Durante a Conferência Eleitoral do PT, realizada neste sábado (9) em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, endossou as críticas da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, ao BC e ao Centrão.| Foto: Raul Martinez/EFE
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Em meio a divergências com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, sobre a sua condução da política econômica, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), acabou fazendo coro às críticas dela à atuação do Banco Central (BC) neste sábado (9). Durante a conferência eleitoral do partido para 2024, realizada em Brasília e iniciada na sexta-feira (8), Haddad caracterizou a atual diretoria do Banco Central como “durona” e pouco “arejada”.

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“A diretoria do BC começou a reduzir a taxa de juros só em agosto”, protestou. Na terça-feira (5), Haddad já havia mandado a autoridade monetária “cumprir o seu papel”, ao comentar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que indicou avanço de apenas 0,1%.

O Diretório Nacional do PT aprovou na noite da sexta-feira, durante a sua conferência, resolução política que defende a necessidade de o Brasil “se libertar urgentemente da ditadura do Banco Central independente” e do “austericídio fiscal”. O texto justifica que o aperto monetário para combater a inflação, juntamente com os controles de gastos públicos, precisam ser revistos para impulsionar o crescimento da economia do país.

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Fernando Haddad endossou indiretamente as críticas de Gleisi aos acordos políticos com o Centrão, bloco majoritário na Câmara, para aprovar projetos de interesse do governo. “Não temos uma base progressista no Congresso. Não estou falando mal ou bem, estou constatando um fato”, disse ele neste sábado (9), durante a conferência.

O documento político do PT afirma que o Centrão é formado por forças “conservadoras e fisiológicas”, fortalecidas pelo orçamento impositivo. Segundo o texto, a prática conspira contra o regime presidencialista e dá ao bloco “influência desmedida” sobre o Executivo. O partido afirma que seu “campo político” minoritário precisa mudar, sendo “urgente” mudar a partir das próximas eleições gerais a correlação de forças. Gleisi disse que uma queda mais acentuada da popularidade de Lula faria o governo “ser engolido” pelo Congresso comandado pelo Centrão.

Para Fernando Haddad, a atual composição do Legislativo resulta na resistência em aprovar propostas de aumento da arrecadação fiscal para compensar os crescentes déficits nas contas públicas. Nesse ponto, ele defendeu vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a “jabutis” — trechos acrescentados aos projetos por parlamentares que não têm relação com o objetivo inicial.

A fala de Haddad ocorre no momento em que o governo corre contra o tempo para aprovar medidas econômicas que visam aumentar a arrecadação e interferem diretamente no Orçamento da União de 2024. Os congressistas entram em recesso em 23 de dezembro, data limite para a aprovação de matérias de interesse do governo. Um dos poucos projetos que avançaram recentemente foi o que trata da taxação de fundos no exterior e fundos exclusivos de investimentos. Mesmo com mudanças que sofreu, a proposta deve gerar receita extra de R$ 20 bilhões para o governo, segundo suas estimativas.

Déficit zero coloca Haddad e Gleisi em lados opostos no PT

Petistas liderados pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) e por Gleisi vinham pressionando nas últimas semanas para que o governo mudasse a sua meta de déficit fiscal zero para um déficit de ao menos 0,5% do PIB na Lei de Diretrizes Fiscais (LDO), mas Haddad resistiu e convenceu Lula a manter o objetivo de equilíbrio das contas.

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Em debate durante a conferência, a presidente do PT criticou a insistência de Haddad pelo déficit zero. “Para mim, faria um déficit de 1%, de 2%. Não podemos deixar a economia desaquecer. Não podemos ter contingenciamento no Orçamento, nem de investimento, nem nos programas sociais. Isso que vai dar condição de colocarmos a economia no eixo”.

Em resposta, o ministro Haddad discordou da afirmação que “déficit faz a economia crescer”, citando rombos recentes que não necessariamente resultaram em aquecimento da economia.

Perguntada durante a conferência do PT sobre as divergências com o ministro, a presidente do PT disse que elas são naturais. “Ele (Haddad) tem a visão dele e nós temos uma visão um tanto quanto divergente, que foi exposta de maneira muito tranquila e respeitosa”, disse.