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Entrevista exclusiva

Informar que incêndios foram maiores com Lula é missão patriótica, diz embaixador em Paris

Luís Fernando Serra, embaixador
Luís Fernando Serra, embaixador do Brasil em Paris. (Foto: Marcos Oliveira (Agência Senado))

O embaixador do Brasil em Paris, Luís Fernando Serra, crê que a crise sobre a Amazônia entre o presidente da França, Emmanuel Macron, e o do Brasil, Jair Bolsonaro, tem a ver com um mal-entendido plantado pela imprensa.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Serra destaca os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), segundo os quais as queimadas eram muito maiores durante os mandatos de Lula (2003-2011) do que atualmente, e diz que a polêmica criada nas últimas semanas se deve à antipatia da imprensa por Bolsonaro.

Para o embaixador, o desejo de internacionalizar a Amazônia é real. Em sintonia com o presidente, ele diz que há um risco à soberania do Brasil e que "a Amazônia não é de todos".

Confira os principais pontos da entrevista:

Como a embaixada está reagindo à crise

"Estamos respondendo a todas as entrevistas, mandando um artigo de autoria do ministro [das Relações Exteriores] sobre a Amazônia e tentando dizer algo que os franceses ignoram: que as queimadas, os incêndios na Amazônia de 2003, 2004 e 2005, sobretudo de 2005, foram piores do que o incêndio atual.

Isso se deve ao fato de que esses foram os três primeiros anos do governo de Lula e, evidentemente, ele, como queridinho da imprensa, foi poupado. Não se soube que os incêndios tinham sido piores. Essa é uma missão que eu acho patriótica: informar que durante esses anos Lula os incêndios eram piores, e a imprensa se calou – porque era o Lula, e hoje ataca porque é o Bolsonaro.

Os jornais daqui se apegam muito a esse argumento: 'Não vamos falar de 2005, vamos comparar com o ano passado. O deste ano foi maior, portanto a culpa é do Bolsonaro.'

Outra coisa que eu tenho dito: ninguém acusou o Obama dos incêndios na Califórnia. Ninguém acusou o rei da Espanha dos incêndios nas ilhas Canárias."

Internacionalização da Amazônia

"Algumas pessoas aqui na França propõem veladamente a internacionalização da Amazônia. Eu pergunto: essas mesmas pessoas seriam capazes de propor a internacionalização da Sibéria? O amor deles às árvores deveria levá-los a esse esforço de internacionalizar todo lugar cheio de árvores. Esses mesmos franceses que insinuam que deveria haver uma internacionalização seriam capazes de propor algo semelhante ao Vladimir Putin? Evidentemente que não.

Quando o presidente diz que há um risco à soberania, é porque ele está vendo que há umas ideias de internacionalizar a Amazônia. Eles não vão apitar no nosso território. A Amazônia não é de todos, não é da humanidade. Os quatro milhões e meio de quilômetros quadrados que estão dentro das nossas fronteiras são do Brasil, assim como os 94 mil quilômetros quadrados de solo amazônico na Guiana Francesa são da França. Um tem quatro milhões e meio, outro tem 94 mil. Fazer o quê? O Brasil é grande. E incomoda."

O que vai acontecer daqui para a frente

"Eu acho que as coisas vão se acalmar. Não vai haver mais ofensas pessoais. Isso tudo vai passar. Os projetos que existem vão continuar sendo tocados.

A nossa história com a França é muito rica, muito densa. Com a França, nós temos relações mais completas que com qualquer outro país europeu. Além de nossas relações cobrirem todos os setores de um relacionamento bilateral, temos ainda a fronteira de 730 km entre o Amapá e a Guiana Francesa, os valores que nós partilhamos e o sentimento de admiração, respeito e afeto que unem brasileiros e franceses."

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