Aproximadamente seis mil indígenas estão acampados desde a última segunda-feira (24) na Praça da Cidadania, localizada na área central de Brasília, próxima à Esplanada dos Ministérios. Eles fazem parte do 19º Acampamento Terra Livre (ATL 2023), que será encerrado nesta sexta-feira (28). Na tarde desta quinta-feira (27), a indígena Adriana Tremembé, representante da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince), criticou a falta de espaço para a voz de parte dos indígenas no evento e a utilização dele como “palco para políticos”.
A declaração foi feita durante o I Seminário dos Povos Originários no Congresso Nacional, que não faz parte da programação oficial do ATL deste ano. “Eu tô me sentindo muito mal. Na nossa ATL não tá tendo a oportunidade de nós, lideranças, poder nos expressar. A ATL está sendo hoje uma bancada de autoridades e nós só pra balançar cocar, só pra balançar maracá e aplaudir. Mas a voz do nosso estado do Ceará, não está saindo naquela plenária, naquela ATL”, criticou. A indígena afirmou que uma delegação de quase 300 indígenas do Ceará está em Brasília para acompanhar a programação.
“A nossa voz precisa ecoar dentro desses espaços e lá na nossa ATL eu não tô ouvindo isso”, afirmou Adriana Tremembé na sequência do seu discurso. A afirmação se opõe a uma das frases destacadas no site oficial do ATL que diz: “Entre os dias 24 e 28 de abril ecoaremos nossas vozes através do concreto, povoando o vazio do planalto central...”.
Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o acampamento é considerado a maior mobilização indígena do Brasil. Anualmente, indígenas de todo o Brasil vão à Brasília para participar de uma semana de programações que incluem rituais diários e marchas em direção ao Congresso Nacional. Neste ano, os povos indígenas cobram do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em especial, a demarcação de terras indígenas.
Falta de estrutura e de apoio
A liderança indígena do Ceará criticou também a falta de estrutura do evento. “Se for dessa forma, daqui uns dias, nós não vamos sair do nosso estado pra vir só balançar cocar pras autoridades que sobem ali. Viemos enfrentar uma dormida [sic] no chão, e enfrentar uns banheiros imundos e ninguém quer ouvir a nossa voz”, completou Adriana, no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, enquanto era aclamada com gritos e sons de maracás vindos de outros indígenas que acompanhavam a fala dela.
Ela foi sucedida por outros indígenas que reforçaram o seu posicionamento sobre o ATL. O cantor e compositor articulador cultural Gean Ramos Pankararu disse que se sentia contemplado pela fala da "parente" indígena do Ceará e completou: "quero deixar aqui o meu protesto contra a falta de espaço para expressão das artes e das manifestações dos povos indígenas no palco principal do ATL".
Darci Marulo, da Terra Indígena do Vale do Javari, localizada nos municípios de Atalaia do Norte e Guajará, no oeste do estado do Amazonas, disse que os povos indígenas "precisam de um apoio concreto, pra que não fique só nas falácias deste Parlamento, precisam de um apoio pontual".
O indígena do Amazonas destacou ainda que os "políticos têm que colocar o pé nas aldeias" e que os indígenas "não vieram para Brasília para ouvir políticos, mas para serem ouvidos".
A reportagem questionou a Apib sobre as afirmações em relação à falta de estrutura do acampamento. Se o posicionamento for enviado, a matéria será atualizada.
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