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O Palácio do Itamaraty informou, nesta quarta-feira (3), que não foi avisado oficialmente sobre a vinda do presidente Javier Milei ao Brasil. O mandatário argentino vem ao país para participar da Conferência de Ação Política Conservadora, conhecida como CPAC, em Balneário Camboriú. O encontro reúne lideranças de direita no Brasil e, além de Milei, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também participa do evento.
É a primeira visita de Estado que Milei faz ao Brasil e o argentino não deve se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar das relações históricas entre Brasil e Argentina, ambos os mandatários ainda não se falaram. Desde que Milei assumiu a Casa Rosada, os dois presidentes tiveram apenas uma agenda em comum, a Reunião de Líderes do G7, que aconteceu no mês passado na Itália. No evento, eles apenas se cumprimentaram.
Havia a expectativa de que Lula e Milei pudessem se encontrar nos próximos dias, durante a Cúpula do Mercosul, marcada para os dias 8 e 9 de julho, no Paraguai. No encontro, Argentina e Brasil se reúnem com Uruguai e Paraguai — além de Bolívia e Venezuela, como membros convidados — para discutir o futuro do bloco. Lula confirmou sua presença no encontro, mas Milei recalculou a rota para vir ao Brasil.
O Ministério das Relações Exteriores não quis se pronunciar sobre as recentes farpas trocadas entre Lula e Milei, mas a secretária de América Latina e Caribe, Gisela Padovan, afirmou que "lamenta" a decisão do argentino e disse que a ausência de Milei na cúpula "não era desejável".
Na última semana, Lula afirmou em entrevista que não havia conversado com Milei porque o mandatário argentino não havia pedido desculpas por chamá-lo de "corrupto e comunista". Em resposta, Milei questionou: "desde quando é preciso pedir perdão por dizer a verdade?" Logo após a troca de farpas, o argentino cancelou sua ida à Cúpula do Mercosul e confirmou a vinda ao Brasil.
Gisela Padovan afirmou que a agenda de reuniões do Mercosul será mantida, bem como as discussões e as assinaturas de acordos, mas que "politicamente, é lamentável [que Milei não participe]". De acordo com a pasta, esta seria a primeira vez que um presidente ativo do Mercosul não participa de uma cúpula do bloco e envia uma representante - a chanceler argentina, Diana Mondino, representará o país no encontro.
Além de discutirem sobre novos acordos e o futuro das negociações do acordo de livre comércio com a União Europeia, a entrada da Bolívia deve ser chancelada na cúpula da próxima semana. Também será realizada a transferência de presidência do bloco do Paraguai para o Uruguai, que presidirá o Mercosul pelos próximos meses.