O jornalista e ativista português Sergio Tavares, detido por quatro horas no Aeroporto Internacional de Guarulhos no último domingo (25), quando desembarcou em São Paulo para acompanhar o ato pró-Bolsonaro na Avenida Paulista, disse ao programa Sem Rodeios, da Gazeta do Povo, que o delegado da Polícia Federal que o deteve teria lamentado ter que interrogá-lo e dito que não sabia ao certo o motivo de seu interrogatório. Tavares disse que o policial recebeu instruções "de Brasília" para questioná-lo sobre questões políticas. A versão incial da PF é que ele foi parado por uma questão de visto de entrada no país.
O jornalista usa canais nas redes sociais para criticar os excessos do Judiciário brasileiro, a obrigatoriedade de vacinas e outros temas caros à direita. Ele diz ser um defensor da liberdade na Europa e havia entrevistado o ex-presidente Bolsonaro no início do mês, quando começou a ficar conhecido no Brasil. Na ocasião, Bolsonaro disse que o Brasil vive uma ditadura.
A entrevista à Gazeta do Povo ocorreu ao vivo na tarde desta quarta-feira (28) com os comentaristas Cristina Graeml, Jorge Serrão, Marco Antonio Costa e o apresentador Guilherme Oliveira, no programa Sem Rodeios, veiculado no canal do jornal no Youtube. Veja aqui a íntegra do programa.
Tavares disse que enquanto estava detido no aeroporto, ouviu uma conversa do delegado da Polícia Federal ao telefone. "O mais surreal é que ele atende o telefone a poucos metros de mim na salinha ao lado onde eu consigo ouvir, onde ele no telefonema recebe as indicações e ele próprio escreve em um papel: 8 de janeiro, Flávio Dino, Alexandre de de Moraes, ditadura do judiciário, questão da vacina", afirmou o jornalista.
Sérgio Tavares disse ao Sem Rodeios que foi o único passageiro dentre muitos que desembarcaram em São Paulo na manhã do último domingo retido pela imigração, com a desculpa de que teria que prestar esclarecimentos sobre o seu visto.
A assessoria de imprensa da Polícia Federal foi procurada para comentar o caso mas não se pronunciou até a publicação desta reportagem. Não é possível verificar até o momento quem passou as instruções para o delegado e o significado das instruções terem vindo "de Brasília". Mas as informações mostram que não se tratou de um procedimento de rotina, como havia sido alegado inicialmente.
Tavares afirmou ter provas documentais de que o motivo de seu interrogatório não foi a validade do visto, mas sim por causa de seus posicionamentos políticos. Segundo a legislação brasileira, a polícia pode interrogar suspeitos por possíveis crimes cometidos e não por seus posicionamentos políticos.
De acordo com a PF, o jornalista precisaria de um visto de trabalho para fazer a “cobertura fotográfica de um evento” no Brasil, já que Tavares havia informado ter vindo ao país para cobrir a manifestação do domingo.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, “cidadãos da União Europeia que viajem ao Brasil para exercer atividade jornalística estão isentos de visto para estadas de até 90 dias, desde que a atividade não seja remunerada por fonte brasileira”.
Sérgio informou que veio ao Brasil como cidadão português, sem nenhum tipo de vínculo com algum órgão de imprensa de Portugal, e que mesmo assim não havia problemas com seu visto de turista, que estava na validade, e foi surpreendido durante o interrogatório porque não foi feita uma única pergunta sobre o documento.
O jornalista afirmou que foi orientado pelo advogado que o acompanhou a ficar em silêncio, para não correr o risco de cometer crime político.
Tavares disse que recebeu telefonema de Bolsonaro enquanto estava detido
O jornalista português contou ainda ao Sem Rodeios que quando estava sozinho na imigração, angustiado, à espera de que o buscassem para o interrogatório na Polícia Federal, foi surpreendido por uma videochamada no celular. Sérgio disse que tinha acabado de publicar no X (antigo Twitter), que tinha sido detido no aeroporto em São Paulo, e que já estava sem o passaporte, quando o telefone tocou e era Jair Bolsonaro. “Eu estava sozinho, angustiado, e depois disso aconteceu algo incrível. Tocou o celular e era Bolsonaro, ele disse para que eu mantivesse a calma”, contou.
Depois disso, Sérgio Tavares disse que ficou mais confiante, pois sabia que o mundo todo já estava a par do que se passava com ele, e passou a fazer atualizações nas redes sobre o interrogatório. Ele disse que tinha medo de ser colocado em um carro e simplesmente desaparecer.
Ao sair da PF, Sérgio disse que recebeu um documento que comprova o erro da Polícia Federal, que segundo ele "deu um tiro no pé", ao emitir uma comprovação de que seu interrogatório teve motivação política, e não burocrática, como alegado pela PF.
"Tenho um documento em mãos da PF brasileira que prova que mentiram e que a detenção foi ilegal, injusta e isso vai ter que ter consequências. Já muito se falou sobre o meu interrogatório no aeroporto, mas a PF fez um comunicado falando que foi uma retenção de rotina e que o interrogatório foi para me confirmarem o visto. Isso seria muito lindo se fosse verdade, acontece que é uma pura mentira e foram tão amadores a ponto de me dar a prova documental dessa mentira', disse o jornalista.
O jornalista deu a entrevista já de volta a Lisboa, de forma remota. Afirmou também que a imprensa lusitana "abafou" tanto o tamanho da manifestação pró-Bolsonaro, que reuniu centenas de milhares de pessoas no coração de São Paulo, quanto o incidente diplomático da sua detenção temporária.
Segundo ele, todo o material coletado no Brasil, com entrevistas do próprio Bolsonaro e de sua mulher, Michelle, além de depoimentos com os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO) serão incluídos numa matéria ainda a ser produzida, e que ele espera que terá repercussão em toda a Europa. O jornalista disse ainda que vai "às últimas consequências" para que todos saibam o que ocorreu com ele, e quem foram os responsáveis.
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