O desenho da Esplanada dos Ministérios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocou lado a lado ao menos três ministros presidenciáveis para a disputa de 2026: Fernando Haddad (PT), na Fazenda, Simone Tebet (MDB), no Planejamento, e Geraldo Alckmin (PSB), no do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O trio irá comandar pastas que irão influenciar diretamente na gestão da economia e a avaliação de aliados do Planalto é de que Lula vai precisar administrar ambições políticas de cada um.
O caso mais emblemático se dá entre Haddad e Tebet. O petista é de perfil desenvolvimentista e a emedebista liberal. Dentro do PT, Haddad é visto como sucessor natural de Lula, pois o petista indicou durante a campanha que não pretende disputar uma reeleição. Por outro lado, Tebet chegou em terceiro lugar na corrida presidencial do ano passado e é vista pelo MDB como um nome que pode ganhar ainda mais projeção nos próximos anos.
Até o momento, líderes do PT e do MDB descartam qualquer tipo de atrito por conta da próxima disputa presidencial. A avaliação é de que qualquer movimento de forma precipitada poderia colocar em risco o governo Lula e de certa forma dar espaço para uma eventual volta da direita liderada por Jair Bolsonaro (PL).
Para tentar amenizar os possíveis atritos com Haddad, Tebet tem afirmado que as divergências irão servir para enriquecer a agenda econômica. Como forma de tentar demonstrar a harmonia entre ambos, o ministro da Fazenda esteve presente na cerimônia de posse de Tebet no Palácio do Planalto na quinta-feira (5).
"Eu disse: 'presidente, nessa pauta [de economia], eu, Haddad, Alckmin, Esther [Dweck, ministra da Gestão], nós temos divergências econômicas'. Lula me ignorou, como se dissesse: 'é isso que eu quero. Sou um presidente democrata. Quero diferentes para somar, pois assim que se constrói uma sociedade democrática'", declarou Simone.
Para integrantes do governo, caberá a Lula arbitrar os possíveis conflitos entre a dupla de ministros presidenciáveis. Apesar da avaliação de que Haddad conta com prestígio por ser um quadro do PT, integrantes do governo destacam que Lula conta com grande admiração por Tebet.
Nova âncora fiscal vai impor o primeiro teste para harmonia de Haddad e Tebet
A discussão sobre a nova âncora fiscal que será apresentada pelo governo Lula para substituir deve ser o primeiro teste sobre as divergências entre Haddad e Tebet. A proposta, que será discutida pelo Congresso Nacional, tem como objetivo substituir o teto de gastos.
A expectativa é de que Haddad faça a apresentação das propostas nos próximos dias, quando Lula tiver disponibilidade na agenda. O presidente realiza nesta sexta-feira (6) sua primeira reunião ministerial com o objetivo de frear declarações controvérsias de seus ministros. Lula pretende indicar que todos os anúncios e sugestões de políticas precisarão do aval do Planalto.
"O arcabouço fiscal que pretendemos encaminhar precisa ter a premissa de ser confiável e demonstrar tecnicamente a sustentabilidade das finanças públicas. Um arcabouço que abrace o financiamento do guarda-chuva de programas prioritários do governo, ao mesmo tempo que garanta a sustentabilidade da dívida pública. Não existe mágica nem malabarismos financeiros", defendeu Haddad.
Aliados de Tebet defendem que ela e o ministro da Fazenda convergem, principalmente, no debate sobre a qualidade do gasto público. Ao tomar posse, a ministra do Planejamento defendeu que o governo vai colocar o "brasileiro" no orçamento, sem descuidar da responsabilidade fiscal.
"Comungo, ministro Haddad, com sua visão, de que há necessidade não só de cuidar dos gastos públicos com racionalidade, mas da aprovação urgente da reforma tributária", destacou Tebet.
Questionado sobre as possíveis divergências dentro do governo, Haddad também amenizou as críticas. “Eu acredito que o diálogo é a maior ferramenta da política, e o melhor caminho para encontrar o denominador comum dos anseios da população brasileira e do mercado”, disse.
Alckmin rejeita integrar time de ministros presidenciáveis
Na outra ponta, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que acumulou a função de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, tem rejeitado os questionamentos sobre integrar o time de ministros presidenciáveis do governo Lula. Em seus discursos, Alckmin tem reforçado que será "leal" ao presidente Lula e ao governo do petista.
"Saiba que o senhor terá de mim não apenas a lealdade de um ministro que se soma à de um vice, mas minha dedicação integral em prol de uma agenda que contribua para reverter os resultados inaceitáveis que nossa economia vem acumulando nos últimos anos", disse Alckmin ao assumir o MDIC.
Antigo adversário de Lula, Alckmin é visto por integrantes do PT como um nome de prestígio do presidente. Petistas mais pragmático e que defenderam a aliança sinalizam, inclusive, que não causaria "estranheza" uma eventual indicação do nome do vice para a disputa presidencial de 2026. Para essa ala, Lula costuma bancar suas decisões, como ocorreu em 2010, quando indicou Dilma Rousseff para a disputa presidencial, mesmo sem o aval de parte do PT.
Na avaliação de André Cesar, cientista político da Hold Assessoria Legislativa, as visões distintas dentro da frente ampla que ajudou Lula se eleger já começam a vir à tona. Para ele, o petista vai precisar ser ainda mais centralizador nesse terceiro mandato para reduzir os conflitos entre seus ministros.
"A situação é clara. Em seu terceiro mandato presidencial, Lula será centralizador como nunca. Não haverá espaço para posicionamentos divergentes em sua equipe. Não existe a figura do ministro indemissível", explica.
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