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O encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, foi convocado a prestar esclarecimentos sobre a deportação de brasileiros ao Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, nesta segunda-feira (27). Escobar é o responsável pela representação diplomática até a nomeação de um novo embaixador pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A intenção do Itamaraty é evitar novos incidentes em voos de brasileiros deportados do país.
O responsável pela Embaixada teve uma reunião com a secretária de Comunidades Brasileiras no Exterior e Assuntos Consulares e Jurídicos do Itamaraty, a embaixadora Márcia Loureiro. Na conversa, a diplomata reiterou o posicionamento brasileiro sobre a condutada "inaceitável" em que os brasileiros chegaram ao Brasil após deportação realizada pelo governo norte-americano.
A medida é vista como uma forma do governo demonstrar sua insatisfação sem criar uma crise com os Estados Unidos. Conforme revelou a Gazeta do Povo, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve tratar o tema apenas pelos meios diplomáticas, a fim de evitar um ruído maior com Trump que possa trazer desgastes internos ao petista.
O Brasil recebeu, no último sábado (25), o primeiro voo desde a posse de Trump com cerca de 160 pessoas deportadas dos EUA. A aeronave tinha como destino Belo Horizonte (MG), mas fez escala no aeroporto de Manaus (AM), após apresentar falhas técnicas. Os brasileiros estavam sendo transportados algemados e, após relatos colhidos pela Polícia Federal, o Ministério da Justiça determinou que a viagem fosse concluída em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
A questão do uso de algemas também foi tratada por Loureiro na conversa com o chefe da embaixada americana. A prática adotada pelos EUA já foi criticada pelo Brasil. O governo brasileiro tem solicitado que o procedimento seja substituído por um trato considerado mais digno e menos degradante. O pedido foi reforçado ao representante americano em Brasília nesta terça.
Após as denúncias de supostos maus-tratos durante a viagem, relatadas à PF pelos viajantes, o Ministério das Relações Exteriores afirmou, em nota publicada neste domingo (26), que o tratamento aos deportados brasileiros foi “degradante”. “O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas”, informou a pasta.
O transporte com algemas de deportados acontece desde 2021 e o acordo prevê a remoção a partir do momento que o avião entra em solo brasileiro.
Apesar da movimentação do campo diplomático, políticos próximos ao Planalto admitem que o Brasil não deve, por exemplo, conseguir uma mudança sobre o protocolo das algemas, usadas desde o governo Joe Biden, que era considerado um presidente mais próximo de Lula. Nos cálculos dos petistas, a estratégia de tratar a crise de forma interna tem como objetivo justamente evitar um embate direto com Trump, como o ocorrido na Colômbia.