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Articulação política

José Dirceu tenta retomar seu capital político por meio da campanha de Lula

O ex-ministro José Dirceu tem se movimentado nos bastidores (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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O ex-ministro e ex-deputado José Dirceu já se movimenta nos bastidores para tentar retomar a sua influência política por meio da campanha eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Integrantes do partido admitem que Dirceu tenta fechar acordos para a campanha de Lula, apesar de publicamente ele negar qualquer envolvimento nessas articulações.

À Gazeta do Povo, líderes do PT afirmaram que José Dirceu tem retomado os contatos com congressistas e endossado a defesa do nome de Lula para 2022. Apesar disso, o ex-ministro da Casa Civil nega que seja o articulador da campanha do ex-presidente petista.

“É natural que o Dirceu volte a se movimentar politicamente com a proximidade das eleições. Ele tem muitos contatos e tem influência – afinal foi ministro do Lula. Mas ele não é o articulador da campanha do presidente Lula. O ex-presidente é o próprio articulador da sua campanha”, disse um líder petista.

Dirceu nega atuação em nome de Lula ou do PT

José Dirceu tem sido apontado como interlocutor de Lula junto ao prefeito do Recife, João Campos (PSB). Mas o ex-ministro nega que esteja atuando em nome do líder petista ou do partido. “Não falo em nome do Lula, nem do PT”, escreveu o ex-ministro nas redes sociais. Também nas redes sociais, afirmou que “não vê João Campos desde antes da pandemia”.

João Campos é um dos mais resistentes dentro do PSB para que o seu partido faça uma aliança com Lula ainda no primeiro turno da disputa eleitoral do ano que vem. Apesar disso, o ex-presidente petista tem buscado lideranças próximas ao prefeito do Recife para amenizar a resistência ao seu nome. Filho do ex-governador Eduardo Campos (já falecido), João se mantém afastado dos petistas e chegou, até mesmo, a defender uma alternativa a Lula e Bolsonaro para as eleições presidenciais. PT e PSB se afastarem em Pernambuco após as eleições municipais de 2020.

“Talvez o Dirceu tenha tido alguma conversa com o prefeito de Recife de forma reservada, mas não em nome do PT. Ele ainda é uma pessoa que tem influência com muitas lideranças de esquerda, tanto no PSB, no PDT, PSol...”, afirma outro parlamentar próximo de Dirceu.

“Ele foi ministro da Casa Civil, então tem uma boa entrada no Congresso, principalmente entre os políticos mais antigos. Com a campanha do Lula, o Dirceu vai se movimentar até para recuperar o seu capital político. Ele tem dado entrevistas e até publicado artigos né?”, diz outro integrante do PT.

A expectativa é de que José Dirceu se mantenha nos bastidores pelo menos até o começo da campanha eleitoral do ano que vem. A avaliação de alguns parlamentares é que, apesar da influência, o ex-ministro ainda enfrenta resistências dentro do partido.

Ex-ministro retoma agenda de entrevistas 

Condenado por envolvimentos nos escândalos do mensalão e da Lava Jato, José Dirceu voltou a conceder entrevistas nos últimos meses para se defender das acusações e fazer afagos a Lula.

Recentemente, em entrevista à Rádio CBN Caruaru, de Pernambuco, o ex-ministro afirmou que "Lula é o único líder com experiência e legado neste momento". Para ele, o presidente Jair Bolsonaro "está arruinando o país em uma tragédia já humanitária".

Na entrevista, Dirceu também comentou sobre seu envolvimento em escândalos de corrupção. "Eu tenho duas condenações [referentes à Lava Jato]. Estão no STJ [Superior Tribunal de Justiça], para decisão do STJ. Etenho recurso do Supremo também. Eu fiquei 21 meses preso sem condenações de segunda instância. Não têm comparações de prova. Minhas prisões eram ilegais tanto que o Supremo Tribunal Federal me deu habeas corpus. Quero dizer a todos que fui preso estando preso. Eu estava cumprindo pena, que eu cumpri em regime fechado", disse Dirceu. O ex-ministro já cumpriu a pena ao qual foi condenado pelo mensalão.

Em outra frente, José Dirceu tem publicado um série de artigos nos quais critica a possibilidade de candidatura da chamada “terceira via”. “Em nome da coalizão de 2016 que deu o golpe contra a presidenta Dilma, deu início a uma operação para tentar derrotar Lula em 2022. Entre os exemplos dessa tática, está o fracassado ato convocado pelo MBL e incensado pela mídia corporativa, rapidamente abandonado para dar início, com todo peso midiático, à formação de uma opinião pública a favor de um anti-Lula batizado de terceira via para esconder seu verdadeiro objetivo”, escreveu o ex-ministro no site Poder 360.

Embora critica os atos contra Bolsonaro convocados pela direita não alinhada com o governo. José Dirceu tem participado das manifestações de rua dos movimentos de esquerda contra o presidente. “Temos uma imensa tarefa pela frente. Temos que insistir nas manifestações de rua. Nesse momento é necessário unir todas as forças políticas e sociais que se opõem ao Bolsonaro”, disse o petista.

Em São Paulo, Dirceu se reuniu com diversas lideranças sindicais, onde mobilizou os grupos para as últimas manifestações contra o governo. A expectativa, segundo líderes petistas, é de que mobilização do ex-ministro junto a esses grupos seja mantida para os atos de 15 de novembro.

Quem é José Dirceu 

Filiado ao PT, José Dirceu foi deputado federal por três mandatos e ministro-chefe da Casa Civil do governo do ex-presidente Lula entre 2003 e 2005. A pasta é a principal responsável pela articulação política entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.

Dirceu deixou a Casa Civil depois de ser acusado pelo então deputado Roberto Jeferson de ser o mentor do escândalo do mensalão. Já em dezembro de 2005 teve o mandato de deputado federal cassado por quebra de decoro parlamentar.

Em 2012, foi condenado a mais de 7 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pelo crime de corrupção ativa no mensalão. Ele chegou a ser preso para cumpriu a pena. Mas. em 2016, teve a pena extinta por um decreto presidencial de indulto natalino.

Já em 2017, Dirceu foi condenado a 23 anos e três meses de prisão por crimes de corrupção passiva, recebimento de vantagem indevida e lavagem de dinheiro no esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato. Em março de 2017, voltou a ser condenado a 11 anos e três meses pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. As penas somadas, no âmbito da Lava Jato, chegam a quase 40 anos.

Apesar da condenação, Dirceu foi beneficiado por um habeas corpus concedido pelo STF. A Corte entendeu que o ex-ministro pode responder ao processo em liberdade por haver chances de sua pena ser reduzida nos tribunais superiores. Dirceu nega as acusações e desde então a defesa recorre das sentenças junto ao STJ. Ainda não há previsão de julgamento.

Atualmente o ex-ministro está enquadrado na Lei da Ficha Limpa e teve os seus direitos políticos cassados. Por isso, não pode concorrer em eleições.

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