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Imagens inéditas feitas pelas câmeras do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia da invasão das sedes dos três Poderes mostram um efetivo insuficiente e sem comando da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) para conter a massa de manifestantes que adentrou e depredou os edifícios da Corte, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
Um dos vídeos mostra que, por volta das 15 horas, na pista da Esplanada dos Ministérios, no ponto entre o Palácio do Itamaraty e a Câmara dos Deputados, menos de 20 policiais, quatro viaturas, um ônibus e um caminhão que lança jatos d’água, conhecido como Centurion, tentavam impedir a passagem de manifestantes que buscavam chegar à Praça dos Três Poderes. Em menos de 15 minutos, a multidão consegue ultrapassá-los e descer até o STF. Veja abaixo:
No dia 6, antevéspera do protesto, diversos órgãos de segurança pública, locais e federais, acordaram que não seria permitido o acesso de manifestantes à praça. Informações de inteligência de alguns órgãos já registravam a chegada de dezenas de ônibus para a área central de Brasília e apontavam que o objetivo seria ocupar a Esplanada. Mas de forma geral, não havia certeza nem expectativa sobre o grau de hostilidade que acabou se concretizando.
Em depoimento à Polícia Federal (PF), que investiga suposta omissão das autoridades no caso, o coronel Fábio Augusto Vieira, então comandante da PM, reafirmou que as informações de inteligência que recebeu indicavam um ato pacífico. Por isso, considerou que o efetivo inicialmente empregado, de 440 homens, era suficiente. Com as invasões, a corporação acabou mobilizando 2.600 policiais para dispersar os invasores e desocupar os edifícios, o que só ocorreu perto das 17h daquele domingo.
Quando se aproximam do edifício principal do STF, os primeiros manifestantes deparam-se principalmente com policiais judiciais, que fazem a segurança interna. Um grupo maior de policiais militares, com cerca de 30 homens, que estava no estacionamento público ao lado da Corte começa a correr em direção ao prédio. Mais equipados que os policiais militares que estavam na rua, os policiais judiciais chegaram a emprestar capacetes e cassetetes para os PMs, que portavam apenas armas de fogo, para tentar dissuadir os invasores de entrar.
Os policiais judiciais passaram a lançar bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral (que apenas emitem luz e som intensos) na tentativa de fazer os manifestantes recuarem. Vários, no entanto, já chegaram vestidos com máscaras e passaram então a derrubar os gradis de metal. Pouco a pouco eles começam a se aproximar, subir a plataforma e atirar pedras apanhadas do chão para quebrar as vidraças laterais, por onde entraram no plenário.
Uma pista que passa atrás do prédio principal e dá acesso ao Salão Branco – por onde os ministros costumam entrar na Corte e muito usado para audiências rápidas com advogados – também foi tomada. Os policiais judiciais então passaram a mobilizar os militares para fazer um pelotão ao fim dessa pista, de modo a impedir que os manifestantes invadissem um anexo administrativo, de cor verde, que fica atrás do prédio principal, e um maior espelhado numa área mais distante, onde estão os gabinetes dos ministros – nenhum invasor chegou lá.
Ainda assim, dentro do edifício principal, os manifestantes ocuparam e destruíram praticamente todo o andar térreo – onde ficam o plenário e salões anexos, com obras de arte e monumentos simbólicos da Justiça –, bem como o segundo, onde ficam salas da direção-geral do STF e de outros setores administrativos, e da área de comunicação social. O gabinete da presidência, no terceiro andar, também foi alcançado e parcialmente destruído.
Câmeras fixadas nas paredes internas do prédio, principalmente no primeiro andar, mostram detalhes da depredação. Entre o Salão Branco e o plenário há um corredor com armários onde ministros guardam livros e suas togas. Todas foram levadas, mas uma delas foi encontrada com um homem que circulava dentro e acabou preso pela polícia legislativa. No dia das manifestações, circulou nas redes uma porta com uma placa com o nome de Alexandre de Moraes – era desse armário, onde ele guardava a vestimenta. Veja abaixo:
Outro vídeo, do Salão dos Bustos, na parte da frente do prédio, mostra o homem que furtou a cópia do volume original da Constituição, erguendo-a para mostrar aos demais invasores. Veja:
Outra gravação, que capta local de uma das entradas laterais do plenário, registra que um dos manifestantes pegou uma mangueira de incêndio para jogar água na obra “Os Bandeirantes de Ontem e de Hoje”, do artista Masanori Uragami. Veja:
Outra imagem, de dentro do plenário, mostra que a mesma mangueira foi usada para encharcar a área onde ficam assentos de visitantes. Neste e em vários outros vídeos é possível ver indivíduos que atiram objetos contra as câmeras na tentativa de interromper as gravações. Veja:
Na perícia realizada no prédio, técnicos e policiais concluíram que os danos ultrapassam R$ 5,9 milhões. O valor já foi repassado à Advocacia-Geral da União (AGU), responsável por processar os invasores na Justiça para cobrar deles indenização. A Polícia Judicial do STF trabalha agora na identificação de cada um a fim de abastecer um dos inquéritos conduzidos por Alexandre de Moraes. Durante o ato, oito invasores foram presos dentro da Corte.
A avaliação interna é de que faltou comando para direcionar melhor os policiais militares e que o efetivo maior chegou a demorar. O edifício só foi retomado quando chegaram ao local homens do COT, unidade especial da PF, e também do Bope da PM. Durante o ato, nenhum tiro de arma de fogo foi disparado e policiais também não acharam vestígios de balas atiradas por manifestantes. O setor de segurança institucional do STF já elabora planos para reforçar a proteção física e uma das propostas que já tem consenso é blindar as vidraças.