Em busca de ampliar a integração regional e trazer protagonismo internacional ao seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrou nesta terça-feira (24) sua primeira viagem à Argentina no novo mandato. Além da aproximação com os vizinhos da América do Sul, o petista tentou se contrapor ao seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao afirmar que o "Brasil está de volta" com a reinclusão do país ao bloco da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
"Ao longo dos sucessivos governos brasileiros desde a redemocratização, nos empenhamos com afinco e com sentido de missão em prol da integração regional e na consolidação de uma região pacífica, baseada em relações marcadas pelo diálogo e pela cooperação. A exceção lamentável foram os anos recentes, quando meu antecessor tomou a inexplicável decisão de retirar o Brasil da Celac. É com muita alegria e satisfação muito especiais que o Brasil está de volta", discursou o petista durante o encontro dos líderes Latino-Americanos e Caribenhos.
A Celac é um grupo composto por 33 países da região latino-americana e caribenha criado oficialmente em 2010. Além da coordenação política, econômica e social dos países, o bloco discute pautas como agricultura familiar, energia e meio ambiente.
Na avaliação de Lula, a integração dos países que integram a Celac é uma forma de fortalecer todo o bloco frente aos desafios socioeconômicos de cada região. Por outro lado, o presidente defendeu que a união entre os países não significa que devem se "fechar ao mundo", mas "unir forças".
"Temos de unir forças em prol de melhor infraestrutura física e digital, da criação de cadeias de valor entre nossas indústrias e de mais investimentos em pesquisa e inovação em nossa região", disse o presidente.
Lula usou viagem para fechar acordos de cooperação entre Brasil e Argentina
Durante a passagem pela Argentina, Lula assinou acordos de cooperação nas áreas de economia, saúde, defesa e ciência. O petista foi a Buenos Aires acompanhado pelos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Nísia Trindade (Saúde), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Márcio Macêdo (Secretaria Geral da Presidência) e Fernando Haddad (Fazenda), que formalizaram a assinatura dos acordos.
“Nossas universidades precisam estar mais próximas, porque uma boa relação não é só comercial, é também a relação científico-tecnológica, a relação cultural, e sobretudo a relação política. Quero dizer que estou de volta para fazer bons acordos com a Argentina”, disse Lula depois do encontro com o presidente argentino, Alberto Fernández.
Um dos atos firmados foi a “Carta de Intenções para o Projeto de Integração da Produção de Defesa Brasil-Argentina”, pelos ministros Mauro Vieira e Jorge Taiana, da Defesa argentina. Já as ministras da Saúde, Nísia Trindade e Carla Vizziotti, assinaram termo de cooperação bilateral em temas como pesquisas e vacinas.
Na área da ciência, dois atos foram assinados: o Programa Binacional de Cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação 2023-2024 e o Memorando de Entendimento entre Ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação sobre Cooperação Científica em Ciência Oceânica. Os chanceleres Mauro Vieira e Santiago Cafiero assinaram o acordo Antártica, que “impulsiona o desenvolvimento conjunto de planos, programas e projetos tecnológicos e científicos” para a Antártida, continente onde os dois países possuem bases e estações de pesquisa.
Já os ministros Fernando Haddad e Sergio Massa (Fazenda) assinaram o Memorando de Entendimento sobre Integração Financeira, que prevê questões como a diminuição da burocracia para as trocas comerciais e estudos para a implantação de uma moeda comum para substituir o dólar nas transações entre países sul-americanos. “O que estamos tentando trabalhar agora é que nossos ministros da Fazenda, com suas equipes econômicas, possam fazer uma proposta de comércio exterior e de transações entre os dois países em uma moeda comum, a ser construída com muito debate e reuniões. Isso é o que vai acontecer”, argumentou Lula.
Lula prometeu ajuda aos países vizinhos e acenou para ditaduras de esquerda
No país vizinho, o presidente brasileiro anunciou que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai voltar a financiar obras na América do Sul. Na avaliação do petista, os "países maiores têm que auxiliar os países que têm menos condições em determinados momentos históricos".
Entre os acordos, o banco brasileiro vai financiar o trecho do gasoduto para conectar a Patagônia argentina e o Brasil. “Vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente puder fazer para ajudar no gasoduto argentino”, disse Lula.
Além disso, a viagem de Lula à Argentina marcou uma guinada nas relações do Brasil com ditaduras como a da Venezuela e a de Cuba. A reaproximação com esses países ocorre depois de quatro anos desde o afastamento promovido pelo governo do ex-presidente Bolsonaro. O petista defendeu que haja um "carinho" com os regimes ditatoriais.
Na segunda-feira (23), o petista criticou a "ingerência" nas tratativas para a resolução dos problemas políticos da Venezuela e defendeu que o diálogo é a saída para que o país volte à normalidade democrática.
"Deveríamos ter duas coisas na cabeça. Primeiro, a gente permitir com muita tranquilidade que a autodeterminação dos povos fosse respeitada em qualquer país. Da mesma forma que eu sou contra a ocupação territorial que a Rússia fez na Ucrânia, eu sou contra muita ingerência no processo da Venezuela", afirmou.
Durante a gestão de Bolsonaro, a embaixada brasileira em Caracas, capital venezuelana, foi fechada pelo governo brasileiro. Lula, no entanto, pretende enviar uma missão ao país para retomar as relações com Maduro.
Sobre Cuba, Lula defendeu o fim do embargo econômico contra a ilha promovido pelos Estados Unidos há 60 anos. "Que se acabe o bloqueio a Cuba, que já dura mais de 60 anos sem nenhuma necessidade. Os cubanos não querem copiar o modelo brasileiro ou dos Estados Unidos, querem fazer o próprio modelo. E quem tem a ver com isso? Portanto, tem que tratar Venezuela e Cuba com muito carinho e, naquilo que pudermos ajudar a resolver seus problemas, nós ajudaremos", disse o petista.
Na próxima quarta-feira (25), Lula segue em viagem oficial para o Uruguai, onde se encontrará com o chefe do Executivo no país, Luis Alberto Lacalle Pou. O petista receberá um prêmio pela sua atuação em defesa do Meio Ambiente, entregue pela Intendência da cidade, e encontrará o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF