A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o programador Walter Delgatti Neto, conhecido como "hacker da “vaza jato”", prestaram depoimento nesta segunda-feira (7) ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em janeiro do ano passado. Eles apresentaram versões diferentes sobre os fatos.
O hacker está preso desde 2023. Ele e Zambelli são réus no Supremo pelo caso, depois que a 1ª Turma do Tribunal aceitou uma denúncia contra ambos. Eles foram intimados pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, a prestar depoimento no dia 26 de setembro. No entanto, a deputada não compareceu por motivo de saúde.
Essa foi a primeira vez em que Delgatti e Zambelli falaram sobre o caso ao STF. Os depoimentos ocorreram de forma online, por meio do Zoom e abertos à imprensa. O juiz auxiliar Rafael Henrique conduziu as perguntas aos réus, assim como representantes da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Durante a audiência, o advogado da deputada, Daniel Bialslki, e o advogado do hacker, Ariovaldo Moreira, tiveram um embate durante as perguntas.
No depoimento, que a Gazeta do Povo acompanhou, Delgatti relatou todo o histórico de suas invasões e vazamentos de denúncias como da Lava Jato. O intuito a "Vaza Jato", segundo ele, era conseguir um "agrado" por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando ele estava preso. "Embora eu tenha conseguido as provas que anularam a condenação do presidente Lula. Pensei que ele seria ao menos grato comigo, mas houve ingratidão", disse Delgatti. O hacker se referia à publicação de supostas conversas entre procuradores da Lava Jato, e deles com o então juiz Moro, episódios que ficaram conhecidos como "vaza jato".
Ainda na versão do hacker, após não ter sido "reconhecido" por Lula, ele disse que resolveu "ajudar" o ex-presidente Jair Bolsonaro e a deputada Carla Zambelli, que o procuraram supostamente para verificar o risco de invasão no código-fonte das urnas e aos sistemas do CNJ. Zambelli confirmou o encontro entre ela, Delgatti e Bolsonaro, mas disse que foi apenas para ele explicar como as urnas hipoteticamente poderiam ser violadas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em contrapartida, salienta que o sistema eleitoral brasileiro é seguro e que essa possibilidade não existe.
De acordo com o hacker, foi sugerido a ele uma oferta de "montante de dinheiro" para realizar a invasão. Algo que foi negado por Zambelli no depoimento. Porém, ele disse que preferia "um emprego naquela altura", já que não poderia trabalhar, por ter sido preso anteriormente.
"Eu fiz a invasão [sistema do CNJ] por uma questão de socorro e pela oportunidade de emprego. Eles [Bolsonaro e Zambelli] não cumpriram com a parte deles e por questão de valores resolvi entregá-los", disse ele, ao chamar Zambelli de "caloteira". "A ideia dela [deputada] era que eu fizesse um backup dos processos de Alexandre de Moraes do sistema e que ficasse sem o banco de dados na justiça e devolvesse somente se ele cancelasse as eleições", diz Delgatti.
O hacker ainda disse que todas as conversas com Zambelli foram feitas pelo WhatsApp, no entanto, ele afirmou que apagava todas as mensagens em seguida, sem a possibilidade de resgatá-las. Ele ainda destacou que teve alguns encontros com a deputada para tratar sobre a invasão, e até mesmo no apartamento funcional dela. Os encontros foram confirmados por Carla Zambelli.
Já Carla Zambelli negou todas as acusações e irregularidades. Ela disse que conheceu Delgatti, em julho de 2022, quando ele a abordou em um hotel em Ribeirão Preto e trocaram telefones. Posteriormente, a deputada disse que ele entrou em contato com ela se apresentando como uma pessoa que conhecia de tecnologia.
"Sempre que encontro com alguém dessa área, pergunto se existe alguma possibilidade das urnas serem fraudadas e perguntei se tinha como ele me ajudar a comprovar isso. Ele me colocou em contato com o advogado dele para ir até Brasília e conversar pessoalmente", explicou a deputada.
Carla Zambelli nega ter solicitado inclusão de mandado falso contra Moraes no sistema do CNJ
Sobre o mandado de prisão falso contra Alexandre de Moraes, que foi cadastrado no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Zambelli negou ter solicitado que isso fosse feito e disse que não recorda se recebeu o arquivo ou não.
No depoimento, ela citou que um perito encontrou o mandado nos arquivos do celular dela e teria afirmado que não aparecia como se fosse um arquivo recebido, ou seja, supostamente seria do celular dela. Diante disso, a parlamente mencionou a possibilidade de o aparelho ter sido invadido pelo hacker. "Imagino que foi alguma invasão que ele fez no meu celular, dentre os mais de 200 celulares que ele invadiu", disse a deputada.
Carla Zambelli relatou ainda sobre o encontro com o hacker em Brasília, onde conversou com ele na residência funcional dela, e depois se reuniu com ele na sede do PL, para falar sobre a integridade das urnas eletrônicas. Ela também confirmou o encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro para tratar do mesmo assunto.
"Expliquei [ao Bolsonaro] que ele era conhecedor de tecnologia e podia ajudar mostrando que a urna poderia ser fraudada. No entanto, o presidente não quis ter relação com alguém que tinha cometido crimes", disse.
Zambelli justificou que o motivo para questionar as urnas foi o pedido pelo voto impresso. "Desde muito tempo no meu mandato sou defensora das urnas, mas que tenha voto impresso separado". Ela diz que ficou interessada no que o Walter Delgatti explicou como se daria a invasão nas urnas, supostamente com o uso de Inteligência Artificial.
Outro contato que ela diz ter tido com Delgatti foi para "fazer uma interface no site com as redes sociais". Segundo Zambelli, ele contratou Delgatti apenas para fazer a manutenção de seu site pessoal, cujo serviço teria sido em torno de R$ 10 mil. Ela nega que tenha requisitado qualquer outro serviço ao hacker.
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