
A possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar a inconstitucionalidade das prisões após condenação em segunda instância fez com que um "fantasma" da história política brasileira ressurgisse na internet: o pedido de intervenção militar, sob o pretexto de "limpar" as instituições.
A ideia foi sugerida indiretamente em uma mensagem postada pelo filósofo Olavo de Carvalho em seu perfil no Twitter, na quarta-feira (16):
Um dia antes, o jornalista Allan dos Santos, editor do site Terça Livre, simpatizante do governo e com trânsito na família Bolsonaro, postou texto com teor parecido:
O AI-5 citado por Santos é o Ato Institucional Número 5, editado pela ditadura militar em 1968 e tido com o texto mais duro do regime. A norma cassou mandatos de parlamentares, impediu a eleição de governadores e prefeitos de capitais, e determinou a censura a produções culturais e jornalísticas.
Tanto Olavo como Santos, posteriormente, acabaram por publicar mensagens negando que haviam defendido uma nova edição do AI-5. O filósofo disse que o ato da ditadura foi aplicado justamente por não ter existido, na época, a "união de povo, presidente e Forças Armadas". Já o jornalista disse ser "burrice" a interpretação de que ele é favorável ao texto ditatorial.
Bolsonarista destaca eleição democrática, mas presidente defende regime militar
A mensagem de Santos renegando o apoio ao AI-5 foi endossada pelo deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), conhecido como Hélio Negão, um dos melhores amigos do presidente Jair Bolsonaro.
A conexão de Bolsonaro com o regime militar, entretanto, não é uma criação de forças oposicionistas ao atual presidente da República. Ao contrário: Bolsonaro ganhou notoriedade justamente por ser, por muito tempo, um dos raros políticos que defendia abertamente o sistema que governou o Brasil entre 1964 e 1985.
Bolsonaro mantinha fotos dos presidentes militares em seu gabinete quando era deputado federal, anualmente celebrava o aniversário do golpe de 1964 e um dos seus pronunciamentos de mais repercussão foi o da votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado por tortura durante a ditadura.
E um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deu no ano passado uma declaração controversa, ao dizer que "basta um cabo e um soldado" para fechar o STF.
Generais acirram o debate sobre intervenção militar
Outra postagem que acirrou os ânimos sobre intervenção militar foi a do General Villas Bôas, ex-comandante do Exército. Na noite da quarta-feira (16), o militar postou uma frase de 1914 de autoria de Rui Barbosa e escreveu "É preciso manter a energia que nos move em direção à paz social, sob pena que o povo brasileiro venha a cair outra vez no desalento e na eventual convulsão social".
Embora o texto não contenha nenhuma menção direta ao julgamento sobre a prisão em segunda instância e nem ao STF, a postagem acendeu o sinal amarelo por ter despertado a lembrança de uma mensagem marcante de Villas Bôas.
Em abril do ano passado, às vésperas de um julgamento no STF de um pedido de habeas corpus do ex-presidente Lula, o general escreveu: "Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais".
A última frase foi interpretada como uma espécie de "aviso prévio" de que a instituição poderia agir com uma intervenção militar caso o Supremo decidisse pela liberação de Lula. A tese da defesa do petista foi derrotada e Lula permanece sob custódia da polícia. Meses depois, em novembro, Villas Bôas disse que a sua postagem de abril se deu porque "nós conscientemente trabalhamos sabendo que estávamos no limite. Mas sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse".
Outro militar, o general Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, falou que o Supremo "não pode viver nesse limite perigoso, sem a consideração do povo brasileiro. Isso é um grande risco para o país em todos os aspectos. Nesse momento, compete ao STF a sua própria valorização".
Influenciadores digitais também abordaram assunto
Com mais de 328 mil seguidores, o operador do mercado financeiro Leandro Ruschel é uma personalidade influente entre os bolsonaristas, com postagens curtidas pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente e estrategista nas redes sociais.
Ruschel tem criticado a possibilidade de o STF impedir as prisões após a condenação em segunda instância e, em resposta ao tuíte do general Villas Bôas, escreveu: "Será que o General colocará ordem no Supremo novamente? Melhor que um cabo e um soldado, são alguns generais, não é mesmo?".
Também figura de destaque entre os militantes de direita, Claudia Wild, que é seguida por integrantes do governo Bolsonaro, disse que a "reação será enorme e as consequências imprevisíveis" caso o STF vote contra as prisões.
Oposição vê mais do que bravata nas falas sobre intervenção militar
"Não acho que seja bom a gente definir essas declarações no terreno da bravata". A avaliação é do deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), que faz oposição ao governo Bolsonaro. Na opinião do deputado, "o viés autoritário do governo é cada vez mais escancarado".
"O presidente se elegeu com, entre outros discursos, o de que evitaria que o Brasil se tornasse uma ditadura de esquerda. Mas o que estamos vendo hoje são muitas mostras de arbitrariedade e desrespeito à democracia. Os áudios que mostram ele interferindo na disputa pela liderança do PSL na Câmara são exemplos desse perfil autoritário", afirmou.
"Nós temos que mostrar nosso repúdio total a esse tipo de postura, com toda firmeza, toda clareza", acrescentou o petista.
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Sem tempo e sem popularidade, governo Lula foca em ações visando as eleições de 2026
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF