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Após relatar ataques de petistas por causa da reportagem em que revelou encontros da “dama do tráfico amazonense” com secretários do ministro da Justiça, Flávio Dino, o jornal O Estado de São Paulo (Estadão) informou que estuda "ações legais em resposta à campanha de difamação promovida contra seus jornalistas".
No domingo (19), a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, usou as redes sociais para instigar a militância contra o jornal.
Na semana passada, o ex-BBB e ex-deputado, Jean Wyllys, pediu censura contra jornais que denunciaram o caso da dama do tráfico.
Até mesmo a editora do Estadão responsável pela publicação do conteúdo tem sido vítima de ataques de petistas nas redes sociais.
“A reação furiosa orquestrada nas redes sociais contra jornalistas do Estadão em nada diminui a qualidade da apuração da reportagem sobre as intimidades da dama do tráfico com altos funcionários públicos. Ela mostra apenas a incapacidade de certos setores de conviver com o jornalismo independente”, afirmou o diretor executivo de jornalismo do Grupo Estado, Eurípedes Alcântara, no domingo (19).
“Dama do tráfico” no Palácio da Justiça
De acordo com reportagem publicada pelo Estadão na semana passada, Luciane Barbosa Farias, conhecida como a “dama do tráfico amazonense”, integrante da facção criminosa Comando Vermelho, foi recebida duas vezes neste ano por assessores do ministro Flávio Dino, no prédio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em Brasília. As visitas acontecerem em março e maio deste ano.
O marido de Luciane é Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que foi o número um na lista de procurados pelo governo do Amazonas até ser preso em dezembro do ano passado. Eles estão casados há 11 anos e foram condenados em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa.
Atualmente, Clemilson cumpre pena de 31 anos no presídio de Tefé (AM), mas ela, sentenciada a dez anos, recorre em liberdade.
As visitas ao Palácio da Justiça aconteceram no início do ano, mas nos dias 6 e 7 de novembro Luciane voltou a Brasília para participar de um evento promovido pelo Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT), do Ministério dos Direitos Humanos (MDH).
As despesas de Luciene foram pagas pela Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos e estão registradas no Painel de Viagens, mantido pelo Ministério da Economia.
Em nota, o MDH afirmou que “o pagamento de passagens e diárias foi feito a todos os participantes de um evento nacional, com orçamento próprio reservado ao Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT) e cujos integrantes foram indicação exclusiva dos comitês estaduais".
Dino e governo chamam escândalo de “fake news”
Alvo de pedidos de impeachment após o escândalo, o ministro Flávio Dino se negou a demitir os secretários que receberam Luciane e acusou os jornais de publicarem “fake news”.
Em uma reação rápida logo após a publicação da reportagem, Dino disse que nunca recebeu integrante de facção em seu gabinete. Acontece que em momento algum o Estadão citou a entrada da Luciane no gabinete do ministro nem afirmou que ela teria sido recebida pessoalmente por Dino.
Na sexta-feira (17), Dino disse que o termo “dama do tráfico amazonense” foi uma invenção do Estadão.
O presidente Lula saiu em defesa do ministro e também classificou a reportagem como “fake news” supostamente plantada por adversários.