O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decide nesta quarta-feira (19) a taxa básica de juros.
Até pouco tempo atrás, o mercado esperava que a Selic fosse mantida nos atuais 6,5% ao ano até dezembro. Mas o último boletim Focus, produzido semanalmente pelo próprio BC, mostrou que agora a expectativa é de que a taxa diminua para 5,75% até o fim do ano – ainda que a redução não comece necessariamente na reunião desta quarta.
A revisão das projeções do mercado para a Selic está ligada às previsões para o desempenho da economia e para trajetória da inflação. A expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 diminui há 16 semanas e está em apenas 0,93%, segundo o mesmo boletim Focus. Ao mesmo tempo, o mercado vê a inflação em 3,84% neste ano, um tanto abaixo do centro da meta estabelecida pelo BC (4,25%).
Nesse raciocínio, a redução da Selic – que reduziria o custo de se tomar empréstimos no país – poderia ser um instrumento para reanimar a economia, estimulando investimentos e o consumo, já que não se veem riscos de uma disparada nos preços.
Mas será que essa mudança na política monetária poderia, de fato, reaquecer a atividade econômica brasileira? Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo foram unânimes: consideram que o cenário econômico do país envolve muitos outros fatores e que a redução dos juros, sozinha, não será suficiente para aumentar o ritmo da economia. Veja as explicações de cada um deles:
Falta confiança
Rafael Leão, economista-chefe da consultoria Parallaxis, afirma que, mesmo que se concretize, a mudança na Selic deve ser "pouco estimulativa".
Achar que a política monetária vai reativar a economia é um pouco de otimismo demais. Com as expectativas do PIB cada vez mais baixas, o curto prazo já está comprometido.
Rafael Leão, economista-chefe da Parallaxis
Ele aponta que uma redução nos juros, em tese, estimularia os investimentos por tornar o crédito mais barato. A falta de confiança, entretanto, deve frear o ímpeto de empresários, que não veriam possibilidade de aumento da demanda em um futuro próximo.
Consumidores endividados e descrentes
A descrença também tem impacto no consumo, já que as famílias não sentem confiança para assumir compromissos financeiros de longo prazo. Juliana Inhasz, coordenadora do curso de graduação em Economia do Insper, explica que os consumidores já estão muito endividados – e que, nesse sentido, uma queda nos juros pode até ser perigosa.
Mesmo que o custo para financiamento seja baixo, ninguém quer arriscar porque não vê um futuro muito bom. No caso do consumo das famílias, isso pode criar um problema ao estimular empréstimos entre pessoas já endividadas.
Juliana Inhasz, professora do Insper
Últimas reduções não fizeram efeito
O histórico no que diz respeito à taxa Selic e ao crescimento do PIB, além disso, não apresenta um bom prognóstico. Desde 2016 os juros vêm caindo gradativamente: em agosto daquele ano, a taxa estava em 14,25%. O atual patamar, de 6,5%, está em vigor desde março de 2018. Mesmo assim, o PIB brasileiro não vem reagindo – passando, inclusive, por períodos de retração, mesmo com a diminuição da Selic.
"Esta deve ser a pior década dos últimos 120 anos. Os dados e as projeções indicam que o crescimento vai ser menor do que 1% ao ano", diz Marcel Balassiano, pesquisador sênior do Instituto Brasileiro de Economia, vinculado à Fundação Getulio Vargas (FGV).
Questão também é política
O pesquisador da FGV aponta, ainda, que o grande problema macroeconômico do país em 2019 é fiscal – o que envolve, portanto, a realização de reformas importantes para o país.
As crises políticas e a falta de articulação do governo podem atrapalhar o andamento das reformas, o que cria um ambiente negativo para o mercado.
Marcel Balassiano, pesquisador sênior da FGV
E não é só a reforma da Previdência: mudanças no sistema tributário e político também estão no radar do mercado.
Há necessidade de outras medidas, que não são monetárias. É preciso melhorar o ambiente de negócios – e, sem isso, uma redução nos juros tem efeito muito pequeno no crescimento da economia.
Antônio Barbosa Lemes Júnior, professor de Finanças da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)