Walter Delgatti Neto, hacker que invadiu o Telegram de membros da Operação Lava Jato, afirmou nesta terça-feira (17), em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu que ele assumisse a autoria de um suposto grampo ao celular do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Delgatti também acusou Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e integrantes da campanha eleitoral do ex-presidente de pedir para que ele forjasse a invasão de uma urna eletrônica. Ainda segundo o hacker, Bolsonaro teria garantido a proteção dele oferecendo um indulto, como o que presidente concedeu ao ex-deputado Daniel Silveira. A defesa de Jair Bolsonaro (PL) rebateu, no final da manhã desta quinta (17), as acusações e vai apresentar uma queixa-crime contra o hacker.
Walter Delgatti Neto, prestou depoimento por mais de quatro horas à CPMI que investiga os atos de 8 de janeiro durante a manhã, e chegou a discutir com alguns dos parlamentares presentes, entre eles o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Já no período da tarde, o hacker optou por ficar em silêncio ao ser questionado pelos parlamentares da oposição. A sessão foi encerrada às 17h15.
Durante o depoimento, Delgatti disse que teria participado de reuniões no ano passado com a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e outros membros do PL, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, e o marqueteiro Duda Lima, para tratar sobre urnas eletrônicas.
Sem apresentar provas, Delgatti disse que aceitou a alegada proposta, porém, não teve acesso ao grampo. “Nesse grampo teriam conversas comprometedoras do ministro e ele [Bolsonaro] precisava que eu assumisse esse grampo”, disse Delgatti, afirmando também que a suposta intercepção teria sido realizada por uma pessoa fora do país.
Ele disse ainda que a intenção da campanha de Bolsonaro seria transformá-lo em "garoto propaganda". "Eu era o hacker da Lava Jato, seria difícil a esquerda questionar a autoria [do grampo]", disse Delgatti à relatora da CPMI do 8 janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Durante o depoimento, Delgatti assumiu ter feito invasões dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de tribunais de justiça, que foram alvos da operação recente que o levou à prisão.
O hacker, que é um criminoso conhecido, não apresentou provas materiais de suas alegações. Disse, porém, que estaria à disposição das autoridades para acareações.
CPMI vai solicitar que Delgatti entre para programa de proteção
O vice-presidente da CPMI do 8 de janeiro, senador Cid Gomes (PDT-CE), informou no final da sessão que o colegiado vai solicitar à Justiça a inclusão do hacker no programa de proteção à testemunha.
“O presidente [da CPMI, Arthur Maia] já tinha determinado a assessoria da comissão que fizesse um ofício ao Ministério da justiça, ao Ministério dos Direitos Humanos e ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para solicitar a inclusão do depoente [Walter Delgatti] no programa de proteção a testemunha”, disse Gomes, que estava atuando como presidente interino da CPMI.
Além disso, a defesa de Delgatti também já havia sinalizado que pedirá a inclusão do hacker no programa. Segundo o advogado Ariovaldo Moreira, a exposição da versão de Delgatti à opinião pública o coloca em maior risco, informou a Agência Brasil. Questionado pelo deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) se temia sobre sua vida, o hacker disse que "atualmente, sim".
Na quarta-feira (16), Delgatti prestou depoimento à Polícia Federal (PF) por cerca de quatro horas. Segundo a defesa do hacker, ele apresentou provas de que teria recebido R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli (PL-SP) para invadir “qualquer sistema do Judiciário”. A deputada nega irregularidades e diz que contratou o hacker apenas para fazer a manutenção em seu site.
Ele está preso desde agosto, no âmbito da operação 3FA da Polícia Federal que também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados à deputada federal Carla Zambelli. O hacker ainda tinha autorização do STF para ficar em silêncio na CPMI, mas decidiu responder às perguntas dos parlamentares.
Delgatti Neto é o mesmo hacker que foi acusado de invadir aplicativos de mensagens do ex-procurador Deltan Dallagnol e do ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, e vazar informações que depois foram usadas para destruir a operação.
