Inquéritos sigilosos da Polícia Civil do Estado de São Paulo apontam que o vereador e líder do PT na Câmara dos Vereadores de São Paulo, Senival Moura, é suspeito de integrar um esquema de lavagem de dinheiro ao PCC (Primeiro Comando da Capital), em troca do financiamento de campanhas eleitorais. Senival ainda é investigado pelo assassinato do empresário Adauto Soares Jorge, presidente da cooperativa Transunião Transportes. Os inquéritos foram obtidos pela Revista Crusoé.
Moura nega as acusações e, em junho, disse que faltam provas contra ele. O PT emitiu uma nota assinada por Laércio Ribeiro, presidente do Diretório Municipal do PT São Paulo, em que declara aguardar as investigações da Polícia Civil e que confia na palavra de Senival.
A investigação da Polícia Civil contou com a colaboração de um informante ligado a Adauto, que apontou a ligação da empresa com Senival e o PCC. A Transunião Transportes é prestadora de serviço de transporte público na Zona Leste da capital paulista, com um contrato junto à Prefeitura de São Paulo orçado em R$ 100 milhões.
Essa suposta ligação de Senival com o PCC teria se iniciado em 2002, com todas as campanhas políticas do parlamentar desde então tendo recebido verbas da organização criminosa.
Já o assassinato de Adauto, segundo o inquérito, teria sido encomendado pelo PCC devido a suspeitas de que o empresário teria instalado um esquema de caixa-dois dentro da empresa, com objetivo de financiar a campanha de reeleição de Senival à Câmara de Vereadores de São Paulo em 2020.
O ‘Tribunal do Crime’ do PCC teria sentenciado Adauto e Senival à morte, mas o vereador teria sido perdoado pela organização criminosa sob responsabilidade de encomendar o assassinato do empresário e abdicar dos rendimentos e participação na Transunião Transportes.
A Polícia Civil verificou que, além do depoimento do informante, imagens do local do assassinato de Adauto mostraram que o motorista do empresário teve participação no homicídio. Registros telefônicos de Senival apontaram que o vereador manteve contato com o suspeito durante o crime.
Delação de Marcos Valério também ligou PT ao PCC
Reportagem da revista Veja, divulgada na primeira semana do mês de julho, apontou que o ex-publicitário e pivô do Mensalão, Marcos Valério, delatou à Polícia Federal no âmbito da Lava Jato que o ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel havia produzido um dossiê sobre o financiamento de campanhas políticas pelo PCC.
A delação motivou o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) em protocolar o pedido de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar as denúncias feitas por Valério. Na quarta-feira, a Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados aprovou um requerimento do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), solicitando a presença do publicitário na Casa para explicar a suposta relação entre o PT e o PCC. Valério, porém, informou nesta quinta-feira que não deve comparecer à audiência, marcada para a próxima quinta (14).
Celso Daniel foi sequestrado e assassinado em janeiro de 2002, durante o segundo mandato como prefeito de Santo André pelo PT. Em dezembro de 2021, o Gaeco (Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado), do MPSP (Ministério Público de São Paulo), concluiu investigação sobre o caso e pontuou que “houve motivação política” no crime.
Ex-contador de Lula também é investigado por ligação ao crime organizado
O Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), órgão ligado à Polícia Civil, abriu investigação e solicitou o sequestro de bens de João Muniz Leite, ex-contador de Lula.
As investigações apontaram que Muniz Leite e a esposa venceram 55 vezes em loterias federais e que o contador teria repassado um prêmio de R$ 40 milhões a um integrante do PCC, Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, para quem também prestava serviços contábeis.
A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que Cara Preta teria utilizado parte do dinheiro repassado por Muniz Leite para comprar a empresa UPBus, também responsável pelo transporte público em São Paulo.
A UPBus, a Transunião e a Transcooper (empresa ligada ao irmão de Senival, o ex-deputado estadual Luiz Moura) têm em conjunto contratos no valor de R$ 600 milhões com a Prefeitura de São Paulo, todos feitos em uma licitação emergencial pelo órgão em 2017.
O que dizem Senival Moura e o PT?
Procurado pela reportagem da Crusoé, o gabinete de Senival Moura preferiu não se manifestar. Mas em discurso realizado no mês de junho, no plenário da Câmara dos Vereadores de São Paulo, o parlamentar negou as acusações.
“Operamos com a Transunião até o dia 4 de fevereiro de 2020. No dia 5 teria uma assembleia da empresa, e eu e o Adauto Soares Jorge fomos recomendados a não participar. Quando recebi isso, achei melhor ir embora. Nós criamos essa empresa, mas me desliguei. Há muito comentário, conversa fiada e nada de apresentar os fatos reais”, disse Senival no discurso.
Já o PT emitiu uma nota assinada por Laércio Ribeiro, presidente do Diretório Municipal do PT São Paulo, em que declara aguardar as investigações da Polícia Civil e que confia na palavra de Senival.
“Sobre as notícias veiculadas referente ao Vereador Senival Moura, o Diretório Municipal do PT da Capital confia na versão apresentada pelo parlamentar e irá acompanhar o desenvolvimento das investigações encaminhadas pela Polícia Civil Paulista. Confiamos na Justiça e esperamos celeridade e isenção, para que nenhum inocente seja considerado culpado antecipadamente e seja garantido o direito de ampla defesa e contraditório”, declarou o PT em nota divulgada no mês passado, quando o caso veio a público.
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