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Criticou a PM

Pagodeiro e tatuado de maconha: quem é o deputado que “uniu” bolsonaristas e petistas

O deputado federal Igor Kannário (DEM-BA) criticou policiais militares durante o carnaval (Foto: Reprodução/Facebook)

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O deputado federal Igor Kannário (DEM-BA) conseguiu uma façanha rara nos tempos de polarização política: colocou bolsonaristas e petistas do mesmo lado do debate. Isso por conta de críticas que fez à atuação da Polícia Militar da Bahia durante o carnaval. O parlamentar, que também é cantor, afirmou que militares estariam agindo de forma violenta contra foliões e chamou um policial de "bunda mole".

Com isso, motivou ataques do governador baiano Rui Costa (PT) e de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro, como os deputados Carla Zambelli (PSL-SP) e Daniel Silveira (PSL-RJ). O parlamentar do Rio gravou um vídeo chamando Kannário de "vagabundo" e desafiando o deputado-cantor para repetir, no Congresso, as críticas aos policiais. Silveira é policial militar em seu estado.

A recente controvérsia de Kannário com a polícia baiana é mais uma que se soma a episódios semelhantes. Em 2017, quando o hoje deputado era vereador de Salvador, interrompeu um show para criticar uma policial na cidade de Feira de Santana (BA) e disse que, por ser parlamentar, era "mais autoridade" do que a militar. E no ano passado, também por contestar a atuação de policiais durante um show, disse "eu sou a lei, sou deputado federal" aos militares.

A fala motivou um bate-boca virtual entre ele e o também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O filho do presidente escreveu: “como um sujeito desses é eleito na Bahia?".

Vistoso no palco, discreto no Congresso

 Início de Igor Kannário na política foi em 2016, quando foi eleito vereador em Salvador, com 11.432 votos, pelo pequeno PHS. Início de Igor Kannário na política foi em 2016, quando foi eleito vereador em Salvador, com 11.432 votos, pelo pequeno PHS. (Foto: Reprodução/Facebook)

Igor Kannário, cujo nome civil é Anderson Machado de Jesus, não é uma figura discreta. Conhecido como "Príncipe do Gueto", ele fez carreira como cantor de pagode, se tornando um dos mais bem-sucedidos de Salvador. Tem diversas tatuagens pelo corpo – uma delas traz o desenho de uma folha de maconha e a palavra "legalize". A droga, aliás, já causou problemas ao parlamentar. Ele foi preso duas vezes pelo porte do entorpecente em 2015.

O início na política se deu em 2016, quando foi eleito vereador em Salvador, com 11.432 votos, pelo pequeno PHS. No mesmo partido, elegeu-se deputado federal em 2018. Recebeu, na ocasião, 54.858 votos. Beneficiou-se pelas regras da votação proporcional: teve menos votos do que veteranos da política local que acabaram não eleitos, como Antonio Imbassahy (PSDB), Lúcio Vieira Lima (MDB) e José Carlos Araújo (PL). Como o PHS não superou a cláusula de barreira, Kannário trocou de sigla nos primeiros meses de 2019. O destino foi o DEM, partido do prefeito ACM Neto, de quem é politicamente próximo.

O perfil vistoso que Kannário mostra como artista não se reflete em sua atuação parlamentar. Ao contrário: no Congresso, o deputado é uma personalidade quase imperceptível. Os números de Kannário destacados no site da Câmara atestam o quadro. Ele não fez nenhum discurso em plenário neste mais de um ano de mandato. O banco de imagens da página da Câmara, que registra o cotidiano da instituição, não contém nenhuma fotografia em que ele esteja em destaque. E nas comissões, que são as instâncias da Câmara para discussão e aprovação de projetos, Kannário teve ao longo de 2019 mais ausências do que presenças: 45 contra 23.

Seu nome foi citado uma única vez no site e nas redes sociais de seu partido. Foi em setembro do ano passado, por conta de um projeto de sua autoria que determina a troca de sacolas plásticas comuns por biodegradáveis. Kannário é autor de outros 29 projetos e foi indicado para a relatoria de três: um sobre o cumprimento do horário de início de shows, outro sobre a definição de Porto Seguro (BA) como capital histórica do Brasil e um terceiro sobre o tempo máximo de veiculação de propagandas antes das sessões de cinemas.

"Autoridade tem que ser respeitada"

O deputado Daniel Silveira conversou com a Gazeta do Povo sobre o vídeo que divulgou nas redes sociais e reiterou as críticas a Kannário. "O comportamento dele é inadmissível. Ele chega ao Parlamento e acha que está acima da polícia. A autoridade tem que ser respeitada quando se porta como autoridade. Não podemos permitir o 'sou deputado, então vou desrespeitar as autoridades que estão abaixo de mim'.", disse Silveira.

O parlamentar do Rio falou ainda que pretende procurar Kannário para buscar uma "explicação" sobre a atitude do integrante do DEM. "Eu vou falar com ele na tribuna, como falei que falaria no vídeo, e vou procurar ele pra ver se ele dá uma explicação. Para ver se ele se acostuma a ser autoridade ou se quer ser traficante. Se quer ser traficante vai lá para facção dele e sai do Congresso", disse.

Silveira falou também que "nunca" viu Kannário no Congresso. "É um deputado que não é deputado", disse.

Kannário diz respeitar "instituição PM" e ter sido alvo de ameaças

O deputado Igor Kannário divulgou notas após o incidente no carnaval para, em suas palavras, "esclarecer os fatos". Segundo o parlamentar, sua atitude foi de pedir a "abordagem adequada dos profissionais" da polícia após ele ter constatado "tratamento agressivo de alguns policiais militares contra foliões".

Em outra nota enviada pela assessoria, o parlamentar diz ter recebido ameaças nas redes sociais após o incidente no carnaval. "Estou sendo vítima de ataques de covardes que não respeitam a democracia. Reitero meu respeito pela instituição Polícia Militar, mas repito que não irei me calar diante dos excessos. Querem, de todas as formas, manchar a minha imagem com fake news, mas não vão conseguir. Sobre os ataques e ameaças, as devidas medidas serão tomadas", afirmou.

Kannário foi procurado pela Gazeta do Povo, mas sua assessoria disse que ele não tinha disponibilidade para uma entrevista.

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