraes, com apoio da deputada Carla Zambelli (PL-SP), mediante invasão do site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Além disso, ele é investigado por tentar forjar fragilidades do sistema eleitoral brasileiro, que seriam exploradas na campanha eleitoral de Bolsonaro.
Delgatti já havia sido detido em 2019 na Operação Spoofing, onde confessou hackear diversas autoridades, incluindo o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol.
Em 2022, Delgatti se encontrou com Bolsonaro no Palácio da Alvorada para discutir a possibilidade tecnológica de fraude nas eleições. Segundo ele, Carla Zambelli o instigou a invadir sistemas eleitorais e o celular de Alexandre de Moraes, ações estas que não teria concretizado. O hacker admitiu ser o autor da inserção de um decreto falso de reclusão contra o juiz do STF no Banco Nacional de Mandados Prisão do CNJ, a pedido da parlamentar.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI, considerou as revelações da testemunha “bombásticas” e “sérias”, indicando um conluio para questionar as eleições e minar a confiança nas urnas eletrônicas. Ela pedirá a quebra de sigilos das pessoas presentes em reuniões de agosto de 2022, onde Delgatti teria se encontrado com Bolsonaro e outras personalidades, como o presidente do PL, Valdemar da Costa Netto. A senadora defende que o depoimento fortalece a possibilidade de indiciar Bolsonaro, aguardando mais quebras de sigilo, depoimentos e até acareações.
Em seu depoimento, Delgatti admitiu invadir o sistema judiciário para desmoralizá-lo, influenciar relatórios sobre as urnas eletrônicas e aceitar supostos pedidos de gravações de propaganda eleitoral.
Durante o depoimento, Delgatti também entrou em confronto com o senador Sergio Moro (União Brasil), acusando-o de ser um “criminoso contumaz” e de perseguir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Moro respondeu que Delgatti é o “bandido” e “tão inocente quanto Lula”, mencionando a sua condenação pela invasão de mais de 170 dispositivos, incluindo conversas entre o senador e Dallagnol, que tiveram impacto legal. O hacker confirmou as acusações e disse, inclusive, que teria tido acesso a número ainda maior de dispositivos.