Ouça este conteúdo
Pelo menos três ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protagonizaram discussões acaloradas após a invasão ao Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, segundo mostram imagens do circuito interno de segurança que tiveram o sigilo suspenso pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Vídeos disponibilizados pelo GSI após a queda do sigilo mostram, entre outras cenas gravadas ao longo da invasão, que os ministros Flávio Dino (Justiça), José Múcio (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil) gesticularam entre si enquanto analisavam os estragos causados pelos manifestantes no terceiro andar do Palácio, onde fica o gabinete presidencial.
Em um primeiro momento, Dino se dirigiu a Múcio gesticulando enquanto este estava ao telefone, próximo aos senadores Jaques Wagner (PT-BA) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), aliados do governo. Depois, o ministro da Justiça sai de cena e é Costa quem começa a discutir com seu par da Defesa.
Embora as imagens não tenham registrado o áudio das conversas, o ministro da Defesa foi cobrado por outros integrantes do governo pela retirada do acampamento montado em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília. O presidente havia determinado a desmobilização ainda naquele dia, mas a desocupação só ocorreu na manhã seguinte.
Momentos de tensão também foram registrados em outro trecho das gravações, que mostra o presidente Lula, a primeira-dama, ministros, aliados e outros integrantes do governo circulando pelos corredores do Palácio após a polícia ter retirado os manifestantes.
Manifestante tentou arrombar caixa eletrônico
Outro trecho das imagens mostra o momento em que um dos manifestantes que participou da invasão ao Palácio do Planalto tentou arrombar um terminal de caixa eletrônico do Banco do Brasil instalado também no terceiro andar do prédio.
A tentativa de roubo ocorreu por volta das 16h, pouco antes do grupo de invasores passar pelo local e destruir o relógio histórico trazido ao Brasil pela família real portuguesa no século XVIII. Em torno de 25 minutos depois, a tropa de choque da Polícia ocupou o andar e retirou os manifestantes.
Outra cena gravada neste intervalo, no mesmo andar, mostra o major José Eduardo Pereira Natale, que fazia parte do GSI, cumprimentando os manifestantes enquanto que um carrinho com garrafas de água mineral era disponibilizado a eles.
Imagens contrariam fala de ex-ministro do GSI
Em depoimento à Polícia Federal na sexta (21), o ex-ministro Marco Edson Gonçalves Dias disse que circulava entre os manifestantes no terceiro andar do Palácio do Planalto para orientá-los a descerem ao segundo andar, onde deveriam ter sido presos pela polícia, no que ele chamou de “gerenciamento de crise, pois esse era o protocolo”.
No entanto, outro trecho das gravações mostra que o segundo andar estava tomado por manifestantes que tinham livre acesso ao Palácio do Planalto pelas portas e janelas de vidro quebradas. É neste piso que está localizado o Salão Nobre da sede do Poder Executivo ao fim da rampa de acesso pela Praça dos Três Poderes.
As imagens também mostram um momento de tensão entre Natale e um manifestante que tentava arrombar uma porta do terceiro andar. O major consegue retirar o homem e orientá-lo, junto de outras pessoas, a descerem para o segundo andar.
Por outro lado, as câmeras do segundo andar do Palácio do Planalto não registraram o momento em que os manifestantes começaram a ser presos pela polícia, já que muitas foram destruídas durante a invasão ou pararam de funcionar.
Ao longo deste domingo (23), integrantes do GSI prestam depoimento à Polícia Federal sobre as gravações que mostram a conduta deles no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. As oitivas foram determinadas na sexta (21) por Alexandre de Moraes, que também requisitou a íntegra das imagens e uma cópia da sindicância interna, enviadas no sábado (22) pelo ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli.