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CPI das ONGs

Indígena diz que ONG fatura milhões com venda de cogumelos enquanto yanomamis morrem por inanição

Em pronunciamento, à mesa da CPI das ONGs, indígena Alberto Brazão Goes afirma que cogumelos yanomami são vendidos por ONG.
Indígena Alberto Brazão Goes questionou venda de cogumelos yanomami para o exterior enquanto "parentes" morrem de inanição. (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad)

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A venda de cogumelos produzidos pelos yanomamis por uma organização que atua em comunidades indígenas foi questionada, nesta terça-feira (27), durante reunião da CPI das ONGs no Senado. De acordo com o indígena yanomami Alberto Brazão Góes, o Instituto Socioambiental (Isa) teria um “grande projeto” relacionado à venda desses cogumelos no exterior. O Isa é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que tem equipes e escritórios permanentes em São Paulo, Distrito Federal e quatro estados amazônicos, além de atuação nas regiões do Vale do Ribeira, Xingu e Rio Negro.

Para o indígena, a venda dos cogumelos no exterior é uma contradição, já que, ao mesmo tempo em que indígenas estariam morrendo de fome, o instituto estaria faturando milhões. “O grama do cogumelo custa 7 euros. Por que a mídia está dizendo que parente yanomami está morrendo por inanição? Por que, se existe um projeto que arrecada milhões? É contraditório, né? Nós queremos transparência. Acessou verba federal? Acessou verba do exterior? Então mostra pra nós quanto que é, que nós vamos usufruir daquilo. Quanto que vai nos beneficiar? É isso que nós queremos”, disse o indígena durante a oitiva da CPI das ONGs.

Deputada indígena comprou cogumelos para testar loja da ONG 

A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) acompanhou a fala do indígena e afirmou ter comprado os cogumelos durante a reunião. “Eu acabei de fazer um teste. Eu comprei um cogumelo e estou com a nota fiscal. Enquanto nós falávamos, eu comprei um cogumelo para ter como prova de que, sim, estão vendendo cogumelo para um povo que já foi subjugado e mantido refém de uma história que nos condena a viver em 1500”, disse a deputada indígena. A Gazeta do Povo tentou contato com a deputada para verificar se a compra havia sido realmente efetivada, no entanto, não obteve retorno até o fechamento da matéria.

Na Loja do Isa, os cogumelos são anunciados com valores entre R$ 25 e R$ 39, por pacotes com 15 ou 30 gramas do produto inteiro ou em pó. Logo após a fala da deputada Silvia na CPI, a equipe da Gazeta do Povo verificou o site da Loja do Isa e alguns produtos, em especial os cogumelos, passaram a constar como indisponíveis para compra.

A Gazeta do Povo também tentou contato com a loja do Isa para questionar o Isa sobre as afirmações feitas pelo indígena à CPI e para verificar os motivos da indisponibilidade dos produtos, no entanto, não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para publicação do posicionamento do instituto.

Loja de ONG aponta que recursos da venda dos cogumelos yanomami são destinados às comunidades indígenas 

Em seu site, o Isa afirma que “os recursos provenientes da venda dos cogumelos são integralmente destinados às comunidades Yanomami produtoras”. O produto é apresentado como o resultado de um trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos entre o Isa e a Hutukara Associação Yanomami.

Em nota publicada pelo Isa em janeiro deste ano, a ONG se disse alvo de desinformação e reafirma que “toda a receita obtida é da Hutukara Associação Yanomami, que a reverte para seu povo”. A nota sugere também que “o Isa não obtém qualquer lucro com a atividade [da sua loja online]” e, ainda, que “não há correlação entre essa atividade e os casos de desnutrição na Terra Indígena Yanomami”.

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