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José Dirceu defende reeleição de Maduro e diz que voto impresso é “inviolável”
José Dirceu comparou as acusações de fraude feitas pela oposição da Venezuela à postura de Bolsonaro, Trump e Aécio, quando foram derrotados.| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado.

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu afirmou nesta quarta-feira (31) que o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, saiu "vitorioso" nas eleições. Em nota, o petista disse que o voto impresso, utilizado no país vizinho, é "seguro" e "inviolável".

O político comparou as acusações de fraude feitas pela oposição da Venezuela à postura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do ex-mandatário dos Estados Unidos Donald Trump, e do deputado Aécio Neves (PSDB), quando foram derrotados.

A Venezuela realizou as eleições presidenciais no último domingo (28) em meio a denúncias de perseguição a opositores do ditador. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo regime chavista, anunciou a vitória de Maduro com 51% dos votos contra 44% de Edmundo González, principal candidato da oposição.

A oposição contesta o resultado, ressaltando que o órgão eleitoral não divulgou as atas. A desconfiança com relação ao resultado anunciado pelo CNE também foi expressada pela comunidade internacional.

"O presidente Nicolás Maduro foi proclamado o vitorioso nas eleições venezuelanas e cumprirá seu novo mandato. O discurso de desconfiança foi imediato, mas já vimos esse filme antes. Somos experientes em relação à alegação de fraude eleitoral perante a derrota”, disse o ex-ministro petista.

“Com Jair Bolsonaro foi assim, e antes dele Aécio Neves. Em comum a ideia de colocar o órgão eleitoral em suspeição e a própria urna eletrônica. Até Donald Trump apelou para a fraude”, acrescentou.

Dirceu defende voto impresso e órgão eleitoral controlado por Maduro

José Dirceu disse que o sistema eleitoral da Venezuela é “seguro e inviolável”, porque o “voto é impresso e depositado numa urna”. Ele apontou que há fiscais da oposição no Conselho Nacional Eleitoral (CNE). No entanto, o órgão eleitoral do país vizinho declarou a vitória de Maduro sem apresentar a contagem oficial dos votos.

Além disso, a principal testemunha eleitoral da Plataforma Unitária Democrática (PUD), Delsa Solórzano, denunciou que foi impedida de entrar no CNE para acompanhar a apuração dos votos.

“Não podemos fazer como setores da mídia brasileira, que parte do princípio de que Maduro não pode vencer, e se venceu é porque houve fraude. Precisamos aguardar a conferência das atas e não dar razão à oposição, muito menos às manifestações violentas”, disse o ex-ministro.

Há duas semanas, Maduro afirmou que os resultados das urnas eletrônicas do Brasil não são auditáveis. A segurança do sistema eleitoral brasileiro e a defesa da democracia foram alguns dos motes da campanha de Lula nas eleições presidenciais de 2022.

“Setores golpistas” e “interesses norte-americanos”

Na nota, Dirceu levantou suspeitas sobre a oposição venezuelana, dizendo que no grupo há “setores golpistas articulados a interesses norte-americanos”. Segundo ele, esses setores “apoiaram as sanções e o sequestro das reservas da Venezuela, isto é, violaram a soberania do país e da lei internacional”.

“Não dá para apontar fraude sem provar e sem a conferência das atas. Eis por que se posicionaram corretamente México, Colômbia e Brasil, a despeito de toda a gritaria da oposição venezuelana e do entusiasmo da mídia brasileira com a tese da fraude”, disse o político.

O governo brasilero aguarda a divulgação das atas eleitorais para se manifestar oficialmente sobre o pleito. O presidente Lula (PT) defendeu a apresentação das atas, contudo normalizou a situação política no país vizinho. Mais de mil pessoas foram detidas na Venezuela nesta semana nos diversos protestos em várias regiões do país contra o resultado das eleições.

Até a noite de terça (30), ao menos 11 pessoas morreram durante as manifestações, segundo quatro ONGs do país, segundo apuração da Agência EFE. Apesar disso, Lula disse estar “convencido” de que o processo eleitoral na Venezuela foi “normal” e “tranquilo”.

Retorno ao cenário político após condenação na Lava Jato

José Dirceu foi considerado uma das pessoas mais influentes na política brasileira no período em que comandou a Casa Civil no primeiro governo Lula. Mas foi preso durante o escândalo do mensalão, em 2013. Já em 2017, foi condenado pela 13ª Vara Federal de Curitiba, que conduzia os processos da Lava Jato, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-ministro foi preso em outras ocasiões durante a operação. Ele cumpriu parte da pena e, em 2016, o ministro Luís Roberto Barroso extinguiu a condenação do mensalão. Dirceu está em liberdade desde 2019.

O político retornou ao cenário político após ter parte das condenações anuladas ou declaradas prescritas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e com a volta de Lula ao Planalto. No início de 2023, Dirceu participou do aniversário de 43 anos do Partido dos Trabalhadores realizado em Brasília. Desde então, a legenda faz um movimento para reabilitar publicamente o ex-ministro.

Em abril deste ano, ele discursou na tribuna do Congresso em uma sessão solene do Senado em alusão aos 60 anos do início do período da Ditadura, em 1964. Essa foi a primeira vez em 19 anos que o político retornou ao Legislativo após sua cassação e condenação. Diante das decisões favoráveis do STF, ele já declarou que pretende decidir sobre sua possível candidatura em 2026 após consultar Lula e a direção do PT.

Veja a íntegra da nota de José Dirceu sobre as eleições na Venezuela:

"O presidente Nicolás Maduro foi proclamado o vitorioso nas eleições venezuelanas e cumprirá seu novo mandato. O discurso de desconfiança foi imediato, mas já vimos esse filme antes. Somos experientes em relação à alegação de fraude eleitoral perante a derrota. Com Jair Bolsonaro foi assim, e antes dele Aécio Neves. Em comum a ideia de colocar o órgão eleitoral em suspeição e a própria urna eletrônica. Até Donald Trump apelou para a fraude.

É preciso lembrar que, na Venezuela, o voto é impresso e depositado numa urna. Logo o sistema é seguro e inviolável. Há fiscais em todas as sessões e no órgão eleitoral nacional – o CNE – a oposição tem 3 membros. Não podemos fazer como setores da mídia brasileira, que parte do princípio de que Maduro não pode vencer, e se venceu é porque houve fraude. Precisamos aguardar a conferência das atas e não dar razão à oposição, muito menos às manifestações violentas.

É importante destacar ainda que na oposição há setores golpistas articulados a interesses norte-americanos, que apoiaram as sanções e o sequestro das reservas da Venezuela, isto é, violaram a soberania do país e da lei internacional. Em 2013, Henrique Capriles perdeu a eleição e creditou a derrota à fraude. Mas nunca apresentou provas. Não dá para apontar fraude sem provar e sem a conferência das atas. Eis por que se posicionaram corretamente México, Colômbia e Brasil, a despeito de toda a gritaria da oposição venezuelana e do entusiasmo da mídia brasileira com a tese da fraude."

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