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Primeira-dama

Janja cria exército digital pró-Lula e gera ciúmes entre petistas

Primeira-dama Janja esteve com Lula durante visita ao presidente dos EUA, Joe Biden (Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto)

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Além do papel de primeira-dama, Rosângenla Silva – a Janja – tem buscado ocupar um lugar de destaque na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) através da comunicação nas redes e de encontros com a militância petista. Atualmente ela conta com um gabinete próprio no terceiro andar do Palácio do Planalto, mesmo piso da sala de Lula, onde costuma despachar diariamente com sua equipe.

Para ampliar a presença de Lula e do governo na internet, Janja investe em uma comunicação própria pelas redes sociais. Recentemente, por exemplo, a primeira-dama reuniu dezenas de influenciadores para um encontro com Lula no Palácio do Planalto.

Durante o encontro foi feita uma apresentação institucional do governo, com a seguinte agenda: "sua participação não acaba nas eleições –vamos povoar as redes; como disseminar informação e combater desinformação". Na lista dos presentes estavam nomes que apoiaram Lula durante a campanha depois de um movimento encampado por Janja para ampliar a presença do petista nas redes.

"Não ganharíamos as eleições se não fosse também o trabalho voluntário de influenciadores nas redes. E vocês têm um trabalho muito grande para seguirmos combatendo a fábrica de mentiras", escreveu Lula em seu perfil do Twitter após se reunir com os profissionais da internet.

Entre os convidados estava o representante do perfil "Choquei" do Twitter, que reúne cerca de 4 milhões de seguidores e costuma publicar informações positivas do governo. Lideranças do Planalto indicam que o governo vê como estratégica a interlocução com comunicadores e influenciadores como forma de se contrapor ao discurso da oposição.

Além da proximidade com os influenciadores digitais, Janja investe em conteúdo para os seus próprios perfis nas redes. A primeira-dama costuma fazer publicações quase que diárias de agendas próprias e ao lado de Lula para divulgar as ações do governo. No Instagram, por exemplo, ela já acumula 2 milhões de seguidores, atrás apenas do perfil do próprio presidente (12,7 milhões) e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que soma 2,2 milhões.

Campanhas publicitárias do governo passam pelo crivo da primeira-dama 

Além das redes sociais, a primeira-dama também atuou junto à Secretaria de Comunicação do governo para discutir as peças publicitárias ao longo deste ano. Entre elas está a campanha nacional de vacinação que vai contar com a apresentadora Xuxa Meneghel.

“Super parceria pela saúde dos baixinhos e baixinhas”, escreveu Janja nas redes sociais. O Ministério da Saúde adicionou: “Zé Gotinha ganhou a rainha dos baixinhos como aliada”.

Outra campanha que também contou com a participação de Janja foi a do "Disque 100", que tem como mote o combate a todas as formas de violação de direitos humanos, em especial em defesa de crianças e adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiências e pessoas LGBTQIA+.

Integrantes da área de Comunicação do governo, no entanto, afirmam que Janja não impõe suas opiniões, mas apenas faz sugestões pontuais sobre sua visão para cada tema.

Janja fez sugestões para Itaipu e para o novo Bolsa Família do governo 

Em outra frente, Janja também esteve reunida na semana passada com o deputado Enio Verri (PT), indicado por Lula para presidir a hidrelétrica de Itaipu. Na ocasião, o petista tratou de nomes para a composição das cinco diretorias da estatal. Entre as cotadas para uma das diretorias está Silvana Vitorassi, servidora de carreira de Itaipu e próxima da primeira-dama.

Janja tem relação direta com Itaipu, pois em 2003, durante o governo Lula, ela foi indicada para um cargo na hidrelétrica. Ela fez carreira desenvolvendo projetos ligados ao desenvolvimento sustentável e à inclusão social, onde seguiu até se aposentar em 2020.

Em outra frente, Janja também chegou a fazer sugestões para o novo Bolsa Família. O programa é conduzido pelo ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, que ouviu da primeira-dama propostas para atender mulheres e crianças em situação de rua.

Exposição de Janja provoca "ciúmes" dentro de quadros históricos do PT 

Além de contar com agendas e pautas próprias, a primeira-dama costuma ser figura presente em diversos eventos ao lado de Lula. Recentemente, por exemplo, Janja esteve ao lado de Lula durante o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Janja já disse em entrevistas se identificar com a argentina Eva Perón (1919-1952), que foi primeira-dama no regime populista de Juan Perón. Mesmo sem cargo oficial, Evita atuou como ministra de fato da Saúde e do Trabalho da Argentina durante o primeiro mandato de seu marido, entre 1946 e 1952.

A primeira-dama brasileira já tem um gabinete, que deve ser oficializado com o nome de "Gabinete de Ações Estratégicas em Políticas Públicas", mas não recebe salário para exercer a função. O objetivo do gabinete seria definir "ações estratégicas e transversais" do governo.

Mas, toda essa exposição tem gerado críticas internas por parte de algumas lideranças do PT, que se queixam da influência de Janja sobre as pautas de governo.

Integrantes da cúpula do partido minimizam dizendo que as queixas são meros "burburinhos" e reflexo do "machismo" entre alguns nomes da sigla que atuaram nos primeiros governos Lula.

Ainda durante a transição, integrantes do gabinete de Lula chegaram a reclamar que Janja teria menosprezado certos aspectos da posse presidencial, como envio de convites para vice-governadores e integrantes de movimentos sociais para o jantar no Itamaraty. As queixas, no entanto, foram rebatidas pela primeira-dama durante entrevista ao Fantástico, da Rede Globo.

"Houve machismo porque talvez a figura do Lula por si só se bastasse e agora tem uma mulher do lado dele, não que complemente, mas que soma com ele algumas coisas. Eu sou essa pessoa propositiva, que não fica sentada, mas que vai e faz", ressaltou.

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