Relatora vai pedir quebra dos sigilos de Bolsonaro e demais citados
Com as novas declarações prestadas à CPMI nesta quinta (17), a relatora da comissão, senadora Eliziane Gama, afirmou que vai pedir a quebra dos sigilos telemático e de inteligência financeira, conhecido como RIF, de Bolsonaro e do coronel Marcelo de Jesus, citado por Delgatti em outro trecho do depoimento por intermediação dele com o Palácio do Planalto, além de outros citados.
A senadora afirmou, ainda, que dependendo do que for apurado nas quebras dos sigilos, pode pedir o indiciamento do ex-presidente. "De posse desses elementos é que vamos ter condições de dizer se ele vai ser indiciado ou não", afirmou em entrevista à GloboNews pouco antes do intervalo da sessão.
Ela afirmou, ainda, que a comissão vai apurar a possível ligação do desvio de presentes oficiais do governo para venda nos Estados Unidos com os atos de 8 de janeiro a partir das quebras dos sigilos. Segundo Eliziane, é possível que até mesmo os garimpos ilegais em terras indígenas tenham direcionado recursos para financiar o protesto que levou à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Hacker deve prestar novo depoimento à PF
A Polícia Federal vai intimar o hacker Walter Delgatti Netto a prestar um novo depoimento, em Brasília. O novo interrogatório deve ocorrer nesta sexta-feira (18), após a PF detectar que houve inconsistências em declarações do hacker na comissão.
A corporação também considerou que Delgatti omitiu informações durante o depoimento prestado à PF na quarta (16), informou a GloboNews.
Defesas negam declarações de Delgatti
A Gazeta do Povo tenta contato com as defesas dos citados pelo hacker Walter Delgatti.
O advogado Fabio Wajngarten, que defende o ex-presidente, publicou nas redes sociais uma série de mensagens negando as afirmações de Delgatti.
Em uma delas, Wajngarten afirma que “em nenhum momento sequer cogitaram a entrada de técnicos de informática, muito menos alpinistas tecnológicos na campanha” de Bolsonaro, e que desconhece “quem tenha feito reunião individual com Bolsonaro cuja duração tenha sido de 1 hora e meia”.
“Nunca, jamais, houve grampo, nem qualquer atividade ilegal, nem não republicana, contra qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do Presidente. Mente e mente e mente”, disparou Wajngarten.
O advogado disse, ainda, que convive com o ex-presidente desde 2016 e que Bolsonaro “jamais sugeriu qualquer briefing publicitário para produção de qualquer roteiro de filme ou propaganda”. “Para o depoente de hoje, o Presidente seria um Spielberg de temas eleitorais”, completou afirmando que o político “sempre jogou dentro das quatro linhas” e que não pediria para fraudar as eleições.
Já o advogado Daniel Bialski, que defende Carla Zambelli, afirmou que a deputada "refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas ou imorais", negando o que ele chama de "aleivosias e teratologias" mencionadas por Delgatti.
Ele afirma que o hacker é uma pessoa sem credibilidade que muda de versões e que sua palavra é "despida de idoneidade". Bialski disse, ainda, que não teve acesso aos autos dessa investigação e que vai se manifestar publicamente "assim que possível".
O marqueteiro Duda Lima negou ter se encontrado com Delgatti e disse estar "indignado" com as afirmações. “O rapaz diz que eu teria pedido pra ele fazer uma apresentação no desfile de Sete de Setembro. Pensa comigo: ele iria no carro do presidente com a primeira-dama? Que ideia ridícula, poderia ao menos respeitar a minha inteligência”, disse em entrevista na GloboNews.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, também rebateu as declarações de Delgatti de que tenha pedido a invasão ao celular de Alexandre de Moraes, e que não tinha motivos para isso.
" Tudo conversa mole. Não tinha motivo para grampear celular de Moraes. Só bobagem. Em agosto, eu me dava muito bem com o Alexandre de Moraes, fui até tomar café da manhã na casa dele aqui em Brasília. Nossa briga começou na campanha, depois do primeiro turno das eleições", disse em entrevista à CNN Brasil.
Costa Neto reforçou uma declaração recente de que Delgatti esteve na sede do partido em Brasília, no ano passado, a pedido de Carla Zambelli para falar da fiscalização das urnas. No entanto, em nenhum momento houve tratativas para a invasão. Ele também negou que o marqueteiro Duda Lima tenha participado da reunião -- "disse besteiras", completou.
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